Agro
Área tratada com defensivos cresceu 10,5% no Brasil em 2023
Mercado do setor alcançou US$ 20,7 bilhões no ano passado; metade do valor foi movimentado por áreas de soja
O Brasil expandiu em 10,5% a área agrícola tratada com defensivos químicos em 2023, passando para 2,24 bilhões de hectares, se comparado com o ano anterior, quando o número era de cerca de 2 bilhões de hectares. É o que aponta um estudo encomendado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg) à Kynetec Brasil, divulgada nesta quarta-feira (12/).
Segundo o levantamento, o valor de mercado para o uso de defensivos chegou a US$ 20,7 bilhões em 2023, uma leve alta de 1,9% na comparação anual. Em 2022, esse valor foi US$ 20,3 bilhões. Quase 50% do montante financeiro do ano passado foi movimentado por áreas de soja.
De acordo com a entidade, o aumento está atrelado, mais uma vez, à expansão da área plantada, especialmente de grãos, e condições climáticas enfrentadas por produtores brasileiros.
Anteriormente, na pesquisa divulgada em fevereiro, a expansão do uso de defensivos estava na ordem de 3,7%, mas as variações climáticas influenciaram no aumento de pragas e doenças e impuseram ao agricultor maior controle químico.
No acumulado de 2023, o volume usado desse tipo de produto foi de 1,42 milhão de toneladas, considerando o número de aplicações necessárias por situação. O valor equivale a um crescimento de 9,5% em comparação a 2022, quando o uso total foi de 1,3 milhão de toneladas de defensivos.
Desse total, 47% referem-se a herbicidas, 22% a fungicidas, 22% a inseticidas, 1% a tratamento de sementes e 8% a outros. Somados, o volume corresponde a 2,24 bilhões de hectares tratados.
Para chegar a esses resultados, o levantamento utiliza uma metodologia do Sindiveg, que fornece dados do mercado sobre o produto por área tratada (PAT). O conceito considera o volume utilizado pelo produtor e o número de aplicações por área cultivada.
A soja é a cultura que possui 55% do total da área que utiliza defensivo, seguida pelo milho (18%) e algodão (7%), a pluma, inclusive, ganhou destaque ano passado no Brasil com início de uma expansão de área de plantio.
Por outro lado, o Sindiveg informa que a pesquisa reflete “parcialmente" os resultados das duas últimas safras (2022/23 e 2023/24).
Influência cambial
João Lammel, vice-presidente de Relações Institucionais do Sindiveg, afirmou que o crescimento da movimentação financeira com defensivos reflete uma apreciação do real em relação o dólar durante a maior parte de 2023 e primeiro trimestre de 2024. Outro motivo é o crescimento de pragas, em especial do percevejos, que aumentou 15% no ano passado, que pode ter influenciado no aumento da aplicação de defensivos, lembra ele.
Em paralelo, o representante da entidade considera que está havendo um processo de transição entre 2023 e 2024 no segmento de controle de pragas e doenças, seja pelo clima ou por uma mudança de preços e comportamento de compra, que ocorreu, em especial, devido a crises e conflitos internacionais, como o de Rússia e Ucrânia.
“Havia falta de produtos e crise com guerras e houve uma correria muito grande entre 2021 e 2022. Mas, ano passado, foi um ano de acomodação, que gerou uma queda dos valores do produto de mercado, que ainda está acontecendo. Uma certa normalidade está começando atuar agora”, explica ele. Com isso, Lammel reitera que os valores nominais movimentados pelo segmento não estão caindo, embora as indústrias de distribuição e revenda estejam com as contas apertadas devido às consequências de mudança de comportamento do produtor.
Esse deslocamento entre a situação da indústria e os dados positivos do segmento se dá porque os dados do Sindiveg mapeiam o preço pago pelo produtor, independente do ano que foi comprado, e a quantidade de aplicação. Se o produtor pagou mais caro pelo produto, diferente dos preços aplicados neste momento, isso pode ter influenciado nos resultados finais de valor de produto, embora a entidade não faça esse detalhamento.
Ao projetar os próximos resultados, Lammel estima que possa haver um crescimento do mercado de defensivos agrícolas na ordem de 3% a 5%, "uma certa recuperação" até o final de 2024, já que no segundo trimestre os preços dos produtos começam a estacionar em um patamar estável e podem contar a subir, numa oscilação técnica e normal na indústria de defensivos.
Preços
Os Estados de Mato Grosso e Roraima foram os que mais aplicaram defensivos, representando 27% do total.
“Ao longo do ano, as diferentes regiões do país registraram mudanças climáticas acentuadas. Neste cenário, que deve apresentar similaridades no decorrer de 2024, o investimento médio do produtor rural se aproximou dos níveis pré-pandemia, com os preços dos principais defensivos em queda”, aponta a entidade.
A essa queda de preço, a entidade atribui uma potencial queda de 12,6% na evolução dos cultivos em relação ao uso de defensivos até a finalização da safra 2023/24, que deve aparecer em uma nova pesquisa em julho. Essa queda, se comparada ao resultado de 2022/23, representa em valor nominal um recuo de US$ 22 bilhões para US$ 19 bilhões.
“Essas redução não se deve ao volume de defensivos utilizados, mas sim à queda no valor unitário dos produtos”, salienta a entidade. Por outro lado, o Sindiveg estima um crescimento de 7,6% na área tratada, que pode chegar a 2,31 bilhões de hectares, puxado pelo cultivo de grãos.
Atualmente, o Sindicato representa 45% do mercado de defensivos agrícolas no Brasil, com 27 empresas associadas. Em 2023, as associadas financiaram e comercializaram R$ 29 bilhões e faturaram R$ 28,7 bilhões no período.