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Nordeste apresenta 1,81% de crescimento na produção de leite entre 2018 e 2021

O crescimento foi constatado nos nove estados, sobretudo nas regiões do Sertão e em parte do Agreste

Por Redação* 19/01/2023 14h02
Nordeste apresenta 1,81% de crescimento na produção de leite entre 2018 e 2021
Produção de leite no Nordeste, ao contrário do Brasil, cresce 1,81% entre 2018 e 2021 - Foto: Reprodução/Internet

Evoluindo na melhoria da qualidade e produtividade, hoje, o nordeste se apresenta como uma das regiões que mais cresce na produção leiteira. Mostrando um aumento de 1,81% entre 2018 e 2021, ao contrario do Brasil, a região mantém o seu rebanho ainda em crescimento, mantém o número de produtores de leite em atividade e mantém o aumento médio da produção de leite nas propriedades. Por fim ainda consegue significativo aumento da produtividade.

Em algumas regiões o aumento não é apenas no número de produção de leite, mas também do número de produtores, diferentemente de quase todas as demais regiões brasileiras.

Em material divulgado no site Terra Viva, são apresentados alguns fatores que explicam na maioria das vezes essa situação, delas:

-No Nordeste em geral, particularmente nas regiões do polígono da seca, denominado “sertão”, a agricultura familiar e de pequenos produtores é forte e predominante. O produtor de leite nessa região depende em grande parte da receita mensal do leite para sua sobrevivência.

-Em 2021 a produção de leite segundo o IBGE alcançou 5.585.067.000 de litros (cerca de 70 % dessa produção se dá no Sertão, menos na região do Agreste que é menos seco, e pequena parte na Zona da Mata (onde predomina o cultivo de cana-de-açúcar). Essa produção considerando a população de 57 milhões habitantes do nordeste, em 2022, são em média 97,98 litros per capita. A média de disponibilidade a nível nacional é de 162,2 litros per capita.

-O sertão, é a região mais castigada historicamente pelas irregularidades nas médias anuais das precipitações pluviométricas. Porém, nos últimos 2 anos a região sertaneja se beneficiou de um ciclo de chuvas mais regular, sendo esse um dos fatores importantes para a atual fase de sucesso da pecuária leiteira no sertão.

-Mas o fator estrutural mais importante é a cultura que se formou entre os produtores na técnica do cultivo da produção da palma forrageira, aliado à sabedoria prática de seu manejo e do seu uso para a alimentação do rebanho. Uma cultura que se formou em dezenas de anos, hoje fator reconhecidamente estratégico para a produção de leite em todo semiárido.


Preparação da ração de palma forrageira.

-Com o crescente apoio de universidades, centro de pesquisas, assistência técnica seja privada ou pública, voltado ao fortalecimento da atividade produtiva de palmas em todas as direções que se mostram importantes, do plantio até o seu uso, passando pelo desenvolvimento de novas variedades, mais resistentes à praga, sobretudo em relação a proliferação do inseto “cochonilha”, que há alguns anos quase dizimou a cultura da palma forrageira no sertão.

-No passado, a palma foi introduzida no Nordeste vindo do México, para ser usada como meio de cultura para o desenvolvimento da cochonilha, inseto que ao inocular a palma se reproduzia e de sua escama originava uma tinta vermelho-sangue que foi determinante para a indústria têxtil, assim foi no mundo e nordeste do Brasil. Muito usado para a produção de corantes para tecidos. Com o tempo essa prática foi substituída por corantes químicos. A cultura da palma passa por grandes evoluções, inovações em seu manejo, novas espécies, resistentes à cochonilha, sempre visando a palma como uma forrageira destinada à alimentação de animais ruminantes, inclusive chegando até mesmo a uma variedade sem espinhos, o que traz enormes vantagens para seu manuseio.

-A palma pode substituir parte, com vantagens e eficiência, do uso de ração concentrada na dieta dos animais, o que é importante visto que a região onde mais se usa a palma, o Sertão, é a maior produtora de leite do Nordeste, mas não é autossuficiente na produção de caroço de algodão; milho, soja que são reconhecidamente produtos usados em larga escala em outras regiões brasileiras, para produção leiteira.

