Agro
Agro debate desafios para conciliar segurança alimentar e climática e mercado de carbono
Painel da CNA em Dubai demonstra que agropecuária é solução em meio às mudanças climáticas
A tecnologia implementada na agropecuária brasileira nas últimas décadas impulsionou a produção em patamares superiores à necessidade de novas áreas, reforçando o compromisso do setor com a sustentabilidade. O desafio de conciliar segurança alimentar, energética e climática foi o tema de debates no Dia do Agro na COP 28, em programa realizado no domingo pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Dubai. “Não há como discutir meio ambiente sem segurança alimentar”, disse o vice-presidente de Relações Internacionais da CNA, Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
Pereira foi o moderador do debate e abordou o papel chave do Brasil em garantir alimentos em um cenário global futuro que estima parte da população vivendo em países importadores. O dirigente apontou que a área preservada no Brasil, contabilizando propriedades do Cadastro Ambiental Rural (CAR), áreas militares, indígenas e da União, entre outras áreas, supera parte dos países da União Europeia juntos e afirmou que o país se tornará a maior agricultura do mundo em 2035.
A produtora rural Ana Carolina Zimmermann, representante da Comissão Nacional de Novas Lideranças da CNA, abordou a contribuição da juventude para as crises energética, climática e de segurança alimentar. Ela defendeu maior inserção de jovens na construção de políticas públicas e ressaltou que produtores rurais brasileiros são aliados na preservação ambiental e cumprem uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, o Código Florestal. “Precisamos cada vez mais de representatividade, diante da nossa capacidade de inovação e de dedicação ao campo, dentro de um compromisso com a sustentabilidade”, afirmou. Ana Carolina disse que atualmente existe o movimento inverso ao êxodo rural de décadas passadas. “Antes os jovens queriam ir para a cidade. Agora, estudamos para voltar ao campo, e nosso esforço precisa ser reconhecido nos fóruns de discussão para mostrarmos o que fazemos de bom”, defendeu.
O coordenador-geral de Mudanças Climáticas e Agropecuária Conservacionista do Ministério da Agricultura, Adriano Santhiago, afirmou que a agropecuária é parte da solução para as questões de mitigação e adaptação às alterações do clima. Ele abordou as tecnologias implantadas no campo e políticas públicas como a agricultura de baixa emissão de carbono, por meio do programa ABC+. Santiago disse que as discussões não devem se limitar apenas ao aumento da temperatura do planeta e defendeu ações de financiamento e apoio dos países desenvolvidos às nações em desenvolvimento.
Mercado de carbono
No segundo painel do dia, especialistas debateram o mercado de carbono, que já é uma realidade mundial, segundo o embaixador Roberto Azevedo, presidente da Iniciativa Internacional para o Agronegócio Brasileiro. “O mercado vai acontecer. A questão é quando. Até porque será uma forma de harmonizar a relação entre os países no esforço de descarbonização”, falou. Ele reconheceu que o tema é complexo e exige diálogo e base científica para dar uma direção certa ao produtor rural. Azevedo destacou o papel do Brasil como grande gerador de créditos. “Tudo que fizermos aqui pode gerar uma ideia, um conceito, uma inovação que pode ser aproveitada globalmente”, salientou.
O professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), reconheceu que há desafios e oportunidades. “Seria uma valorização da atividade agropecuária, que produz alimentos, fibras e energia que são parte da solução quando se trata de aquecimento global, e não o problema. Aqui podemos usar outras formas de energia que não sejam fósseis”, afirmou.
O coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Vargas, disse que o desafio prioritário é valorizar o potencial verde do Brasil e que a implantação de um mercado regulado de carbono precisa levar em conta as virtudes do país e não implantar mecanismos fora da realidade brasileira. “Deve-se olhar para o agro como prioridade e como um setor estratégico que gera serviços ambientais para acelerar esse processo. Temos um estoque verde dentro e fora da propriedade e não podemos perder competitividade”, destacou. Para o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Bastos, o Brasil é um dos países com mais potencial de geração de crédito de carbono e atração de financiamentos para essa finalidade.