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10 filmes que são refilmagens e você não sabia

Por Adoro Cinema 04/06/2018 15h03
10 filmes que são refilmagens e você não sabia
De repente pai

Hollywood está sempre em busca de boas - e lucrativas - histórias. Não importa a época: a indústria cinematográfica estadunidense sempre beberá de todas as fontes possíveis para encontrar sua próxima galinha dos ovos de ouro. Misturas (pífias) de analogias à parte, fato é que os produtores executivos de Los Angeles sempre lançaram um olhar para o passado e para as produções estrangeiras para encontrarem sucessos "inéditos" em seus remakes.

A onda das refilmagens, no entanto, não varre apenas os desejos dos engravatados de Hollywood; ao redor do mundo, inclusive no Brasil, obras estrangeiras e/ou clássicas tornam-se objetos de releituras, reinterpretações e modernizações - no entanto, ocasionalmente, os materiais originais se perdem a tal ponto que as obras derivadas se tornam mais conhecidas pelo grande público do que os filmes-base, principalmente quando se tratam das refilmagens hollywoodianas.

Assim, com o lançamento de Não Se Aceitam Devoluções, comédia estrelada por Leandro Hassum diretamente baseada no hit mexicano Não Aceitamos Devoluções, de Eugenio Derbez, o AdoroCinema decidiu preparar uma lista de 10 títulos que são remakes e você não sabia. Confira a seguir:

OS INFILTRADOS
O clichê de que o aprendiz sempre supera o mestre não é tão facilmente aplicável quando o assunto é refilmagem. A história da sétima arte, aliás, se parece com o inferno às vezes: cheia de boas intenções e de equívocos monumentais - geralmente, diga-se de passagem, gerados pela completa inadequação das adaptações estadunidenses para os materiais estrangeiros comprados por Hollywood. Mas, às vezes, é possível manter a essência ao mesmo tempo em que se dobram as apostas, algo que Martin Scorsese e cia. brilhantemente fazem em Os Infiltrados, remake do quase tão genial Conflitos Internos. E a diferença da interpretação ocidental para a trama de um criminoso que se infiltra na polícia e de um policial que se infiltra na gangue criminal reside justamente nas performances estelares de Leonardo DiCaprio, Matt Damon e Jack Nicholson; e no comando do cineasta de Taxi Driver, cuja enérgica direção faz nascer um drama de gângsters que só o próprio Scorsese poderia criar. Se Conflitos Internos ganha sólidos 8 pontos em uma escala de 10, Os Infiltrados marca um excepcional 9: isso que é uma dobradinha original-remake.

QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
O segredo da receita de um bom remake é o mesmo ingrediente especial com o qual são preparadas as boas adaptações cinematográficas, sejam elas de livros ou de quaisquer outras mídias: a tradução da essência. A maioria das refilmagens e adaptações falha porque seus diretores e roteiristas simplesmente falham ao tentar transpor literalmente o material original para o interior da obra derivada, copiando o que o predecessor fez sem considerar as particularidades da transição, seja ela uma alteração narrativa ou de idioma e cultura. E os gênios, nesse caso, são aqueles que conseguem enxergar potencial até mesmo em um fracasso. Billy Wilder sempre foi e será um dos titãs de Hollywood, mas não só por causa de sua inteligência visual ou do fato de que ele sempre conseguia extrair a melhor performance possível de seu elenco; no fundo, ele também era, provavelmente, o melhor roteirista de sua geração. Sua habilidade exemplar pode ser comprovada em Quanto Mais Quente Melhor, remake de Fanfares of Love (1951), um obscuro filme alemão - que, por sua vez, é uma refilmagem de um ainda mais obscuro filme francês dos anos 1930. Enquanto a trama original depende demais da caricatura para fazer piada com os dois músicos que se veem obrigados a se vestirem de mulheres para escaparem de um notório bandido, o clássico de Wilder infunde uma certa melancolia à narrativa que só aprofunda a comédia protagonizada por Jack Lemmon, Tony Curtis e Marilyn Monroe. Por causa da visão do cineasta, Quanto Mais Quente Melhor não só resgata uma obra mediana como também torna-se uma das mais essenciais, bem-humoradas e inteligentes produções de Hollywood.

DANÇA COMIGO?
Especialmente a partir dos anos 2000, época do boom do cinema asiático e, principalmente, do sul-coreano, Hollywood começou a prestar bastante atenção nas produções orientais. Prova disso é que os executivos de Los Angeles compraram os direitos de adaptação de inúmeras obras do lado de lá do planeta, cuja produção renderia fortes longas hollywoodianos - como O Chamado, remake do filme japonês homônimo - e outros nem tão inspirados assim - Spike Lee não foi o mais feliz dos realizadores com a versão americana de Oldboy, clássico da Coreia do Sul. No caso de Dança Comigo?, Hollywood enxergou que o rendimento exemplar da produção original poderia ser sinônimo de ainda mais dinheiro caso adaptada como uma dramédia romântica estadunidense estrelada por atores consagrados - o que provou ser uma aposta acertada, no fim das contas. Na verdade, o homônimo japonês do romance dançante estrelado por Richard Gere, Jennifer Lopez e Susan Sarandon foi um êxito financeiro tanto no Japão quanto nos Estados Unidos - onde a crítica foi mais generosa e entusiasmada com o original do que com o projeto dirigido por Peter Chelsom, que apesar das reações medianas, fez US$ sólidos 170 milhões nas bilheterias. De fato, a história do homem de meia-idade que decide reconquistar sua esposa e dar uma guinada em sua vida através da dança é tão bem-recebida internacionalmente que após a versão estadunidense, a trama ainda ganharia uma adaptação egípcia, em 2006.

