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Tia Iva: quem é a única mulher com lugar no banco de reservas na Copa

Iva Olivari, chefona da delegação croata, tem chamado a atenção

Por O Globo 11/07/2018 14h02
Tia Iva: quem é a única mulher com lugar no banco de reservas na Copa
Reprodução/Instagram

Entre meiões, chuteiras, calções e a tradicional camisa vermelha e branca quadriculada, ela se destaca em seu tailleur azul marinho, meia-calça cor da pele e scarpin preto. Seria praticamente impossível os olhares não se desviarem de Luka Modri? para Iva Olivari, a coordenadora da delegação da Croácia, nas comemorações das vitórias recentes sobre Dinamarca e Rússia. Enquanto a seleção croata busca fazer história e ser finalista do Mundial, ela já fez. É a primeira mulher a ocupar um assento num banco de reservas em uma Copa do Mundo de futebol masculino, com um cargo de chefia.

O caminho até ouvir o hino croata de pé, na beira do campo do estádio de Kaliningrado, na estreia da seleção contra a Nigéria, foi longo e cheio de percalços. Iva, de 59 anos, iniciou sua trajetória junto com o nascimento da Federação Croata de Futebol, após a independência do país da Iugoslávia, no início dos anos 90. Trabalhou em diversos cargos administrativos, sua formação após abandonar a carreira de tenista, aos 16, por causa de lesão no punho. Até chegar a um dos postos mais altos da entidade em 2012. Mas no Mundial do Brasil ela ainda ficou atrás dos panos. Ainda era cedo para colocar uma mulher ao lado da comissão técnica recheada de homens.

Como mulher num ambiente amplamente masculino, Iva sabe que causa estranheza seu lugar na seleção. Mas nunca se deixou abater pelos comentários sexistas que recebeu e recebe até hoje. Não por parte do seu ambiente de trabalho. Ela ressalta que na federação croata há mais mulheres do que homens, muitas delas em funções superiores. Fruto, segundo ela, do comando do presidente Davor Suker, um dos ídolos do futebol da Croácia, na chefia da entidade desde 2012. Foi ele quem a chamou para gerenciar a seleção.

— É um orgulho dizer que a federação, liderada por ele, dá todo o apoio à equidade de gêneros — disse Iva, que acredita que a educação recebida em casa a ajudou a superar o preconceito e a desconfiança. — Meus pais sempre nos criaram (ela e a irmã) com a crença de que podemos realizar tudo o que queremos, se formos fortes o suficiente e se formos persistentes no que fazemos. É assim que eu crio meus filhos até hoje.

A proximidade com os jogadores e sua função estratégica — ela é o Edu Gaspar da CBF — a colocaram no banco de reservas na Rússia. "Tia Iva", como é chamada carinhosamente por eles, conhece os atletas de longa data. Como trabalhou nas divisões de base, a maioria teve o primeiro contato com ela ainda na adolescência.

Hoje, além de todas as funções burocráticas como organizar viagens, vistos, credenciamento, jogos e treinamentos, ser o elo com a Uefa e a Fifa, ela tem o papel de conselheira dos jogadores.

— É uma pessoa maravilhosa, nosso anjo da guarda. A conheço há 10 anos e todos nós a adoramos — afirmou o goleiro Subaši?, em entrevista recente.

Rusgas acontecem, ela admite. Nem sempre todos estão de bom humor. Mas nada que estremeça o bom relacionamento entre eles.

— Todos eles são grandes estrelas do futebol, mas eles me respeitam. Nosso relacionamento é muito aberto e direto. Dizemos um ao outro o que temos que fazer e continuamos. Estou aqui para eles, tento ser discreta o máximo possível e eles sabem que podem confiar em mim. É um relacionamento que foi construído há muitos anos — conta.

Sob os holofotes nesta Copa — deu diversas entrevistas para meios de comunicação de todo o mundo —, ela sabe que, mesmo sem levantar bandeiras ou fazer parte de movimentos feministas, a sua presença no Mundial é um ato político em si. Iva tem recebido muitas mensagens de mulheres reconhecendo e parabenizando seu trabalho.

Lentamente, a mentalidade do mundo em relação às questões de gêneros está mudando, acredita Iva. Destaca o fato de a Fifa ter uma secretária-geral (a senegalesa Fatma Samoura, que ocupa o cargo desde 2016, eleita pela Forbes, neste ano, a mulher mais poderosa do esporte internacional).

— Mais e mais pessoas são capazes de aceitar ver mulheres no futebol, mesmo nas posições mais altas. Devido à popularidade mundial, o futebol é uma plataforma muito boa para promover a diversidade de todos os tipos, social, racial, sexual, e todos nós, independentemente do sexo, devemos nos esforçar para promover toda a igualdade.