Agro

Déficit global de açúcar na safra 2024/25 pode chegar a 4,3 milhões de toneladas

Traders das maiores empresas estimam déficit devido à queda estimada da produção brasileira e problemas dos outros exportadores

Por Globo Rural 10/03/2024 09h09 - Atualizado em 10/03/2024 09h09
Déficit global de açúcar na safra 2024/25 pode chegar a 4,3 milhões de toneladas
Déficit global de açúcar na safra 2024/25 - Foto: Reprdução/Internet

Traders de três das maiores empresas exportadoras de açúcar do Brasil estimam que haverá um déficit global do produto na safra 2024/25. A previsão foi anunciada na oitava edição da Abertura da Safra, evento da consultoria Datagro, que se encerrou nesta quinta-feira (7/3) em Ribeirão Preto (SP).

“Vemos um déficit se formando para a nova safra de 4,3 milhões de toneladas. Os outros grandes exportadores, China, Índia e Indonésia, vão estar negativos e o Brasil tem o desafio de suprir o mercado global”, disse Ulysses Carvalho, trader sênior da corretora Sucden, que estimou o maior déficit.

Segundo ele, a safra 2023/24 vai deixar saudades porque foi beneficiada por uma série de fatores, mas o perfil climático de agora traz preocupações muito grandes ao setor pela falta de chuvas no crescimento vegetativo da cana, com índices de precipitação 30% abaixo da média histórica de dezembro a fevereiro.

Guilherme Correia, trader da Louis Dreyfus Company (LDC), vê um déficit menor, de 1,4 milhão de toneladas, causado pela queda de produção nos países da América Central, México, Índia e Tailândia.

“O market share do Brasil deve ir para 80%. Ao longo dos últimos 15 anos variou de 60% a 65%. Qualquer coisa dando errado aqui, vai gerar um aumento de preços em Nova York”, disse Correia, acrescentando que o setor vive o pior cenário de início de ano dos últimos 15 anos e o equilíbrio, se vier, será apenas a partir do segundo semestre.

Para Ricardo Alves, trader sênior de Originação da Raízen, a safra que está terminando foi altamente positiva porque, além de aumentar a produção, foi possível movimentar grandes volumes de açúcar no ano passado num período que seria normalmente úmido, mas foi bem seco.

“Agora, a falta de chuvas deve gerar um impacto negativo na produção, o que vai levar a um estoque de passagem mais reduzido em março de 2025. Viemos de um superávit na safra 2023/24, mas entramos num déficit porque não teremos a participação das exportações da Índia.”

Falta de chuvas deve gerar um impacto negativo na cana-de-açúcar — Foto: Wenderson Araujo/CNA

Brasil dá as cartas

Carvalho, da Sucden, disse que a produção indiana está desconectada do mercado mundial, com a queda expressiva de 32 milhões de toneladas para 28 milhões de toneladas e total de sacarose em queda. A Tailândia, por outro lado, tem expectativa de recuperação de safra, com produção de 81 milhões de toneladas, sendo 8,6 milhões para entrega.

“O Brasil está dando as cartas no comércio mundial de açúcar. O ganho de influência nesta safra chegou a 75% e, neste primeiro bimestre de 2024, houve um incremento da demanda global pelo açúcar brasileiro.”

A Sucden prevê uma produção de açúcar menor na nova safra, apesar do aumento da produção de açúcar no mix das agroindústrias. O receio é que possa haver atrasos nas ampliações ou nos novos projetos de plantas açucareiras no país.

Correia, da LDC, destacou que o setor exportador de açúcar precisa de logística e de clima favoráveis para suprir o mundo. Ele lembra que em setembro do ano passado houve a maior espera de navios no porto para embarcar o açúcar.

“Não achamos que a situação vai ser diferente no porto neste ano. Esperamos que o Brasil exporte a partir de junho quase 3 milhões de toneladas por mês.”

Alves, da Raízen, disse que o problema logístico vai depender da experiência de cada usina e quem investiu mais em armazenagem vai ter vantagem, mas ele também prevê um gargalo na disputa de frete e de navios em Santos.

O trader da Raízen estimou que a produção de açúcar do Centro-Sul no novo ciclo vai cair de 42,6 milhões de toneladas para 41,5 milhões, mesmo com o aumento da participação do açúcar no mix das usinas de 48,8% para 51,2%. Para o etanol, a estimativa da empresa é aumento de 28,9 bilhões de litros para 33,7 bilhões, considerando cana e etanol. A moagem total de cana deve cair de 660 milhões de toneladas para 609,7 milhões na safra 2024/25.

Datagro

O presidente da Datagro, Plínio Nastari, também previu um ligeiro déficit de açúcar no novo ciclo, que começa em 21 de setembro.

Segundo ele, a safra 2023/24 de açúcar da Índia deve encerrar com 32,4 milhões de toneladas, considerando 1,74 milhão de toneladas de açúcar equivalente desviadas para o etanol, volume próximo ao da safra anterior. Já para o novo ciclo, a estimativa é de 31 milhões de toneladas, sendo 2,8 milhões para o biocombustível.

Na Tailândia, a previsão da Datagro é de alta, passando de 8,4 milhões de toneladas para 10,5 milhões na safra 2024/25.