Agro
Brasil demorará 30 anos para incorporar áreas aptas à irrigação
Atualmente, o setor cresce com base apenas em investimentos privados
O Brasil tem uma extensa área apta à irrigação, mas, no ritmo atual, o país demorará pelo menos 30 anos para ocupá-la. É o que afirma o professor Durval Dourado Neto, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo.
Atualmente, o setor cresce com base apenas em investimentos privados, mas falta uma política de estado, segundo ele.
Para verificar o potencial brasileiro e a formação de uma plano nacional de irrigação, Esalq, Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO-ONU), Agência Nacional de Águas (ANA) e o Ministério do Desenvolvimento Regional fizeram um estudo sobre o assunto.
O potencial de irrigação de áreas com alta aptidão e sustentabilidade no país é de 15,5 milhões de hectares. Essas áreas estão localizadas em terras planas, sem pedras e com fertilidade.
Dourado diz que o estudo leva em consideração aspectos econômicos, sociais, de geração de emprego e ambientais. A irrigação minimiza riscos, eleva a produtividade e garante sustentabilidade.
A irrigação entra em um contexto necessário para que o país eleve sua participação na oferta mundial de alimentos, uma necessidade já alertada pela FAO.
Em 2050, quando o mundo terá quase 10 bilhões de pessoas, o Brasil fornecerá alimentos para 2,3 bilhões, bem acima do 1,2 bilhão atual, prevê a FAO.
Uma das estratégias para atingir um volume tão elevado de alimentos é a agricultura irrigada, afirma o professor da Esalq-USP.
O potencial de irrigação no Brasil é de 53,4 milhões de hectares, segundo o estudo. Metade está nas áreas agrícolas e a outra metade nas de pastagens.
O grupo de estudo mapeou, no entanto, as regiões brasileiras com a melhor aptidão agrícola, levando em consideração solo, possibilidade de água, mão de obra especializada, infraestrutura, energia, capacidade de armazenamento e conectividade.
Com base nesses quesitos, a área mais apta para a irrigação seria de 15,5 milhões de hectares, 8 milhões no setor agrícola e 7,5 milhões no de pastagem.
Essa área se somaria aos 5,3 milhões atuais – 8,2 milhões se considerada a área de 2,9 milhões de fertiirrigação de cana.
Mantido o ritmo atual, o país teria 21 milhões de hectares em 30 anos. Sendo que há a possibilidade de pelos menos duas safras por ano, o potencial de área seria próximo dos 40 milhões de hectares.
A aptidão de área para a irrigação leva em consideração a oferta de água, a evapotranspiração e a demanda de culturas importantes, como soja, milho, arroz, feijão e cana-de-açúcar.
A demora na incorporação do potencial de área pelo país advém do lento ritmo atual. Segundo Dourado, o país incorpora de 220 mil a 250 mil hectares por ano. O potencial industrial de fornecimento de equipamentos é de apenas 500 mil hectares por ano.
Se não houver uma política pública para o setor, essa incorporação só virá em 30 anos, afirma. Alguns produtores, devido à burocracia, chegam esperar cinco para a liberação da irrigação.
Dourado participou nesta quarta-feira, 24, do seminário AgriTrop, promovido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e pela Embrapa.