Agro
AL pode deixar mais de R$ 170 milhões de “cana em pé” no campo na safra 22/23
O valor da cana padrão no Estado (114 kg de ATR), atualmente é de R$ 154 por tonelada
É uma corrida contra o relógio. Literalmente. As 15 unidades que estão em operação na safra de cana-de-açúcar 2022/2023 em Alagoas enfrentam uma das mais atípicas colheitas que se tem notícia na história do setor no Estado.
Interrupções na moagem provocadas pelo excesso de chuvas registrado em todo o Estado desde outubro de 2022 retardam a retirada da cana-de-açúcar do campo e Alagoas corre o risco de deixar entre um milhão e dois milhões de toneladas de “cana em pé” no atual ciclo, de acordo com estimativa dos técnicos do setor.
As perdas de faturamento, ou seja, o dinheiro que deixará de circular no Estado se essa cana não for colhida, podem variar de um mínimo R$ 170 milhões até R$ 340 milhões.
O valor da cana padrão no Estado (114 kg de ATR), atualmente é de R$ 154 por tonelada. Na média, o rendimento da cana colhida nesta safra é um pouco maior, variando de 118 a 135 quilos de Açúcar Total Recuperável por tonelada. Nesse cenário, o preço médio da cana é estimado em R$ 170 por tonelada.
Até o último dia 15 de fevereiro, de acordo bom o boletim de acompanhamento de safra do Sindaçúcar-AL (veja abaixo), as usinas tinham processado 14,7 milhões de toneladas de cana no ciclo atual, um volume -6,57% menor se comparado com igual período da moagem 2022/20223 (15,7 milhões).
A estimativa inicial do Sindaçúcar-AL apontava para uma produção de cerca de 19,5 milhões de toneladas de cana na atual safra. Mas, em função das chuvas, esse volume pode ser maior, aponta o agrônomo e consultor do sindicato, Cândido Carnaúba. “Embora o rendimento industrial seja um pouco menor, a produção agrícola tem crescido além do esperado em função das chuvas. A cana que será colhida agora em março, certamente terá um peso maior do que o esperado”, aponta.
Diante desse cenário, todas as usinas do Estado devem alongar a colheita até meados de abril. “O esforço é para tirar toda a cana do campo, mas isso só acontecerá se o clima ajudar”, aponta Carnaúba.
“Ainda falta muita cana para moer. São mais de 4 milhões de toneladas que ainda estão no campo. Se o clima continuar como está agora, chovendo com frequência, existe sim o risco de ficar muita cana em pé no campo”, aponta o presidente da Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas, Edgar Filho.
O presidente da Asplana explica que situação é pior na região norte de Alagoas, onde o volume de chuvas é mais intenso. “De ontem para hoje foram mais de 40 milímetros. Desde dezembro chove quase todo dia na região, o que prejudica muito a colheita e afeta a qualidade da matéria-prima que chega na indústria”, reforça Edgar Filho.
Na região sul do Estado, onde o volume de chuvas é um pouco menor se comparado a região norte, a situação é um pouco menos complexa, mas as usinas devem continuar em operação ao menos até 20 de abril, quando normalmente encerram a moagem até o final de março.
“Faremos um esforço para tirar toda a cana no campo. Já definimos manter a moagem até o dia 20 de abril”, aponta o presidente da Cooperativa Pindorama, Klécio Santos.
A usina da Pindorama, em Coruripe-AL) deve esmagar cerca de 1,2 milhão de toneladas de cana, o que será um recorde na história da unidade. “Realmente essa é uma safra muito complicada do ponto de vista da colheita. Mas não podemos reclamar das chuvas, até porque elas vão ajudar a formar as próximas safras”, reforça Klécio Santos.
O diretor agroindustrial da Usina Caeté, Magno Brito, diz que a moagem será realizada pelo menos até 15 de abril nas duas unidades do grupo em Alagoas (Caeté, em São Miguel dos Campos e Marituba, em Igreja Nova).
“Apesar das dificuldades na moagem, a chuva é sempre bem-vinda. Fizemos ajustes, vamos alongar a moagem e esperamos processar um volume maior de cana do que estimado inicialmente”, aponta Brito.
Na unidade de São Miguel dos Campos, a expectativa inicial para esta safra era de uma moagem de 1,98 milhão de toneladas. Em função das chuvas, a projeção foi revista. “Estamos esperando colher até 2,1 milhões de toneladas. A cana está chegando mais pesada, o que favorece o crescimento da produção agrícola, apesar de termos registrados perdas de 5 a 6 quilos de ATR por tonelada”, pondera Magno Brito.