Agro

Pequenos agricultores de Palmeira dos Índios se mobilizam para não perder suas terras

O imbróglio gira em torno de uma área demarcada pela Funai desde 2010 como território indígena

Por Blog de Edivaldo Junior 12/01/2025 10h10
Pequenos agricultores de Palmeira dos Índios se mobilizam para não perder suas terras
Adeilson Bezerra participa de reunião com pequenos agricultores em Palmeira dos Índios. - Foto: Reprodução

Em meio à ameaça de perderem suas terras devido à demarcação de áreas indígenas pela Funai, pequenos agricultores do sítio Amaro, em Palmeira dos Índios, decidiram se mobilizar em defesa de seus direitos.

A luta, que envolve mais de cem famílias, reflete um drama social e econômico que atinge cerca de 10 mil pessoas que vivem numa área equivalente a 30% do território do município e que podem perder suas terras. Se a Funai levar a frente a demarcação, deve afetar diretamente a agricultura familiar, base da subsistência de muitas das comunidades de Palmeira.

O imbróglio gira em torno de uma área demarcada pela Funai desde 2010 como território indígena. Contudo, a maioria das terras na região é ocupada por pequenos produtores que as possuem há gerações, com registros formais de propriedade. Para eles, o risco de despejo traz uma série de incertezas.

“Desalojar essas famílias geraria um impacto devastador, criando um problema social e econômico irreversível para o município e para Alagoas”, alertou o advogado e presidente estadual do Solidariedade, Adeilson Bezerra, que participou de um encontro com os agricultores nesta semana.

Natural de Palmeira dos Índios, Bezerra decidiu reforçar a luta dos pequenos produtores: “eu tenho identidade com o município e, especialmente, com os pequenos produtores. Conheço de perto todas as comunidades e sei que se a Funai levar a frente essa demarcação, milhares de famílias serão destruídas” apontou.


			
				Pequenos agricultores de Palmeira dos Índios se mobilizam para não perder suas terras
Adeilson Bezerra participa de reunião com pequenos agricultores em Palmeira dos Índios. Reprodução

Pequenos agricultores

Natural da Serra da Boa Vista, Adeilson Bezerra passou a liderar o debate sobre a demarcação, destacando a necessidade de separar os interesses dos pequenos agricultores das disputas envolvendo grandes fazendeiros. “Não estamos falando de latifundiários, mas de trabalhadores que vivem de poucos hectares de terra. É fundamental que o presidente Lula e a bancada federal alagoana compreendam essa realidade e deem atenção a esses produtores”, afirmou.

A reunião também contou com lideranças locais, como Antônio Marcos, presidente da Associação Comunitária dos Produtores Rurais da Serra do Amaro, que enfatizou a importância de uma mobilização ampla. “Nossa luta não é contra os povos Xucurus Kariri, mas pelo nosso direito de permanecer em nossas terras, que são nosso sustento. Se necessário, iremos a Brasília apresentar nossa situação”, declarou Antônio.

Para agricultores como Helena Almeida, a homologação da área representaria a ruína. Aos 65 anos, ela e sua família sobrevivem do plantio de graviola, macaxeira, batata e feijão em pequenas parcelas de terra. “Se perdermos nossa terra, vamos passar fome. Já enfrentamos dificuldades há anos, sem acesso a crédito rural por conta da situação indefinida das terras. Não sabemos mais o que fazer”, desabafou.

Apoio e articulação

Além de Bezerra, outras lideranças participaram do encontro, como o vereador Lúcio Medeiros e a socióloga Danúbia Barbosa. Ela propôs uma campanha de conscientização pública para reforçar os direitos dos agricultores. “O objetivo não é gerar conflitos, mas mostrar que essas famílias têm raízes e história nesse território, que é produtivo e essencial para a economia local”, pontuou Danúbia.

Bezerra também tem buscado apoio institucional para os agricultores. Em reuniões com a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (Seagri), ele discutiu formas de fortalecer a agricultura familiar na região. “Palmeira dos Índios é um exemplo de como a produção local tem impacto direto na economia estadual. Precisamos garantir e ampliar o apoio do governo a esses agricultores”, defendeu.

Impacto para a economia e o estado

A eventual homologação da área demarcada pela Funai não apenas deslocaria milhares de pessoas, mas também colocaria em risco a produção diversificada da região. De acordo com Bezerra, o impacto seria sentido em toda Alagoas, já que muitos produtos agrícolas dali abastecem mercados locais e estaduais.

Essa mobilização em Palmeira dos Índios é um alerta para a necessidade de conciliar os direitos dos povos indígenas com os dos pequenos agricultores. A luta dessas famílias é, antes de tudo, uma batalha pela dignidade e pela sobrevivência em um cenário onde a terra é mais do que um recurso: é a base da vida.