Agro

Alagoas inova na produção e preservação de Abelhas Uruçu

Jean Ferreira, do Apiário Zumbi dos Palmares, cria o primeiro centro de reprodução da espécie no estado

Por Isley Tenório 25/11/2024 16h04
Alagoas inova na produção e preservação de Abelhas Uruçu
Apiário Zumbi se destaca em Alagoas - Foto: Reprodução

No coração da Serra dos Frios, na Fazenda Frios, em União dos Palmares, um projeto inovador está trazendo nova vida a uma das espécies mais valiosas de abelhas nativas do Brasil: a uruçu nordestina. Jean Ferreira, apicultor há mais de 25 anos e fundador do Apiário Zumbi dos Palmares, iniciou a implantação do primeiro centro de reprodução de abelhas uruçu de Alagoas. Com a meta de alcançar mil colmeias, o projeto busca preservar essa abelha quase extinta na natureza, enquanto desenvolve um modelo de produção sustentável de mel.

“Nosso objetivo é não apenas proteger a uruçu nordestina, mas também ampliar a criação dessa abelha, que tem um mel muito valorizado no mercado por suas propriedades medicinais e sabor diferenciado”, explica Jean.

Jean começou sua história na apicultura com um presente: uma única colmeia. Hoje, seu apiário é referência em União dos Palmares, sendo um dos cinco registrados em Alagoas a produzir e comercializar mel de abelhas apis mellifera com registro no SIF (Selo de Inspeção Federal) do Ministério da Agricultura. Além do mel, ele oferece pólen, própolis e produtos derivados, como sprays.

Apaixonado pela atividade, Jean não apenas consolidou seu negócio, mas também fomentou o desenvolvimento da apicultura na região. Atualmente, cerca de 40 pequenos apicultores de União dos Palmares, muitos deles agricultores familiares com áreas de até dois hectares, sobrevivem da produção de mel graças ao incentivo e apoio técnico do Apiário Zumbi dos Palmares.
Jean destaca os desafios enfrentados pelos apicultores, especialmente em relação às restrições impostas em áreas de preservação ambiental. Ele faz um apelo às autoridades: “Quando um apicultor coloca uma colmeia numa área de preservação, ele não só ajuda o meio ambiente, mas também contribui para a polinização, repele caçadores e até alimenta outras espécies. É preciso reconhecer a importância desse trabalho e apoiar a inclusão das colmeias nessas áreas.”

O desafio e o potencial das uruçus


A uruçu nordestina, como outras abelhas sem ferrão, é altamente valorizada. Além de ser mais tranquila para manejo, seu mel é considerado medicinal e possui características específicas da vegetação local, como a Mata Atlântica. Jean explica que o maior desafio para expandir a criação dessas abelhas é a escassez de colmeias.

“Estamos iniciando com 150 colmeias e devemos chegar a 300 em breve. Nosso objetivo é atingir mil colmeias para garantir a comercialização sustentável tanto do mel quanto das colmeias em si, incentivando outros produtores a entrar nesse mercado”, destaca.

O mel produzido pela uruçu é mais caro e exclusivo, mas isso se justifica pelas suas propriedades e pela contribuição ambiental que a espécie traz. Jean acredita que, com o crescimento da produção, será possível transformar Alagoas em uma referência na produção de mel de uruçu no Nordeste.

Uruçu: guardiãs da biodiversidade


A uruçu nordestina (Melipona scutellaris) é uma abelha sem ferrão nativa da região Nordeste, reconhecida pela sua relevância ecológica. Ao todo, existem cerca de 300 espécies de abelhas sem ferrão no Brasil, sendo a uruçu uma das mais emblemáticas. Elas são fundamentais para a polinização de diversas plantas, incluindo espécies endêmicas da Mata Atlântica.

Além de seu valor ambiental, o mel produzido pelas abelhas uruçu possui alto valor agregado no mercado. Com propriedades antioxidantes, antimicrobianas e cicatrizantes, ele é amplamente utilizado na medicina natural e na culinária gourmet.

O trabalho de Jean Ferreira é um exemplo de como a apicultura pode ir além da produção de mel, envolvendo sustentabilidade, preservação ambiental e fortalecimento da economia local. Na Fazenda Frios, a criação do centro de reprodução da uruçu nordestina marca um novo capítulo para a apicultura em Alagoas, unindo tradição, inovação e respeito pela biodiversidade.

Curiosidades sobre as abelhas uruçu:


- São conhecidas por sua docilidade, o que facilita o manejo em áreas urbanas e rurais.
- A uruçu nordestina é endêmica da Mata Atlântica e está ameaçada devido ao desmatamento e à perda de habitat.
- Cada colmeia pode produzir entre 3 a 6 litros de mel por ano, dependendo das condições ambientais.
- Seu nome "uruçu" vem do tupi-guarani e significa "abelha grande".

Diferenças entre Apicultura e Meliponicultura


A principal diferença entre um apiário e um meliponário estánas espécies de abelhas criadas e em algumas características associadas ao manejo. Veja as distinções:

Apiário
- É dedicado à criação de abelhas do gênero Apis, como a Apis mellifera, conhecida popularmente como abelha europeia ou africanizada.
- Essas abelhas têm ferrão e são amplamente usadas para a produção de mel em grande escala, além de própolis, pólen e outros derivados.
- O manejo exige equipamentos de proteção (como máscaras e roupas especiais) devido ao comportamento defensivo das abelhas.
- O apiário é mais comum em sistemas comerciais e é usado em larga escala no Brasil e no mundo.

Meliponário

- É voltado exclusivamente para a criação de abelhas sem ferrão, que pertencem à tribo Meliponini. No Brasil, há cerca de 300 espécies nativas, como a uruçu, jataí, mandaçaia e tiúba.
- As abelhas sem ferrão têm comportamento mais dócil, facilitando o manejo e permitindo a criação em áreas urbanas e rurais sem grande risco.
- O mel dessas abelhas é produzido em menor quantidade, mas possui maior valor agregado, tanto pelo sabor diferenciado quanto por suas propriedades medicinais.
- Os meliponários têm como foco a preservação de espécies nativas e a promoção da polinização de plantas locais, sendo essenciais para a conservação ambiental.