Agro
Estudo aponta relação entre bactérias no solo e atratividade de flores para abelhas
Testes com leguminosa nativa conduzidos por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) apontaram que plantas cultivadas em solos ricos em bactérias fixadoras de nitrogênio apresentaram flores mais atrativas
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) e publicado esta semana no American Journal of Botany conseguir estabelecer relação entre a presença de bactérias fixadoras de nitrogênio no solo e a atratividade das flores para as abelhas.
Os testes foram realizados com a leguminosa da espécie Chamaecrista latistipula, nativa do Brasil e presente em solos naturalmente pobres. As plantas foram submetidas a quatro condições diferentes: solos arenosos pobres em nutrientes com e sem a aplicação de bactérias e solos ricos em matéria orgânica com e sem a aplicação de bactérias.
“Nos solos arenosos pobres em nitrogênio, mas com a presença das bactérias fixadoras de nitrogênio, as plantas eram quase duas vezes mais altas e três vezes maiores do que as cultivadas em solo com matéria orgânica, rico tanto em bactérias quanto em nitrogênio”, relata o professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (CCNH-UFABC), Anselmo Nogueira.
Já as plantas em solos pobres em bactérias fixadoras de nitrogênio, tanto no solo arenoso quanto no rico em matéria orgânica, tiveram alturas relativamente mais baixas e eram menores no geral do que as que receberam os microorganismos.
A conclusão dos pesquisadores é de que a presença das bactérias aumenta a atratividade das flores para os polinizadores ao aumentar a disponibilidade desse nutriente para as plantas em troca de açúcares, que servem como alimento para os microrganismos.
As flores foram analisadas com um espectrofotômetro de superfície, instrumento que mede como a luz é refletida. Com isso, foi observado que as anteras das flores, onde fica o pólen das flores, que só pode ser acessado por insetos que conseguem vibrá-las, exibiram um padrão considerado mais atrativo para as mamangavas naquelas que que cresceram em solo arenoso com a presença de bactérias.
“A partir dessas medidas de reflectância nas flores, testamos se os contrastes de cor perceptíveis às abelhas foram alterados entre os diferentes tratamentos de solo e bactérias”, detalha Caroline Souza, autora do estudo. A pesquisa foi financiada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pretende analisar, a partir desses resultados, se a presença das bactérias interfere na qualidade do pólen.
“Queremos saber agora se esse pólen acessível apenas às fêmeas de abelhas nativas é enriquecido de proteínas e aminoácidos por conta dessa parceria entre bactérias e plantas. A maior atratividade das flores pode estar ligada a uma maior qualidade e quantidade dos recursos, influenciados pela alta taxa de fixação de nitrogênio nas raízes dessas plantas”, avalia Nogueira.