Agro
Embrapa avalia qualidade de sementes crioulas de abóbora
Agricultores de duas comunidades e técnicos da Emater participam de oficina no interior de Alagoas
Com o objetivo de orientar agricultores familiares em boas práticas para conservação de sementes de variedades crioulas, a Embrapa promoveu, em 26 de novembro, na cidade de Estrela de Alagoas, no interior do estado, uma oficina de bancos comunitários de sementes. A adoção dessas boas práticas são fundamentais para garantir a qualidade fisiológica e sanitária das sementes.
A oficina foi realizada na Associação Comunitária do Sítio Lagoa da Coroa (Ascolaco), com a presença de agricultores de duas comunidades e técnicos da Emater Alagoas. Na ocasião, os agricultores também receberam os resultados de avaliação da qualidade física, fisiológica e sanitária das sementes conservadas por eles.
A atividade integra o projeto “Estratégias para aperfeiçoar o cultivo de variedades locais de abóbora e inhame visando incremento de renda, saúde e fortalecimento da tradição de consumo dos agricultores familiares de Alagoas”. O projeto é apoiado pela Secretaria de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental (SFDT), do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Para serem avaliadas como de boa qualidade, é necessário que as sementes apresentem pureza, sejam livres de patógenos e pragas e tenham boa germinação, gerando plantas vigorosas e produtivas. Sementes crioulas são aquelas produzidas a partir de variedades selecionadas e melhoradas pelos próprios agricultores, ou seja, têm um conhecimento tradicional ou associado, seja pela forma de produção ou pelo cultivo em uma região específica.
Essas sementes crioulas são conservadas e trocadas ou comercializadas entre os próprios agricultores familiares, diferentemente das comerciais. Já estas são produzidas e comercializadas segundo as regras do Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e de acordo com legislações específicas.
Durante o desenvolvimento do projeto, pesquisadores da Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió) e Embrapa Semiárido (Petrolina, PE) fizeram um diagnóstico abrangente sobre as condições da cultura na região. O intuito foi identificar a forma como os agricultores conservam as sementes, as fragilidades de cultivo, além de avaliar o que poderia ser melhorado em técnicas de manejo, identificando pragas e doenças, e orientando sobre a qualidade do material genético para conservação, consumo e venda pelas comunidades.
Na fase de diagnóstico, antes dos plantios, os pesquisadores coletaram com os agricultores várias amostras de sementes. “Esta etapa é a devolutiva para as comunidades, ou seja, agora estamos entregando os resultados da avaliação realizada”, disse a pesquisadora Semíramis Ramos, da Embrapa Alimentos e Territórios, coordenadora dos trabalhos. “Estes resultados qualificam as sementes por eles conservadas, ou seja, mostram para os agricultores o quanto a forma de conservação das sementes está boa ou se é preciso melhorar.”
A qualidade de sementes se apoia em quatro pilares, de acordo com Bárbara Dantas, pesquisadora da Embrapa Semiárido, que ministrou uma palestra na oficina. “Um deles diz respeito à pureza física, se é só semente mesmo ou se ela está contaminada com pau, pedra e outras coisas, como galho, casca etc. A qualidade genética, outro pilar, refere-se à pureza genética da amostra; a qualidade fisiológica relaciona-se à germinação, ao vigor das sementes, e a sanitária considera a presença ou não de patógenos e pragas nas sementes”, explica.
A pesquisadora Francislene Angeloti, da Embrapa Semiárido, orientou os agricultores sobre práticas de manejo tanto no campo quanto para o armazenamento, que ajudam a reduzir a ocorrência de microrganismos que causam danos às plantas e diminuem a germinação das sementes. “Se adotarmos práticas como o uso de plantas resistentes, plantio em época correta e rotação de culturas, pode-se colher sementes que tenham maior viabilidade e longevidade”, ressalta.
Os agricultores familiares ainda participaram de outras capacitações que incluíram palestras com especialistas em temáticas como manejo do cultivo, pragas e doenças, técnicas para conservação das sementes, além das boas práticas no preparo dos alimentos. Com apoio do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) também foram promovidas oficinas técnicas e gastronômicas em Flexeiras, Igaci e Marechal Deodoro (AL). O intuito foi aperfeiçoar o cultivo de variedades locais de abóbora e inhame, além de ampliar o consumo e diversificar a fonte de renda dos agricultores.
A produtora da comunidade de Lagoa da Coroa Josivânia Silva de Brito disse que aprendeu muito durante as capacitações, desde plantar a abóbora corretamente, com maior espaçamento e numa área preparada, armazená-la adequadamente e usá-la em várias receitas, além de comercializá-la. Já Dayse Monique Silva, também produtora da mesma comunidade, relatou que, além de ampliar o uso do fruto, as mulheres estão ensinando outras, levando o aprendizado a outras famílias. “Antes a gente só comia ela com o bendito cuscuz. Hoje ela é usada no pão, no bolo, na empada, na torta, enfim, em tudo!”, afirmou.