SCARFACE
Frequentemente, o cineasta Brian De Palma é criticado por roubar demais de outros realizadores e por criar pouquíssimos materiais autênticos. Entretanto, enquanto é certo que o realizador de obras como Dublê de Corpo e Os Intocáveis deve muito à sua formação clássica, sendo diretamente influenciado por diretores tão diversos quanto Alfred Hitchcock, sua principal referência, e Sergei Eisenstein, De Palma não é um mero ladrão: ele é um dos mais inteligentes e talentosos do ramo. Assim, além de roubar aqui e ali - o que, em Arte, não é demérito algum - de seus cineastas favoritos, ele também desenvolve um estilo próprio, algo que fica claríssimo em sua obra-prima, Scarface. Além de atualizar a trama do clássico de Howard Hawks, lançado em 1932, desviando o foco da imigração italiana para o êxodo cubano provocado pela abertura do porto de Mariel, De Palma propõe questões interessantes em tela sem perder de vista a tragédia de seu protagonista, Tony Montana, eternizado pela frenética performance de Al Pacino. A decadência dos anos 1980, a espetacularização da violência e as tensões geopolíticas entre Estados Unidos e Cuba, ainda mal solucionadas: tudo isso e mais um pouco está presente em Scarface, um épico de gângsters extremamente técnico e mais do que bem-sucedido como refilmagem; vale lembrar, por fim, que a trama deve ganhar uma nova adaptação nos próximos anos, possivelmente sob a direção de Antoine Fuqua (Sete Homens e um Destino).

MENS@GEM PARA VOCÊ
Por mais que tenha caído em um injusto esquecimento nos últimos anos dentro do cenário cinematográfico em geral, o alemão Ernst Lubitsch (Ninotchka) é um dos mais importantes diretores que já trabalharam em Hollywood - afinal de contas, as comédias românticas não poderiam existir sem este realizador, que fugiu para trabalhar em Los Angeles após a depressão provocada pela Primeira Guerra Mundial e a subsequente ascensão do regime nazista de Adolf Hitler, durante os anos 1920. Considerado como um dos mais elegantes realizadores de todos os tempos em Hollywood e dono de um humor afiado, extremamente incisivo e sutilmente político, Lubitsch ganhou uma sobrevida na arena da atenção pública no final da década de 1990, quando Nora Ephron atualizou o influente A Loja da Esquina em Mens@gem para Você. E por mais que o remake estadunidense tenha seus problemas narrativos e não possa ser considerado um clássico, esta comédia romântica coestrelada por Tom Hanks e Meg Ryan como dois empresários concorrentes - ele responsável por uma mega livraria, ela por um empreendimento pequeno e local - que acabam se apaixonando apesar de tudo é uma homenagem bem-humorada, afetiva e doce à obra de Lubitsch.

POR UM PUNHADO DE DÓLARES
As relações e similaridades entre os chanbaras - como são chamados os filmes e as narrativas de lutas de sabres, majoritariamente entre samurais, no Japão - e os westerns sempre foram muito profundas. Assim como as obras orientais em questão, os faroestes também frequentemente capitalizaram sobre a figura do “lobo solitário”, do outsider, do forasteiro anti-heróico que surge como o único indivíduo disposto a corrigir violências e malfeitos e proteger os fracos e oprimidos, custe o que custar e doa a quem doer. Por isso, não é de se admirar que o western tenha, nos anos 1960, encontrado nos longas de samurai uma forma de perpetuar sua existência. E na verdade, dois clássicos do gênero bangue-bangue não teriam existido se não fosse pela obra de Akira Kurosawa, cujos Os Sete Samurais e Yojimbo - O Guarda-Costas inspiraram as refilmagens Sete Homens e um Destino e Por um Punhado de Dólares, respectivamente. No caso deste último, no entanto, o remake adentrou o território do plágio: como o lendário cineasta italiano Sergio Leone não creditou Kurosawa como autor da obra, o japonês foi obrigado a conseguir seu crédito como roteirista na justiça. De uma forma ou de outra, tanto Yojimbo quanto Por um Punhado de Dólares entraram para a história mitificando suas correlatas estrelas: Toshirô Mifune e Clint Eastwood.

