Agro

Projeto transforma vida dos produtores rurais de Alagoas

O projeto trouxe de volta os alagoanos que tinham deixado o estado para fugir da seca

Por Sebrae Notícias 09/01/2020 15h03
Projeto transforma vida dos produtores rurais de Alagoas

Se uma palavra pudesse resumir os quatro anos de trabalho do Sebrae em Alagoas no Projeto Sertão Empreendedor, essa palavra seria transformação. Não só os agricultores familiares do Alto e Médio Sertão, Bacia Leiteira, Mata Alagoana e Agreste foram beneficiados com as ações do Projeto. Alguns dos frutos são: aumento de renda através do crescimento da produção; muitos aprenderam a ler e escrever; começaram a atuar coletivamente; melhoraram a qualidade de vida e de seus filhos, ocasionando o retorno deles de volta a Alagoas.

A proposta do Sertão Empreendedor foi promover a competitividade e sustentabilidade dos empreendimentos rurais no semiárido de Alagoas através do fomento à inovação, ao empreendedorismo e a difusão das tecnologias sociais, de produção, gestão e boas práticas de convivência com o ambiente.

No período de fevereiro de 2015 a março de 2019, focou nas atividades de apicultura, avicultura, bovinocultura de leite, caprinocultura e ovinocultura, desenvolvendo para cada uma delas uma versão adaptada da metodologia Balde Cheio para capacitação técnica.

Em termos de números, os resultados são impressionantes: 82% dos empreendimentos beneficiados com tecnologias de convivência com o semiárido implantadas, obtiveram 482% de aumento no faturamento, saindo do valor bruto de R$ 3.306,57, em 2015, para R$ 19.228,89, em 2019. Essas conquistas tiveram uma base de participação e adesão de 90% aos produtos e serviços ofertados pelo Sebrae, incluindo um crescimento de 113% na adesão às ferramentas básicas de gestão nos empreendimentos.

Contudo, o caminho até esse resultado foi de muito esforço. Pollyana Soares, analista da Unidade de Agronegócios (UAGRO) do Sebrae em Alagoas e gestora do projeto, relembra que, no começo, foi preciso recorrer às associações, cooperativas e sindicatos para ter acesso aos produtores da agricultura familiar. Outra dificuldade do cenário inicial havia o desconhecimento dos próprios municípios sobre a dinâmica, a evolução, nem a importância desta atividade para a cidade.

“Não sabia quanto gerava de emprego direto e indireto, de imposto, o quanto impactava na feira livre, quantas pessoas estavam ali com produtos diferenciados ou tinham potencial para fazer, mas não tinham oportunidade. No início foi necessário muito esforço, mas agora colhemos grandes resultados. Isso porque as pessoas entenderam qual era o propósito do projeto, entenderam que aprenderam com o pai e o avô, naquele formato rústico, não é mais adequado, não é um negócio”, ponderou Pollyana.

Como exemplo, a gestora do Sebrae apresenta um cenário muito comum no semiárido: o agricultor e sua família possuem vacas, cabras e galinhas na roça, mas não sabem exatamente o quanto faturam com cada atividade. Através das metodologias de gestão – Balde Cheio, Aprisco Cheio, Cordeiro de Peso, Favo Cheio e Papo Cheio –, a metodologia orienta cada produtor anotasse em um quadro ou até mesmo num caderno o valor do custo de cada atividade. O preço de compra do animal, da ração, dos remédios, incluindo a logística de venda e o custo de sua mão de obra. Muitos perceberam que estavam, na verdade, no vermelho.

“Muitos achavam que o negócio estava pagando as contas de casa, mas não era real e não gerava fruto. Mostramos que a viabilidade de uma ou duas atividades tinha como ser geradora de renda, mantinha ele no campo. Foram envolvidos m4embros da família que tivessem o interesse de continuar fomentando a vida no campo. Tivemos alguns entusiastas que aderiram logo no começo e os resultados positivos deles foram incentivando outros a entrarem no projeto”, explicou Pollyana.

Mas como pedir que, em um estado com 44% da população analfabeta ou semianalfabeta, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os produtores fizessem anotações sistemáticas? É aí que entram os resultados qualitativos do Sertão Empreendedor.

Transformador

Os agricultores tiveram necessidade de pedir ajuda à família para as anotações, ou até mesmo para guardar os recibos solicitados pelo técnico no momento das visitas, mas essa não era a solução ideal.

Aí entrou a parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senar) que promoveu a alfabetização de 900 jovens e adultos, em 12 municípios. Além da realização de 40 cursos de informática básica para 600 pessoas, como forma de promover a transformação digital da vida no campo.

