Municípios

Braskem extraiu o equivalente a três Maracanãs, afirma CPRM

Em audiência na Câmara Federal, pesquisador apresenta informações adicionais ao processo de afundamento em bairros de Maceió

Por Tribuna Hoje 08/11/2019 14h02
Braskem extraiu o equivalente a três Maracanãs, afirma CPRM
Reprodução

Serviço Geológico do Brasil (CPRM) afirmou que as atividades de mineração ao longo de quatro décadas retiraram sal-gema equivalente a três estádios do Maracanã. A informação foi passada nesta quinta-feira (7) durante audiência pública na Câmara dos Deputados em Brasília. Na sessão, a CPRM reafirmou a responsabilidade das atividades de mineração da Braskem no afundamento de bairros em Maceió.

“Nós calculamos através de uma modelagem 3D utilizando dados da empresa de mineração, em dois softwares de última geração com gente de expertise absoluta. Arredondamos para 10 milhões de metros cúbicos extraídos, o equivalente a 700 mil caminhões. E o que são 10 milhões de metros cúbicos? Três estádios do Maracanã cheios. O volume total das 35 cavidades é de aproximadamente três vezes o estádio do Maracanã. E o que são três estádios? É esse espaço que está lá embaixo. E esse espaço poderia estar preenchido, pressurizado? Sim. Mas as evidências mostram que não”, afirmou Thales Sampaio, coordenador do Serviço Geológico do Brasil.

Sampaio esclareceu diversos pontos que vinham sendo questionados pela mineradora acerca dos estudos desenvolvidos no bairro do Pinheiro e adjacências. “Com base em todos esses estudos, diálogos, conversas, discussões, tudo que vocês podem imaginar, chegou a conclusão de que está sim havendo desestabilização das cavidades de extração de sal, provocando halocinese, criando uma situação dinâmica com reativação das estruturas geológicas preexistentes, subsidência e ruptura em parte de regiões nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange”.

A apresentação fez parte da sessão inaugural da Comissão Externa criada para acompanhar a situação nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange em Maceió. Além de Thales Sampaio, participaram das apresentações o diretor-presidente do Serviço Geológico do Brasil, Esteves Pedro Colnago; e o presidente da empresa Braskem S.A., Fernando Musa.

Ao ser questionado pelo deputado federal João Henrique Caldas (PSB), que solicitou o debate, Thales Sampaio apontou que “não há dúvidas” da responsabilidade da Braskem.

“Tecnicamente, no português claro, o que você acabou de dizer é que a Braskem é a culpada? É isso que eu queria deixar claro, não estamos sentenciando ninguém. Estamos falando com base nas informações do relatório que podem ser contestadas. É um direito de questionamento”, indagou JHC.

“O fenômeno que está acontecendo nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e provavelmente no Bom Parto é resultado da desestabilização das cavidades de sal, que provocou halocinese [movimentação] algumas cavidades estão completamente fora da camada de sal. Eu não sei qual será o resultado dos demais sonares, mas a gente tem um histórico e verifica claramente que a nossa tese está completamente coerente, existem exemplos no mundo inteiro. A subsidência é provocada pela desestabilização das cavidade de sal, não temos nenhuma dúvida disso”, respondeu Thales Sampaio.

Ainda de acordo com o pesquisador são necessárias informações detalhadas sobre vários aspectos do processo para entender quais os efeitos e se há uma solução viável. “A partir daí para apontar soluções eu preciso do detalhe. Saber quanto houve de desestabilização, se essa desestabilização vai entrar num movimento dominó, provocando outras desestabilizações, se esse movimento está no final, se está no meio… Eu só posso saber disso se tiver os dados de subsuperfície. Mas não tenho nenhuma dúvida de que está desestabilizado, que está em subsidência e está escrito até pela própria empresa”.

Empresa promete estudos para o primeiro trimestre de 2020
 

O presidente da Braskem, Fernando Musa, iniciou a sequência de apresentações. Segundo ele, estudos complementares estão sendo realizados pela Braskem. A expectativa é de entrega dos laudos no início do ano que vem. Os estudos de sonares, segundo Musa, devem ser concluídos até o fim de dezembro.

“Nós seguimos nesse trabalho de análise. Muitos estudos e laudos estão sendo elaborados. Temos a expectativa de que a maior parte desses estudos se conclui ao longo do primeiro trimestre de 2020. E esperamos que, com esse maior entendimento do fenômeno que está acontecendo, comecemos a discutir soluções definitivas e concretas que possam ser implantadas no impacto que está acontecendo na superfície. Estamos realizando novos sonares em todas as 35 cavidades desde o fim de 2018. Esse processo tem expectativa de conclusão para o término do mês que vem, deve ser o último sonar realizado”, disse o presidente da Braskem.

Fernando Musa também negou a relação da atividade de mineração com o afundamento nos bairros. “A nossa visão, e dos técnicos que nos apoiam que é necessário entender melhor as causas para que se possa desenhar as soluções. Os nossos especialistas indicam que os mecanismos que estão causando os problemas no bairro podem ter origem complexa e múltiplas. Na visão dos estudos independentes que foram chamados a analisar o assunto o gatilho mais provável é o acúmulo de água de chuva e esgoto na superfície. Também avaliaram que existem inúmeras falhas que atuam e podem estar atuando como zonas de fraqueza de condição de fluidos, escorregamentos principalmente no bairro do Pinheiro”, detalhou.

“É preciso ser mais rápido”, diz vereador durante audiência

 

Segundo a Braskem, das 35 minas já operadas, 25 sonares foram concluídos. No entanto a empresa estaria encontrando dificuldades para a conclusão dos trabalhos. Segundo o vereador Francisco Sales, (PPL), presente na audiência pública, a empresa não estaria conseguindo “localizar” algumas minas.

“Estou perguntando isso, pois antes de vim a esta audiência tive um encontro na Agência Nacional de Mineração e sabe quantos poços não estão intactos: seis. E ainda temos a informação de que alguns a empresa não consegue localizar. Gostaria de saber quanto tempo mais será necessário para que a empresa assuma sua culpabilidade diante de tantas informações contestadas e comprovadas pela CRPM. É preciso ser mais rápido, já que se fala tanto em ser parte da solução, pois já tem mais de dois anos que os moradores sofrem com todos esses danos”, afirmou Francisco Sales.

Sales questionou ainda a instabilidade das minas. No entanto, segundo Fernando Musa, os 25 sonares concluídos até agora não haveriam apresentado problemas.

“Não consigo entender como a empresa afirma realizar esses estudos todos os anos e agora encontrar tantas dificuldades para localizar essas minas e realizar os sonares. Estão fazendo diversas coisas, inclusive destruindo nosso mangue com terraplanagem e não conseguem concluir esses estudos”, afirmou o vereador.

Para o deputado JHC, a audiência serviu para esclarecer pontos importantes. Segundo ele, os trabalhos devem seguir para viabilizar uma solução.

“A audiência superou todas as expectativas. As informações em primeira mão trazidas pela CPRM, o Serviço Geológico Brasileiro, foram contundentes em apontar a responsabilidade da extração do sal-gema como causa do afundamento dos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Da mesma forma, a Braskem, que se fez representar pelo próprio CEO, serviu para demonstrar a seriedade da Comissão. Agora realizaremos outras audiências com os órgãos de controle e outra in loco, em Maceió. O objetivo é a resolução rápida dessa situação, pra que se delimitem responsabilidades e a população seja indenizada”, afirmou JHC.