Agro
Pesquisa aponta possível alta de 30% nos preços do açúcar bruto em 2021 e sofre baixa em contratos
Segundo levantamento da Reuters, mercado sofre um revés de curto prazo após baixa produção
Uma pesquisa encomendada pela Agência Reuters apontou para uma possível alta, em 2021, nos preços do açúcar bruto, na ordem de 30%. A valorização levaria em conta, dentre outros fatores, a baixa produção da commodity em importantes players mundiais, como o Brasil, que enfrenta uma severa crise climática, com seca recorde em importantes regiões produtoras da cana-de-açúcar, além de fenômenos adversos, como geadas sucessivas em algumas áreas.
Na sexta-feira (20) o açúcar bruto fechou em baixa na ICE, de Nova York. Os contratos com vencimento outubro/21 foram contratados a 19,58 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 21 pontos, ou 1,1%, no comparativo com os preços da véspera. Já a tela março/22 desvalorizou 16 pontos, negociada a 20,25 cts/lb. Os demais contratos caíram entre 10 e 20 pontos.
Segundo a Reuters, operadores disseram que o mercado estava sofrendo um revés de curto prazo depois de subir para uma máxima de quatro anos e meio de 20,37 centavos de dólar na terça-feira, "mas permaneceu sustentado por perspectiva de baixa produção no centro-sul do Brasil nesta temporada".
Açúcar branco
Em Londres a sexta-feira também foi de baixa em todos os lotes do açúcar branco. No vencimento outubro/21 a commodity foi contratada a US$ 483,50 a tonelada, recuo 11 dólares no comparativo com o dia anterior. Os demais lotes recuaram entre 1,50 e 8,10 dólares.
Açúcar cristal
No mercado doméstico a sexta-feira também foi de baixa no açúcar cristal medido pelo Indicador Cepea/Esalq, da USP. A saca de 50 quilos foi negociada a R$ 133,41, contra R$ 133,91 da véspera, desvalorização de 0,37% no comparativo.
Análise
Em sua análise semanal dos preços do açúcar, o diretor da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa destacou que "ninguém quer açúcar para entrega física em outubro e aqueles que estão posicionados na compra/recebimento apressam-se em liquidar a posição ou rolar os futuros para o vencimento seguinte na esperança de dias melhores".
Segundo Corrêa, um mercado que propagandeia uma safra reduzida de cana e o perigo de faltar açúcar, como pode explicar um spread tão fraco? Mercados com crítico problema de disponibilidade tendem a se inverter. No caso nosso, as peças não se encaixam. Mas a gente assiste a tudo sem entender nada.
"Traders experientes apontam que a questão é um pouco mais complexa do que simplesmente olhar os números frios do spread. Os altos preços do frete internacional -- dizem - distorcem o basis (o valor do açúcar no mercado físico menos o preço dele no mercado futuro) e reduzem (quando não extinguem) a margem de lucro das tradings, que tentam empurrar o recebimento de açúcar que seria entregue agora pelas usinas para 3-4 meses adiante, mesmo que pagando prêmio (ouvimos 45-50 pontos no mercado) para isso", destaca o diretor da Archer.
Outro ponto destacado por Arnaldo Luiz Corrêa é o por que sobe tanto o preço do açúcar no mercado futuro: "Bem, os fundos aumentaram ainda mais a posição comprada e pelo número divulgado na sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na terça passada em relação a anterior, eles adicionaram 7,600 lotes, ampliando a posição total para 256,600 lotes comprados (equivalentes a mais de 13 milhões de toneladas de açúcar)".
"O mercado global está fugindo do risco: a China apresenta desaceleração (crescimento de 8.5% contra 8.7% há um mês), aumenta a preocupação da variante delta da covid-19 em vários países (hospitalização em Israel subiu ao nível de março), diminui o apetite dos bancos centrais para injetar mais dinheiro nas economias. Mas, o açúcar em NY continua em alta. Vai entender", pontua o economista.