Adalberto Souza

CULTURA

As outras histórias do Tim

19/02/2015 08h08

Sempre gostei de listas. Isso é fato. Pronto, falei. Os melhores do ano, as dez músicas do mês, os melhores livros da década, os melhores discos de todos os tempos, Os melhores filmes da... Enfim, as mais variadas possíveis.

Mas em relação a filmes sempre existe uma constante, um diretor que sempre me intriga por suas ideias e forma de ver a mágica na essência de cada personagens. De sua filmografia, Peixe Grande sempre me impressionou, seja pela maneira de retratar uma história de amor ou como uma fábula lírica que de tão inverossímil se torna crível ou ainda pela empatia de suas personagens tão bem construídas.  O diretor Tim Burton, sempre me proporcionou horas de sonhos e de angústias na sala escura.

“O Menino Ostra sai para passear

E como era noite de Halloween,
O Menino Ostra se fantasiou de ser humano.” (p.123)

Mas saindo um pouco do cinema e enveredando pela literatura Burton escreve um livro "infantil", assim mesmo, entre aspas porque esse é um livro que não se molda em nenhuma classificação: infantil, adulto. Ele cabe onde em for, tem a marca inconfundível do diretor/escritor. O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias (Girafinha, 2007), um livro repleto de histórias apaixonantes.

“O menino de pregos nos olhos

Os problemas ópticos devidos
Aos dois pregos nos olhos do menino
Fizeram sua arvore de alumínio
Ficar meio fora do figurino.” (p.33)

Nesse obra ele apresenta um punhado de criaturas exóticas, como: Menino Palito e Garota Fósforo, Garota Vodu, Breno, o Menino Veneno, O Menino de Pregos nos Olhos, O Bebê Âncora, A Menina Trash, são alguns dos integrantes do fascinante bizarro desfile amparado em belíssimas ilustrações do próprio autor. O tom dos versos é soturno e politicamente incorreto, seus 23 poemas são calcados nas relações afetivas e nos conflitos pessoais.

Os seres que habitam o livro são peculiares e desajustadas, muitos são discriminados, como é o caso do Menino Ostra, personagem do poema que dá título ao livro. O autor conta como uma noite, um encontro, um jantar e um desejo e no nascimento do filho (o desejo realizado) a surpresa, “o começo de todos os pesadelos.” (p.43). E de pesadelo em pesadelo, rejeição, desorientação e desajustamento, o poema vai crescendo até mostrar a rápida e trágica vida do Menino Ostra, nos invadindo com um final surpreendente e indicativo do ciclo inexorável dos acontecimentos.

“Com o doutor a mãe do menino foi se queixar:
“Essa criança não é minha,
Pois cheira a oceano e alga marinha”.” (p.45)

Um livro encantado. Uma leitura rápida não dá a dimensão desses belos poemas. Um livro para ser lido de uma só vez, e de várias vezes aos poucos. Um deguste visual e literário. Se você não tiver pressa e fechar os olhos pode ser que consiga visualizar essas personagens criando vida, numa noite de cinema em casa.

 “O Melão melancólico

Era uma vez um melão melancólico.
Passava o dia inteiro macambuzio,
Querendo a hora do próprio velório.
Ora, cuidado com os teus pedidos!
Pois o dele foi de pronto atendido.
O último som que entrou em seus ouvidos
Foi o “ploft” em que acabou dissolvido.” (p. 104)

http://www.ciadoslivros.com.br/triste-fim-do-pequeno-menino-ostra-o-624238-p183149?origem=buscape&utm_source=buscape&utm_medium=buscape&utm_campaign=buscape

 

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