Agro
Quais são as pragas que escondem as sementes da China?
Veja quais são esses fungos que podem afetar a agricultura brasileira
Nos últimos meses o mistério dos pacotes contendo sementes misteriosas vindas de países asiáticos, em sua maioria a China, chegaram para moradores de todos os estados brasileiros. As embalagens chegaram pelos Correios e levantaram diversas hipóteses sobre sua finalidade, desde ataque fitossanitário até a prática de brushing, quando empresas de comércio on-line enviam brindes como forma de melhorar seu ranqueamento junto aos clientes.
As amostras recebidas foram recolhidas pelo Ministério da Agricultura e analisadas pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Goiás (LFDA-GO), referência em sanidade vegetal. No começo de outubro uma análise preliminar mostrou que das 39 amostras em análise 1 amostra foi detectada com ácaro vivo e 2 amostras com bactéria; De outras 25 amostras 3 foram identificadas com fungos diferentes e de 17 amostras sequenciadas 4 delas têm possibilidade de pragas quarentenárias, provavelmente ervas daninhas. Também foram encontradas sementes de rosas, orquídeas e até limoeiro. Até aquele momento o país havia interceptado 33.700 amostras de sementes.
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Nesta semana uma nova análise em 36 amostras, das 525 recebidas, apontou que 47% delas continham pragas e doenças que representam risco real para a agricultura brasileira. Uma amostra continha a espécie Myosoton aquaticum, praga ausente no Brasil e com potencial para ser considerada quarentenária, ou seja, com risco de estabelecimento no país e de causar danos fitossanitários. A planta é resistente a herbicidas e considerada daninha nos campos de trigo da China.
Em quatro amostras foram identificadas uma outra espécie quarentenária ausente, a Descurainia Sophia, uma planta com flores considerada como daninha nas plantações dos Estados Unidos e Canadá, além de planta invasora no México, Japão, Coreia, Chile e Austrália.
Outras 15 amostras continham gêneros que tem espécies quarentenárias ou espécies com potencial quarentenário, como sementes de Cuscuta (planta parasita de hortaliças como a batata); de Brassica (também de hortaliças); de Chenopodium (seus diferentes gêneros atacam desde arroz, algodão, frutas e hortaliças); de Amaranthus (espécie que inclui o caruru). Também foram identificados quatro fungos: Cladosporium (afeta algodão, feijão e trigo); Alternaria (algodão, arroz, aveia, feijão, kiwi, maçã, mamão, milho, romã, sorgo, entre outros. Causa mancha de Alternaria); Fusarium (causador da fusariose em culturas como abacaxi e murcha de fusarium no feijão); e Bipolaris (causador da mancha-de-bipolaris-do-milho, mancha marrom em culturas de inverno como aveia, centeio, cevada, trigo, triticale, mancha parda em arroz e manchas foliares em capim-elefante).
“Elas podem conter plantas daninhas e plantas invasoras, que causam grande dano econômico, como também podem conter vírus, bactérias e fungos, que causam muitos danos. Temos exemplos de pragas que não existiam na agricultura nacional e que hoje causam muitos danos”, afirmou o superintendente do LFDA/GO, Arnoldo Daher Junqueira.
E as amostras continuam chegando. No Paraná a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) recebeu nesta semana mais três pacotes com sementes chinesas. As amostras chegaram em endereços de Arapongas (região norte), Cascavel (região oeste) e Vitorino (região sudoeste).
No estado também foram apreendidas nove plantas que nasceram das sementes. A primeira, que foi encontrada em Maringá, no dia 29 de setembro deste ano já foi avaliada e destruída em laboratório. Segundo o gerente de sanidade vegetal da Adapar, Renato Rezende Young Blood, a planta não está catalogada como uma espécie brasileira, mas aparentemente não oferece riscos à agricultura. O resultado dos laudos saiu esta semana. Os moradores que receberem os pacotes com sementes misteriosas podem deixá-los em alguma unidade estadual de agricultura. A recomendação é não abrir os pacotes, não plantar e não descartar no lixo.