Política

Ministério dos preteridos: quem ficou fora do 1º escalão de Bolsonaro

Senador Magno Malta (PR-ES) encabeça lista de aliados esquecidos pelo presidente eleito na composição da Esplanada

Por Metrópoles 02/12/2018 14h02
Ministério dos preteridos: quem ficou fora do 1º escalão de Bolsonaro

A composição dos ministérios e cargos de primeiro escalão do governo Jair Bolsonaro (PSL) preteriu aliados e pessoas próximas do presidente eleito. O senador Magno Malta (PR-ES), o general da reserva Osvaldo Ferreira – este por opção própria – e o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) são alguns dos principais nomes especulados durante a campanha que não estarão na linha de frente do novo governo federal em 2019.

O caso mais emblemático é o de Magno Malta. Amigo de todas as horas de Bolsonaro e presença constante na campanha do candidato do PSL, ele chegou a ser convidado para compor a chapa presidencial como vice, mas recusou. Preferiu concorrer ao Senado pelo estado do Espírito Santo e acabou derrotado nas urnas. Malta esperava assumir o Ministério da Cidadania ou qualquer outra pasta, mas foi esquecido. Para essa vaga – tão sonhada por ele –, o presidente eleito escalou o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), anunciado na última quarta-feira (28/11).

Bolsonaro chegou a afirmar, em vídeo, que o amigo faria parte do governo. “Ele [Malta] estará comigo sim no Palácio do Planalto. Afinal de contas, é um grande homem e um grande valor”, disse o então candidato do PSL antes do segundo turno. Como presidente eleito, o pesselista cogitou criar o Ministério da Família para abrigar Malta, mas a intenção não se concretizou. Nessa sexta-feira (30), Bolsonaro afirmou que o aliado não estará em um ministério, mas “não vai ficar abandonado“.

O senador tentou emplacar seu nome a todo custo. No entanto, perdeu para a resistência dos militares, contrários à sua indicação. O vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, chegou a dizer que Malta era um “elefante na sala”. Os militares também reforçavam a posição de Bolsonaro se afastar de políticos derrotados e priorizar um governo técnico, sem o predomínio de indicações partidárias.

Aliado do presidente eleito e amigo de Malta, o pastor Silas Malafaia criticou a escolha de Terra. Malafaia cobrou Bolsonaro ao responsabilizá-lo pela derrota do senador capixaba nas eleições. “A única pessoa que pode responder por que o Magno não foi confirmado é o próprio presidente. Para mim, Bolsonaro disse três vezes que estava pensando em colocar o Magno no Ministério da Cidadania. Apoio integralmente o Bolsonaro, mas não vou concordar 100% com as ações dele. A unanimidade é burra”, disse Malafaia.

Ao todo, Bolsonaro anunciou 20 ministros. Ainda não se sabe com certeza o que ele fará com algumas pastas, como a do Trabalho, Direitos Humanos e Meio Ambiente. Mas na quinta-feira (29), começou a circular a informação de que Damares Alves, pastora evangélica e assessora de Malta, já estaria convidada para o Ministério dos Direitos Humanos e Mulheres: ela teria pedido prazo até a próxima terça (4/12) para dar sua resposta. Na sexta (30), Bolsonaro afirmou que Damares seria “um nome forte” para a pasta.

Amigos de longa data
Deputado federal e candidato a governador pelo Distrito Federal, Alberto Fraga (DEM-DF) conhece Bolsonaro desde a década de 1980. Ele também esperava um afago do futuro presidente após perder as eleições. Embora amigo do capitão reformado, pesou contra Fraga a condenação a 4 anos, 2 meses e 20 dias de prisão em regime semiaberto. Ele foi condenado em 1ª instância pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) por cobrança de propina no setor de transportes.

A repercussão negativa entre eleitores e com os filhos de Bolsonaro levou o presidente eleito a se silenciar sobre o amigo. Ao Metrópoles, Fraga disse que, enquanto não “resolver a vida na Justiça”, ficará de fora. “A minha sentença vai ser reformada, mas o estrago que fizeram na minha vida… Me tiraram o governo, que eu ganharia, e me tiraram de participar no governo federal. Agora, eu chegaria para um cara que é meu irmão [e pedir cargo]?. Em virtude dessa condenação, não tenho direito de falar [em assumir algum ministério]”, afirmou.

Eu vou ajudar no momento em que ficar livre [do processo]. Estou à disposição, esse é meu acordo com ele [Bolsonaro]. É a minha conversa com ele"
Alberto Fraga, deputado federal (DEM-DF)

General abriu mão de cargo
Nome importante na criação das propostas e plano de governo de Bolsonaro, o general da reserva Osvaldo Ferreira também ficou sem ministério. Ele acompanhou o capitão da reserva em todas as agendas externas nas primeiras semanas como presidente eleito, mas, aos poucos, deixou de comparecer aos eventos. Ferreira, no entanto, seguiu trabalhando na transição, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília.

Devido às circunstâncias internas e brigas políticas, o general Ferreira acabou recusando assumir qualquer ministério. De tom reservado, ele trabalhou em silêncio e ajudou a criar a estrutura de um superministério da Infraestrutura, que estaria ligado ao Palácio do Planalto e abraçaria as pastas dos Transporte e de Minas e Energia. Na quarta-feira (28), Bolsonaro anunciou Tarcísio Gomes Canuto para esta última, enquanto Ferreira não quis ficar com a dos Transportes.

Na formação desse primeiro time do governo Bolsonaro em 2019, outras figuras perderam o status ou ficaram de fora. Cotado a ministro da Agricultura, o presidente União Democrática Ruralista (UDR), Nabhan Garcia, perdeu o posto para Tereza Cristina (DEM-MS). Ele foi alçado então a secretário de assuntos fundiários, mas não como ministro.

Ao longo da campanha, Garcia esteve ao lado do candidato do PSL em diversos momentos, inclusive no dia da apuração do 2º turno, na residência do então presidenciável na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Teve o status “rebaixado”, mas ainda assim conseguiu entrar para o time.