Os deuses estão embriagados de uísque falsificado - Jean Albuquerque
Poesia é ressignificar. Poesia é “turbilhonar-se” num vórtice de sentimentos dicotômicos. Ler Jean Albuquerque é uma passagem só de ida para o meio do furacão. Sim, porque ele mostra o caminho, a volta, ou como voltar, fica por conta de quem se aventurar por essas páginas.
O sentimento reinante em “Os deuses estão embriagados de uísque falsificado” é a inquietação, aquela mesma que faz o cidadão procurar aquela garrafa de “slova” escondida na geladeira as duas da manhã para tirar do peito aquela sensação de pertencer a nada, de querer “ouvir sozinho um disco dos Smiths”, como se fosse possível estar sozinho em meio a tantos fantasmas que habitam um corpo que se doa por uma 51 ao primeiro que passar.
Jean sabe como transubstanciar o indizível, nada fica no meio termo, nada fica encoberto, aqueles sentimentos não podem mais manter-se escondidos para apenas acalantar madrugadas imersas em “replays de solidão”.
Ter esse livro entre as mãos, escrutinando os olhos como um “obscuro desejo da alma pesada de tédio”, é deixar-se levar por um caminho diante de catacumbas-sentimentos prontas para serem abertas no mais alto e bom som, saindo das sombras para “declamar poemas de amor”. Se os deuses bebem uísque falsificado ou não, a ressaca é um limiar pronto para ser cruzado. Atreva-se.