Meu peito é um caminhão de mudança abarrotado com todas as lembranças que você deixou – Jean Albuquerque
O título do livro já me conquistou e me intrigou. Começo a imaginar um caminhão de mudanças deixando tudo empilhado num canto da carroceria manchada de outras mudanças, aquelas tantas coisas esquecidas e que você nem sabia que ainda tinha guardado até que começa a revirar as tantas caixas inúteis de coisas velhas.
E a minha ansiedade foi plenamente recompensada com a literatura de Meu peito é um caminhão de mudança abarrotado com todas as lembranças que você deixou (Oxente Records – RJ) de Jean Albuquerque. Seu texto é ácido, é ferino, é instigante e é extremamente realístico e dolorido, sem meias verdades (ou meias mentiras?) cada poema é uma lancinante palpitação naquele sentimento que finge adormecer. E dói.
O autor escreve como se não houvesse outra coisa a ser feita. Usa a poesia para nocautear o leitor e isso é evidente em todas as paginas, seja nas poesias ou ainda numa segunda parte: “ Sou um pugilista bêbado que dança no escuro depois de ter perdido a guarda dos filhos em uma batalha judicial”, composta de prosas poéticas que fluem como um suspiro final na correria desenfreada do despertar de sua poesia e funciona quase como um segundo livro com um título tão bom quanto o do qual está contido.
“Eu já estou morto faz anos / Este aqui não sou eu / Sou o que sobrou da vida / Senta aqui, passa um café / Vamos ouvir Odair José / Lembrar quanto fomos sacanas um com o outro / A cidade que deixei / E todos ou outros planos que não se concretizaram” A poesia do autor é repleta de referências de uma cultura bastante cotidiana, bares, cantores, situações corriqueiras, outras nem tanto assim, tudo serve para ser transformado em lirismo e isso é uma característica bem marcante em todo seu texto.
Seus temas e seus voos são aqueles que podem ser compartilhados com qualquer leitor, enlaçando-os numa cumplicidade, permitindo uma identificação imediata com a cidade, a música, o palpável da realidade, o possível de ser visto e ouvido bem ali na esquina onde aparece “o travesti fazendo ponto no centro” é um dos grandes trunfos de sua literatura.
Intenso na medida certa, lírico onde tem que ser, consistente e cortante, um livro que não será esquecido tão cedo, um livro que irá fazer lembrar sempre que “a gente tem medo de acabar numa camisa de força”.
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