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Ministério da Fazenda ajustará regra para que crédito com subsídio flua melhor

Governo avalia estabelecer um piso para spreads oferecidos pelas instituições para operacionalizar os recursos equalizados

Por Globo Rural 05/03/2024 10h10 - Atualizado em 05/03/2024 10h10
Ministério da Fazenda ajustará regra para que crédito com subsídio flua melhor
Fazenda ajustará regra para que crédito com subsídio flua melhor - Foto: Adobe Stock

O Ministério da Fazenda estuda ajuste nas regras do Plano Safra 2024/25 para fazer com que o crédito rural que recebe a subvenção do governo federal flua melhor. Uma das possibilidades analisadas é estabelecer um piso para os spreads oferecidos por bancos e cooperativas financeiras para operacionalizar os recursos equalizados atrelado a fatores de desempenho desses agentes. O objetivo é garantir a real aplicação do dinheiro aos produtores na ponta.

A devolução de volumosos recursos com subvenção por algumas instituições — foram mais de R$ 17 bilhões até agora na safra 2023/24 — e a deficiência de aplicação por outros agentes têm atrapalhado o planejamento do governo no fomento ao setor e alterado a programação inicial para o fluxo do dinheiro.

Os valores com equalização devolvidos rendem muito menos ao serem repassados a outros bancos. Desde o início da temporada, o montante total equalizado caiu de R$ 138,2 bilhões para R$ 125 bilhões.

As novas regras ainda estão em fase inicial de discussão e elaboração. O Ministério da Fazenda pretende divulgar até abril as normas que vão conduzir a distribuição e a aplicação dos recursos equalizáveis do próximo Plano Safra 2024/25 entre as instituições financeiras interessadas.

O subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais da Pasta, Gilson Bittencourt, disse que o sistema de “leilões” dos recursos equalizáveis deve continuar, pois estimulou a competição, forçou a diminuição dos spreads e melhorou a transparência no processo de alocação do orçamento federal. O mecanismo, no entanto, pode ter chegado a um ponto de “esgotamento em que a redução do custo pode afetar a qualidade do crédito”, afirmou.

Os Custos Administrativos e Tributários (CAT) médios ponderados, entre todos os agentes financeiros que concedem financiamentos subsidiados aos produtores rurais, caíram de 4,8% para 2,9% nos últimos quatro anos. Mas é preciso amarrar algumas pontas. Não basta apenas ter custo menor, é preciso ser efetivo na entrega do financiamento subsidiado, disse Bittencourt.

A intenção é que o recurso equalizado concedido à instituição financeira seja, de fato, emprestado ao produtor. “Teremos que debater até onde podemos reduzir o custo de tal forma que não impacte o resultado final, que é fazer o dinheiro chegar ao produtor rural que mais está demandando”, explicou Bittencourt. A oferta de spreads mais baixos no esquema de “leilão” ajuda a reduzir o custo do Tesouro e faz o orçamento da equalização render mais.

O objetivo não é simples, admitiu o subsecretário, já que é necessário manter a concorrência e forçar a redução de spread de quem ainda apresenta custos mais altos. A saída deve ser a criação de uma regra conjunta que considere também o desempenho da instituição financeira na safra anterior, sua capilaridade e a capacidade de aplicar em regiões estratégicas.

“Vamos pensar em mecanismos para não prejudicar as instituições que estão em ascensão e cumprem suas programações”, garantiu. O spread é a diferença entre a remuneração pretendida pela instituição financeira — que inclui custos de captação, administrativos e tributários — e a taxa de juros final paga pelo produtor rural.

O aprendizado desta safra será usado para definir as normas da próxima. A intenção não é punir instituições financeiras que não tiveram bons desempenhos com a operacionalização da subvenção, mas usar seus exemplos para que os “erros” não se repitam.

As normas pretendem evitar a concentração de recursos em bancos com atuação muito localizada e o crescimento exponencial de limite de instituições financeiras de um ano para o outro. A Fazenda também quer reavaliar a destinação de valores para bancos de uma única montadora de máquinas.

O acompanhamento da programação de aplicação trimestral dos recursos equalizados, regra criada nesta safra, tem ajudado a equipe de Bittencourt a visualizar possíveis pontos de melhoria no processo de alocação da subvenção ao crédito rural. A norma para incentivar desembolsos a produtores do Norte e Nordeste não vingou e deverá ser reformulada.

As mudanças no processo de distribuição do orçamento para equalização dos juros do crédito rural começaram em 2020, após determinação da Controladoria-Geral da União (CGU) para tornar o processo de repasse dos recursos públicos às instituições financeiras mais transparente.

A Lei do Agro 1 (13.986/2020) permitiu aos bancos privados participarem da operacionalização desses recursos. Antes, a medida era concentrada nas instituições públicas e cooperativas de crédito. De lá para cá, o número de agentes saltou de cinco para 21.