Agro
Clima seco reduz estimativa para segunda safra de milho, aponta pesquisa
Estimativa de produção é de 65,3 milhões de toneladas
A etapa milho do Rally da Safra 2021 chega ao fim com uma estimativa de produção de 65,3 milhões de toneladas. Trata-se de uma queda de 900 mil toneladas desde que as equipes técnicas começaram a avaliar as lavouras de segunda safra, em 23 de maio.
Na época, o Rally foi para a estrada esperando encontrar áreas bastante prejudicadas pela estiagem que variava de 40 a 70 dias em algumas regiões. Os dados coletados em campo confirmaram essa expectativa e, também, trouxeram algum alívio. “Não parece haver muito espaço para quedas mais acentuadas”, diz André Debastiani, coordenador da expedição. “Não se descarta que, em algumas regiões, possam ocorrer até alguns ajustes positivos.”
De acordo com os dados que foram divulgados pelo Rally da Safra. a estimativa atual para a produção brasileira é 22% inferior à projetada em janeiro. Uma das particularidades desta segunda safra foi o plantio mais tardio da história, expondo grande parte da área a um risco climático elevado. A falta de chuva de março em diante cobrou um preço alto em algumas regiões. As produtividades médias são projetadas em 58,0 sacas por hectare no Paraná e em 54,5 sacas por hectare no Mato Grosso do Sul, as mais baixas desde 2008/09. Em relação à safra passada, as quebras também são expressivas em Minas Gerais (56,6 sacas por hectare, 41% abaixo da safra anterior), Goiás (67,8 sacas por hectare, queda de 35%) e São Paulo (60 sacas por hectare, redução de 18%).
Poderia, no entanto, ser pior. Com exceção do Paraná e do Mato Grosso do Sul, na maioria dos estados o desempenho das lavouras deve fechar a temporada em patamares superiores aos de 2015/16, outra safra marcada pela falta de chuva. Além disso, os resultados do Mato Grosso ajudam a limitar a quebra de produção. A estimativa para a produtividade média no estado é de 94,5 sacas por hectare – 14% abaixo da safra anterior, mas longe de ser um desastre. Não chegou a haver períodos de estiagem tão prolongados quanto em outras regiões, embora a chuva tenha sido irregular e mal distribuída. Existem ainda as exceções, nas quais o clima foi bem mais regular e os resultados podem ser considerados bons. É o caso de Rondônia, onde a estimativa de produtividade média é de 85,7 sacas por hectare, recorde para o estado. No MAPITO, as médias devem ficar um pouco inferiores às da safra passada, mas ainda assim as lavouras terão um bom rendimento.
Outro fator que ajuda a sustentar a produção é o crescimento de área. Os produtores mantiveram os planos de expansão e ampliação dos investimentos, motivados pelas boas condições do mercado. Com base nos dados do Rally e nas conversas com os agricultores, a estimativa de área plantada aumentou em 1,25 milhão de hectares em relação à safra passada, chegando a 14,7 milhões de hectares (9% a mais). A grande parcela do milho mais tardio foi até certo ponto beneficiada pelo retorno da chuva no fim de maio e em junho. Essas lavouras, no entanto, ainda precisam de chuva e, principalmente no Paraná e Mato Grosso do Sul, continuam sujeitas a riscos, caso ocorram geadas. Além disso, o desenvolvimento dessas áreas num período do ano em que os dias são mais curtos também pode prejudicar o enchimento de grãos – o que só ficará mais claro na colheita.
A alta infestação de cigarrinhas e pulgões em boa parte das regiões produtoras também exige atenção. Essas pragas aumentam o risco o risco de tombamento das lavouras e podem prejudicar a produtividade. Nas áreas que começaram a ser colhidas no Mato Grosso e em Goiás, porém, os danos têm sido menores, o que é um bom sinal. As muitas dificuldades desta temporada deixaram a segunda safra repleta de peculiaridades. As perdas de produtividade não são de modo algum uma boa notícia, mas as reuniões virtuais organizadas pelo Rally da Safra com os agricultores nas últimas semanas mostram uma tendência. “Os produtores rurais não demonstram estar abalados com os resultados atuais. A tendência de expansão de área e de ampliação dos investimentos e da tecnologia, que está aí há alguns anos, tem tudo para se manter na safra que vem”, diz Debastiani.