-Há excelentes e oportunos trabalhos em andamento a respeito da importância da palma como substituto parcial de concentrado na alimentação de vacas leiteiras em dieta suplementada com óleo de soja. Além da economia gerada pela redução do uso de concentrado, Gama e colaboradores* mostraram que o uso da palma associado ao óleo de soja na alimentação das vacas aumenta, entre outros, a concentração de ácido linoleico conjugado (CLA) na gordura do leite resultante, contribuindo assim também para a qualidade nutricional do produto e de seus derivados. O que é grande contribuição a nutrição humana. *Gama, Marco A S et al. “Partially replacing sorghum silage with cactus (Opuntia stricta) cladodes in a soybean oil-supplemented diet markedly increases trans-11 18:1, cis-9, trans-11 CLA and 18:2 n-6 contents in cow milk.” Journal of animal physiology and animal nutrition, vol. 105, 2 (2021): 232-246. doi:10.1111/jpn.13466.

-O crescente uso de tourinhos mais especializados, aos poucos em processo de substituição pela inseminação artificial, mais recentemente, por sua vez, começa a ser potencializado a evolução genética, pelo uso de transferência de embriões por meio do processo de fertilização in vitro (FIV);


Aprimoramento genético e consumo da palma.

-Crescimento do número de produtores de leite;

-Crescente uso de tanques de refrigeração comunitário ou individuais paralelamente com o aumento de uso de caminhões com tanques isotérmicos para a captação do leite nas propriedades; Análise da qualidade do leite; rastreabilidade da produção; controle de resíduos e contaminantes; observação das práticas de cuidados com a saúde e conforto animal, fatores esses que são usados de forma crescente pelo sistema produtivo do leite nessas regiões e tendem a se tornar cada vez mais intensos. Coleta a granel com uso mais frequente de caminhões isotérmicos o que tende a relegar à historia os caminhões do “zezinho” que fazem a captação do leite em galões.


Caminhão de leite em galão

-Aumento da assistência técnica e veiculação de informações através de laticínios que usam o programa federal “Mais Leite Saudável” bancado pelas indústrias com percentual de renúncia de seus créditos de PIS/Cofins; ou apoiados pelas estruturas das Secretarias de Agriculturas estaduais e municipais que vem crescendo a atuação com apoio dos Sistema Emater e SEBRAE;


Instalação de tanque de resfriamento de leite.

-Cada vez mais os produtores usam processos tecnológicos mais modernos para fazer o controle da produção de leite, como por exemplo, o bem estar animal, controle de uso de antibióticos, o uso mudas de palmas selecionadas, mais produtivas, resistentes, cultivadas de forma concentrada no seu espaçamento com maior produção por área cultivada e de maquinas forrageiras para cortar a palma, o capim Capiaçu ( cada vez mais utilizado pelos produtores visto suas características) e outros, da colheita até o seu corte, para melhor e mais rapidamente servir os animais. Também é frequente o uso de pastagens rotacionadas de palmas, assim como processos de irrigação onde há água.


Capim Buffel, Palma Forrageira e Capim Capiaçu são opções cada vez mais utilizadas.

-O produtor de leite e família iniciam seu trabalho no campo pelas 5 horas da manhã e vão até as 10 horas sem parar, descansam até por volta das 14 horas, visto o calor intenso e retomam mais devagar, terminando o dia com a segunda ordenha e alimentação de seu rebanho entre 18/19 horas. A jornada de trabalho desse produtor é intensa, diariamente, por mais de 12 horas muitas vezes.

-Crescimento da capacidade de processamento da indústria de laticínios regional, notadamente dos pequenos e médios laticínios, seja em número de empresas processadoras quanto em capacidade instalada de cada uma, muitas vezes sendo líderes no mercado regional. Uma rápida visita aos mercados regionais pode se observar a diversidade de marcas de produtos lácteos regionais: queijos muçarela, minas prensado, coalho, provolone, tipo parmesão, queijo manteiga, além de iogurtes, leite UHT, leite pasteurizado, manteiga, dentre outros. A produção dos laticínios regionais do Nordeste se encontra nas gôndolas dos mercados e disputam espaço com todos os produtos das grandes indústrias nacionais.

-Enfim, os 9 estados do Nordeste com 27% da população brasileira e 16% da produção nacional de leite, tem tudo para se transformar em região cada vez maior produtora e consumidora de lácteos na medida em que a renda regional for se elevando, o que deverá ser fator primário para sustentar um aumento maior e mais veloz da produção regional e mais importante com crescente qualidade.

*Com informações do Terra Viva