PERFUME DE MULHER
Aproveitando que Pacino já surgiu em nossa pauta mais cedo, é hora de falar sobre o filme que lhe rendeu seu solitário Oscar. Sim, Perfume de Mulher é um remake, mais precisamente de seu homônimo italiano, lançado em 1974. A adaptação da história do colérico e divertido ex-militar cego, originalmente vivido pelo astro Vittorio Gassman, vencedor do Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes, é um dos melhores exemplos de como o estilo hollywoodiano pode diluir a potência de uma obra europeia. Para rodar sua interpretação do material base, o diretor e roteirista Martin Brest optou por utilizar diretamente o script original, coescrito e realizado pelo célebre Dino Risi (A Mulher do Padre); entretanto, para além de alterar significativamente o final, Brest cambiou por completo a essência original. Assim, o que anteriormente era uma comédia dramática igualmente hilária, mordaz, sóbria e melancólica, algo que só os italianos parecem ser capazes de concretizar, Perfume de Mulher tornou-se mais um exemplo de tradicional melodrama estadunidense. Não é uma questão de falta de qualidade, mas apenas que, neste caso, o herdeiro não faz jus ao tamanho e a relevância de seu predecessor. Pelo menos, Pacino ganhou sua merecida estatueta da Academia.

FOGO CONTRA FOGO
Dizem as más línguas que um cineasta só faz um filme em sua vida: todas as obras que produz são, em um grau ou outro, apenas uma variação temática de seu principal motor filosófico, de seu principal questionamento enquanto artista. E, ocasionalmente, os realizadores parecem tão dispostos a provar esta máxima que reinventam algumas de suas ideias mais queridas em remakes próprios de suas próprias obras do passado. Este é o caso de Alfred Hitchcock, que rodou O Homem que Sabia Demais em meados de 1930 e outra versão da mesma trama 20 anos depois, e de Michael Haneke com Jogos Perigosos, o original, e Violência Gratuita, o remake estadunidense de sua impactante produção. O especialista em gângsters Michael Mann (Colateral), por sua vez, decidiu ir mais fundo: após não conseguir emplacar Os Tiras de Los Angeles como uma série - filmado como um piloto televisivo, o telefilme não foi aprovado e foi lançado como um especial de TV em seguida -, o diretor expandiu o jogo de gato e rato entre um experiente policial e um genial criminoso para fazer história. Assim nasceu Fogo Contra Fogo, coestrelado pelos astros Al Pacino (campeão de nossa lista com três aparições) e Robert De Niro, um dos épicos criminais mais bem-sucedidos dos anos 1990. Às vezes, insistir vale muito a pena.

DE REPENTE PAI
De certo modo, De Repente Pai compartilha inúmeras similaridades com nosso Não Se Aceitam Devoluções. A trama estadunidense, protagonizada por Vince Vaughn, acompanha os passos de David Wozniak, um homem que precisa decidir se assumirá ou não a paternidade de boa parte dos filhos que ajudou a gerar via doação anônima de esperma para clínicas de fertilização in vitro. Assim, ainda que em uma escala muito maior, De Repente Pai também explora a mesma temática de Não Se Aceitam Devoluções: a paternidade inesperada e o difícil amadurecimento necessário para se tornar um pai. E além de serem comédias dramáticas, ambos os filmes também são remakes de obras originais extremamente bem-sucedidas. No caso de De Repente Pai, o material inicial é o hit canadense Meus 533 Filhos. Desde seu lançamento, em 2011, a trama já foi adaptada para três idiomas diferentes: além do inglês, Starbuck (título original) já ganhou releituras na Índia e na França. Estes casos de fórmulas de sucesso - leia-se: trama universais que funcionam com praticamente quaisquer plateias ao redor do mundo e com mínima necessidade de manutenção e/ou alteração narrativa - também podem ser identificados em produções como Coração de Leão e Um Namorado para Minha Esposa, ambas comédias argentinas que foram vendidas para diversos países e que já renderam algumas adaptações, como a francesa Um Amor à Altura e a brasileira Um Namorado Para Minha Mulher, respectivamente.

OS 12 MACACOS
Não é nada fácil se apropriar do conceito central de um dos curtas-metragens mais famosos e influentes de todos os tempos para expandir a temática em um longa hollywoodiano de suspense e ficção científica coestrelado por Bruce Willis e Brad Pitt. Por outro lado, Terry Gilliam também não é nada afeiçoado às tarefas simples - vide a infernal e impossível história de seu The Man Who Killed Don Quixote, que finalmente foi lançado em Cannes após passar 25 anos em produção. Em Os 12 Macacos, o diretor estadunidense-britânico resgata a trama de La Jetée, obra-prima do francês Chris Marker, para examinar a questão das viagens temporais. Mais interessado na questão da guerra e, obviamente, na ação do que na temática da memória, cerne filosófico do filme original, Gilliam transformou o material em seu e criou uma espécie de clássico cult que continua a dar frutos até hoje - vide a série inspirada em Os 12 Macacos. Além disso, a narrativa não-linear e muito baseada nos delírios do protagonista deu a chance para Brad Pitt entregar uma das melhores e mais surtadas performances de sua carreira.