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Produção agrícola pode diminuir se onda de calor continuar em AL, aponta engenheiro agrônomo

O especialista garante que o setor tem apenas medidas paliativas para minimizar as perdas e que o investimento em irrigação deveria ser maior

Por Ruan Teixeira 05/10/2023 10h10 - Atualizado em 05/10/2023 11h11
Produção agrícola pode diminuir se onda de calor continuar em AL, aponta engenheiro agrônomo
Produção agrícola pode diminuir se onda de calor continuar em AL - Foto: Pxfuel

A reportagem do Jornal de Alagoas conversou com José Teodorico, engenheiro agrônomo e conselheiro do Crea - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas a respeito da previsão de impacto da onda de calor no setor agrícola alagoano. Para ele, há um risco de diminuição da produção, mas o estado tem alternativas para minimizar os eventuais danos.

"De uma forma geral o impacto da onda de calor na área agrícola, não só em Alagoas, mas no Brasil em inteiro, em princípio para a grande maioria das culturas, é a diminuição de produção, pois com o aumento do calor terá uma maior evaporação, como perda de água e com isso, o ressecamento do solo’’ explicou.

Segundo ele, algumas culturas locais que tenham “certa adaptação” sentirão menos o impacto do calor, mas para a recuperação da produção existe a necessidade de umidade e, em consequência, haverá uma demanda maior por irrigação, limitando a oferta de água.

“Vejamos aqui o exemplo de Alagoas, nós temos o Rio São Francisco, mas não temos perímetros irrigados. Outros lugares como Petrolina, Juazeiro, dentre outros têm. Por isso que a nossa produção se concentra tanto na Zona da Mata em função da umidade. Por fim, o impacto vai incidir diretamente na produção, e se as previsões foram cada vez mais quentes haverá certamente uma diminuição grande na produção’’, completou.

O especialista garante que o setor tem apenas medidas paliativas para minimizar as perdas e que o investimento em irrigação deveria ser maior para que a agricultura pudesse se precaver aos impactos das mudanças climáticas.

Teodorico argumenta que as pessoas têm uma visão catastrófica da seca, mas que não é bem assim e que há indicativos quando ela está se intensificando, permitindo que os produtores e o poder público se previnam. Como estratégia para minimizar os impactos, ele enxerga que a adaptação da agricultura para utilização de culturas e recursos locais e que tenham uma maior tolerância à sequidão. Isso serviria também para a pecuária, que, para o agrônomo, deveria utilizar animais que já surgiram ou se adaptaram ao clima local, sejam eles bovinos, ovinos ou caprinos, mas que tivessem a fisiologia adaptada e seriam “mais resistentes” do que as raças que vem de fora.

Setor sucroalcooleiro

No setor sucroalcooleiro, Teodorico, diz que a cana em si é mais eficiente no uso da água do que boa parte dos vegetais porque, desde a década de 80, os produtores começaram a fazer pequenas irrigações após cortes da cana, o que ocasionou o aumento expressivo da cultura no estado, chegando a 33 milhões de toneladas produzidas, bem como a formação de barragens espalhadas por Alagoas.

“A cana é mais eficiente na absorção da água e possui mecanismos celulares que conseguem utilizar melhor a água e ser mais produtiva, devido a essa adaptação que foi feita’’, detalhou.

Recursos hídricos

Com relação aos recursos hídricos, o engenheiro acredita aponta como as principais causas para um possível risco para a falta de água seja o assoreamento dos rios, bem como o desmatamento das regiões de mata e a poluição somada à ausência de saneamento básico.

‘’Se analisarmos o estado de Alagoas, os rios do meio do estado para lá [Sertão], correm para o São Francisco. Do Agreste para Zona da Mata, correm para o Atlântico. Rios como o Traipu, Ipanema e o Capiá são temporários e não possuem água de boa qualidade, onde têm um teor de sal muito grande. Eles correm quando param de chover e dias após está seco. Já os rios da vertente atlântica, que podemos citar o Paraíba, Mundaú, entre outros, tem problema de qualidade de água, ou seja, tem água, porém, por conta do desmatamento o rio chega a ficar sem água. Exemplo disso é no rio Paraíba, que se formos no verão na região de Viçosa para cima, ele está seco’’, contou.

O engenheiro aponta que “esses rios são usados como descargas, de todos os dejetos dessas cidades, que a grande maioria são poluídas, causando doenças como o schistosoma. Para isso ser mudado é necessário que exista uma recuperação do saneamento, assim como a do solo, para termos água em abundância de qualidade”.

O Canal do Sertão e o impacto para o Nordeste

À reportagem, Teodorico diz que o Canal do Sertão supre uma seca mais severa, porque devido à sua vazão, de 33m³/s. “Considerando isso, ele é o maior rio do estado, comparado aos outros estados, tirando apenas o São Francisco”.

Porém a falta de ações concretas por parte da gestão pública em relação ao Canal do Sertão, deixam o agrônomo desconfiado de sua eficiência.

O profissional minimiza os impactos financeiros de uma possível onda de calor e aumento no consumo de água para os pequenos, médios e grandes agricultores alagoanos.

“Se houvesse irrigação de perímetro em larga escala haveria taxação, mas não há, até porque a prioridade, definida em lei, é para consumo humano, mas a agricultura em si, daqui de Alagoas é a agricultura de inverno, utilizando o ciclo da chuva’’, conclui.