“O Sertão Empreendedor veio de uma forma transformadora, porque veio com um novo viés, adaptando aquilo que os agricultores faziam. Veio mostrar que um papel, uma caneta e uma calculadora eram ferramentas essenciais para que eles continuassem no campo. E como é do próprio Sebrae, veio também as noções e conceitos de marketing, sobre divulgação das realizações que faziam, anunciar, procurar novos espaços para vender. Mexeu mesmo com as pessoas”, afirmou Renilmary Alencar, secretária de Agricultura de Poço das Trincheiras, município que se destacou dentro do projeto pelo engajamento de gestores e empreendedores.

Filha de agricultores, formada em Zootecnia e pós-graduada em Gestão Ambiental, o engajamento de Renilmary Alencar foi destacado por Pollyana Soares. “Os municípios de Poço das Trincheiras e São José da Tapera foram parceiros atuantes e buscaram inovar e transformar sua região, levando alternativas de renda e fomentando o homem no campo”, pontuou a analista do Sebrae.

Entre os destaques de Poço das Trincheiras estão a realização do primeiro Festival Gastronômico com produtos da agricultura familiar, a inauguração do Mercado Municipal da Agricultura Familiar para venda de mel e de vassouras, sendo estes frutos da ação de reciclagem montado dentro do Sertão Empreendedor – e que gerou emprego e renda para oito pessoas a partir do que antes era considerado lixo. Também ocorreu o aporte financeiro da Prefeitura como contrapartida para beneficiar 12 produtores da avicultura e ovinocultura com a contratação de consultorias especializadas.

“O Sebrae aqui é um sonho, sem exagero nenhum. Tivemos muitas consultorias e diversos momentos do Dia de Campo. Foi transformação de vida aqui no sertão!”, assegurou Renilmary.

Resultados por todo lugar

Os benefícios são vistos por todos os 21 municípios onde atuou o projeto Sertão Empreendedor.

Em Senador Rui Palmeira, a apicultura se desenvolveu tão bem que famílias mandaram retornar os filhos que haviam largado o sertão para tentar uma vida melhor na cidade grande.

Na cidade de Santana do Ipanema, os filhos de muitas mulheres avicultoras passaram a estudar em escola particular graças ao dinheiro que as mães ganham na produção. Esse cenário tem ocorrido nos outros municípios, gerando uma independência e fortalecimento do público feminino.

Em Limoeiro de Anadia, há uma produtora de caprinos com baixa escolaridade e que após a participação no projeto começou a auxiliar a Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) na produção de conhecimento referente ao seu trabalho. Dona Rosivânia Vieira recebe comitivas para aulas de campo em sua roça e tem um “caderninho” anotado com o nome de todos os estudantes que fizeram seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a partir de seu trabalho.

Aliás, o mesmo acontece em Senador Rui Palmeira. Após seu Eraldo vencer sua resistência e adotar os métodos da consultoria que o Projeto indica na criação dos carneiros. Agora ele participa de feiras de exposição com seus animais competindo com outros criadores na categoria de melhor carcaça. Enquanto isso, seu filho Henrique José é um dos nomes mais atuantes na mobilização dos jovens produtores referente à apicultura na cidade.

Em Taquarana, a Associação dos Agricultores Alternativos (AAGRA) conseguiu a abertura do mercado para o leite de cabra através de parceria com o Laticínio DaNata para beneficiar o leite em queijos e iogurte. Este foi o primeiro laticínio de leite caprino com o Selo de Inspeção Estadual – SIE.

Dentre outras transformações no ambiente é que os apicultores dos municípios de Senador Rui Palmeira, Piranhas e Olho d’Água do Casado estão preservando as espécies nativas do sertão para fornecer pasto apícola, fomentando ainda mais a criação de abelhas.

Quarenta avicultores de São José da Tapera uniram-se na Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar de São José da Tapera e Região (COOPCAF) e entraram de cabeça no associativismo. Alguns benefícios ocorreram e marcaram esse grupo de avicultores, como a aquisição da sede própria; fundaram a Casa do Agricultor para vender insumos a um baixo custo para o produtor; conseguiram recurso pela Agência de Fomento Desenvolve, do Governo do Estado, para estruturar a câmara frigorífica e para capital de giro na aquisição de insumos.

Por não possuir o Serviço de Inspeção Municipal – SIM, antes do Projeto Sertão Empreendedor, a cooperativa COOPCAF não vendia para o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA). Possuindo hoje o SIM, já está apta e comercializa para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) de São José da Tapera, Senador Rui Palmeira e Poço das Trincheiras. Com todos esses avanços, a cooperativa segue fortalecida com seus 102 cooperados.

Em todo o lugar, seja região da Mata Alagoana, Agreste e Alto e Médio Sertão, o Sebrae em Alagoas conseguiu fazer a diferença e promover mudança de vida através do Projeto Sertão Empreendedor.