Como enlouquecer em 10 lições
Uma novela sendo escrita, um roteiro sem início ou fim, personagens engraçados, humor crescente e várias maneiras de gradativamente enlouquecer de forma engraçada. É isso que nos propõe Leticia Dornelles em seu livro Como Enlouquecer em 10 Lições.
Rosinha Cor-de-Rosa, Cleópatra Taylor, Criatura Chucky, Juvenal Sardinha e Pérfida Davis são as personagens-roteiristas dessa novela sem horário previsto nem dia de estreia. A trama segue a linha dos melhores dramalhões e personagens-autores fundem-se em criador e criatura. Sabe-se apenas que a novela será transmitida pela Emissora Paraguaia com sede em Niterói e em horário nobre, com todo o destaque, pois só assim para escritores tão talentosos se juntarem em um projeto tão ambicioso. E prontos para a temporada de verão na Ilha de Faces.
Uma mãe que odeia o filho, uma mocinha pudica e virgem, que atormenta a paciência do telespectador com sua ingenuidade que tem uma mãe-megera tentando a todo custo transformar a filha em apresentadora infantil, um vilão pra lá de cruel, que literalmente se finge de morto, são as engrenagens que movimentam a trama do livro, além de um espião gato (ou será um gato espião?) que fará par romântico com a angelical Rosinha.
Personagens que se transformam, megeras que se revelam, santinhas não tão santas e heróis nem tão heróis assim, um desfile de tipos que vão se entrelaçando e de tão inverossímeis passam a ser críveis. É o inusitado da ficção mostrando que nesse livro a realidade está baseada numa louca novela mexicana. E é esse inusitado que transforma o livro numa agradável aventura e numa viagem pelo processo criativo da autora.
Hospícios, crises histéricas, catatonismo, brigas por dinheiro, filhos bastardos, mães que não querem envelhecer, muito botox, peruca e maquiagem, egos monstruosos, truques e um texto que vai sendo construído enquanto acontece, a novela vira realidade enquanto está sendo escrita.
Esqueça as tradicionais histórias de amor, esqueça as açucaradas novelas pseudo-engraçadas em Como Enlouquecer tudo está ali para a diversão do leitor. E mais tudo ali é um exercício metalinguístico.
Dorneles habilidosamente vai conduzindo como uma peça de teatro fantasiosa a narração de sua novela e o livro vai tomando forma e a mágica da literatura vai fazendo o resto. Não dá para ficar parado observando as personagens interagindo, elas aos poucos vão ficando tão queridas que queremos interagir também com aquelas situações engraçadas. E no final dá para concordar com a autora: “quem não enlouquecer depois dessas dez lições, com certeza vai passar a ver a novela com outros olhos. E acreditar que nem toda loucura é ruim”.
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