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Prefeitos cobram reajuste em programas para compensar aumento do salário mínimo

Segundo eles, o governo insiste em reajustar o salário mínimo sem levar em consideração a capacidade de muitos municípios

Por Kelmenn Freitas com Gazeta Web 09/01/2019 10h10
Prefeitos cobram reajuste em programas para compensar aumento do salário mínimo
Hugo Wanderley, da AMA, destaca os benefícios do reajuste do salário mínimo, mas também pede compreensão do governo federal FOTO: RAFAEL MAYNART

O reajuste do salário mínimo – que saltou de R$ 954 para R$ 998, num aumento de R$ 44 – preocupa os prefeitos dos 102 municípios de Alagoas, que entoam um discurso que já se tornou comum em todo início de ano. Segundo eles, o governo federal insiste na prática de reajustar o salário mínimo sem levar em consideração a capacidade de muitos municípios brasileiros – a maioria de pequeno porte – em captar recursos, além de exigir das prefeituras contrapartidas para a manutenção de programas sociais idealizados pela União. A cobrança deles gira em torno principalmente da falta de reajustes nos valores que são repassados às prefeituras para viabilização dos programas sociais.

“O aumento do salário mínimo dá às pessoas o crescimento do poder de compra, além de permitir uma melhor distribuição de renda e reduzir a pobreza. Mas é importante salientar que, por outro lado, a receita dos municípios tem que crescer proporcionalmente”, destaca o presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Hugo Wanderley, que é prefeito de Cacimbinhas. “A medida pode causar problemas de caixa às prefeituras brasileiras, principalmente dos municípios pequenos, pois se o governo federal não fizer o reajuste necessário em seus programas, eles continuarão sendo subfinanciados e bancados pelos municípios, dificultando a gestão”.

Wanderley explica que as prefeituras, especialmente as de municípios de pequeno porte, têm um grande número de funcionários ganhando até um salário mínimo e meio, o que acaba impactando as despesas com pessoal, aumentadas progressivamente. “Os municípios serão pressionados a enxugar ainda mais os custos e cortar investimentos para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. No impacto das finanças públicas municipais, o reajuste também incide sobre as aposentadorias e benefícios sociais”, completa.

O valor representa um aumento de R$ 44 em comparação com o salário mínimo de 2018, e um crescimento de 4,61% no valor mínimo pago aos trabalhadores brasileiros. “Com essa mudança no valor, a economia nos cofres públicos municipais será de R$ 368 milhões. Se o salário mínimo passasse, de fato, para R$ 1.006, os benefícios previdenciários subiriam para R$ 2,397 bilhões”, sinaliza o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi.

A CNM ressalta ainda uma provável redução na expectativa de inflação, por conta do reajuste abaixo do estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido publicado pelo ex-presidente Michel Temer. Enquanto a valorização promovida nos últimos anos no mínimo aumenta a renda das famílias e poder de compra das pessoas, simultaneamente, ela gera impacto nos cofres municipais, segundo avalia a entidade. Isso porque o poder público municipal é o maior empregador do país. São mais de 6 milhões de funcionários nas prefeituras.

Vinculação salarial

Do total de servidores dos 5.568 municípios, mais de três milhões têm remuneração vinculada ao salário mínimo. “O impacto fica ainda maior quando se consideram todas as aposentadorias e benefícios sociais com piso no salário mínimo”, informa Aroldi. Além disso, o levantamento da CNM sinaliza impacto fiscal permanente, uma vez que é vedada qualquer possível redução nominal da remuneração.

A Confederação frisa também, anualmente, que o governo federal e o Congresso Nacional propõem e aprovam o reajuste, como por exemplo: na última década o piso nacional cresceu de R$ 415 para os atuais R$ 998. De 2013 até agora, o ano em que o mínimo teve o maior aumento foi em 2016, como R$ 92 de reajuste. Contudo, outra interferência direta da política de valorização é o crescimento das despesas com gasto de pessoal das administrações locais.

O maior problema, ainda segundo a entidade, é que as propostas não apresentam uma fonte de custeio para financiar o aumento e não dá espaço para nenhuma possibilidade de intervenção do gestor municipal. Apesar de o aumento ter sido inferior ao promovido em 2018, o valor causará impacto 159% maior do que o registado no ano passado. Desde 2003, mostra o levantamento da CNM, a política de valorização do salário mínimo acumula um impacto de R$ 38,645 bilhões na folha de pagamento das prefeituras.

Por lei, este ano termina a regra de a variação no valor do mínimo vinculada ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores, conjugado com o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), índice semelhante ao IPCA. Agora em 2019 também chega ao fim a validade da fórmula atual de correção, que começou a valer em 2012.

O presidente da República e sua equipe econômica devem apresentar nova proposta de reajuste para 2020 em diante. A previsão é de que isso ocorra até abril, quando o Executivo envia ao Congresso o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020. Confira o levantamento na íntegra aqui.