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Exportação de jogadores triplica, mas futebol brasileiro reduz investimento

Por G1 Esporte 11/09/2018 09h09
Exportação de jogadores triplica, mas futebol brasileiro reduz investimento
Rener Pinheiro / CBF

O valor arrecadado com transferências de jogadores do Brasil para o exterior nunca foi tão alto. A janela do meio da temporada registrava R$ 818 milhões arrecadados com exportações até 15 de agosto, segundo números parciais divulgados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A quantia representa o triplo do que foi faturado pelos clubes no mesmo período do ano anterior, R$ 266 milhões. Mais do que em qualquer ano pelo menos desde 2016. E mesmo assim o futebol brasileiro dá sinais de que tem desperdiçado a maior parte deste dinheiro, em vez de fazer investimentos.

O indício mais claro está na contramão, ou seja, nos atletas comprados por clubes brasileiros vindos de fora do país. Num mercado com clubes financeiramente equilibrados, a alta na arrecadação permitiria que o dinheiro fosse reinvestido na contratação de melhores jogadores. No Brasil, onde os clubes estão afundados em dívidas, o reinvestimento fica muito abaixo do potencial. Até 15 de agosto deste ano, a CBF contabilizou R$ 158 milhões gastos por brasileiros em jogadores oriundos do exterior. Um valor 27% inferior ao que tinha sido registrado na mesma janela de 2017, R$ 218 milhões.


O Flamengo é um exemplo de clube que, após anos de reestruturação administrativa e financeira, consegue retornar parte da verba que arrecada com exportações em importações. A venda de Vinicius Júnior para o Real Madrid, por R$ 150 milhões, só foi registrada na janela de registro deste meio de 2017. Momento em que a transferência foi executada. A diretoria rubro-negra pôde então reinvestir cerca de R$ 43 milhões na compra dos direitos federativos e econômicos de Vitinho, que estava na Rússia.

A situação é diferente, e adversa, no Vasco. A diretoria cruzmaltina vendeu no meio desta temporada os direitos de Paulinho para o Bayer Leverkusen. A parte que coube ao clube, descontadas as fatias do empresário Carlos Leite e do próprio jogador, foi de R$ 56,6 milhões. O dinheiro foi todo consumido para pagar salários atrasados, empréstimos bancários, impostos e direitos de imagem devidos desde a temporada passada. Não houve sobras para que o clube reinvestisse na contratação de reforços.


O Santos compartilha do mau hábito. O clube praiano negociou Rodrygo com o Real Madrid neste ano por R$ 194 milhões, com quase a metade deste valor recebida nos mês de julho. A primeira parcela está toda comprometida por endividamento e despesas correntes do segundo semestre, como mostrou O GLOBO com base em relatório do Conselho Fiscal santista. A direção do presidente José Carlos Peres culpa as dívidas deixadas pelo antecessor Modesto Roma Júnior, entre elas uma dívida com o fundo Doyen que consumirá, numa única parcela, cerca de R$ 25 milhões em setembro.

Os números fornecidos pela CBF sobre as janelas de transferências funcionam como uma balança comercial. No futebol brasileiro, ela é historicamente positiva. Os valores obtidos com as exportações (saídas) estiveram acima das importações (entradas) em todos os anos. Se os orçamentos dos clubes estivessem ajustados, com custos calculados conforme as receitas ordinárias, sem considerar as vendas de jogadores, como fazem os europeus, o superávit na balança comercial poderia ser revertido em investimentos. Não é o caso.