As cidades após a Pandemia
Ricardinho Santa Ritta avalia o momento extremamente atípico, inimaginável que vivemos
As cidades após a Pandemia
Por Ricardinho Santa Ritta*
Estamos vivendo um momento extremamente atípico, inimaginável até. Que mudou a dinâmica da vida das pessoas nas cidades. Um período de transição que vivemos entre o mundo normal que tínhamos e o chamado novo mundo que virá tão logo tudo passar, poderia usar a expressão “voltar ao normal”, mas não creio que teremos um normal como era antes.
As Cidades são uma invenção social de 3.500 a.C que surgiram promovendo aglomeração de pessoas em centros de comércio, depois as habitações com mais proximidade gerando densidade. Outro conceito primário de cidades é que estas são o espaço que gera relações humanas, interações amorosas e negócios. Não existem as cidades sem os cidadãos, as pessoas.
Mas e agora, temos que ficar em casa! O primeiro impacto do COVID foi o MEDO. Emoção básica do ser humano. As pessoas irão ter algum grau de medo de sair às ruas, mesmo após a Pandemia. Basta ter convivido, durante a quarentena, com alguém próximo infectado, seja um parente ou até alguma personalidade.
Teremos menos gente nas praças e ruas? Pensando na minha cidade - Maceió – exemplifico. Teremos menos gente correndo na orla da Ponta Verde? O shopping ou o calçadão do comércio na Rua do Livramento terá multidão aglomerada ou não? Iremos ao Estádio Rei Pelé assistir os jogos de futebol? Será que voltarei a ter o jogo toda quarta com amigos? Será que não teremos mais shows na Praça Padre Cícero no Benedito Bentes, Exposição de animais na Pecuária, o pré-carnaval no Jaraguá ou o São João de bairro? Parques de diversão itinerantes?
A cidade precisa se preparar, pois quem ficou desempregado precisará ser acolhido pela assistência social, que é pública. Quem perdeu renda e deixou de pagar plano de saúde para manter o aluguel e a feira, vai aumentar a fila do SUS. E quem aprendeu a trabalhar em casa, fez conta e deixou de ter escritório para praticar o “home office”? Então deixará de usar carro ocupando menos vaga de estacionamento nas ruas? E os ônibus continuarão cheios ou esvaziarão? Teremos menos trânsito? Talvez.
A coleta de lixo terá que se readequar, pois mudaremos perfil de consumo. Em casa produziremos mais lixo residencial. A coleta seletiva será uma opção sem volta. Também como, em casa, a conta de energia aumenta e assim a energia solar passa a ser uma alternativa sustentável do ponto de vista ambiental e econômico, numa cidade como Maceió que tem 2.500 horas de sol por ano. Além de que a pauta do saneamento básico, após uma crise sanitária desta magnitude, será o principal tema de exploração para infraestrutura urbana. Um dos relatos desta crise é justamente a falta de água potável para higienizar a grande parte da população que vive em áreas de vulnerabilidade. Maceió tem 250 mil habitantes de grotas, não saneadas. E muito além disto que não tem sequer esgoto tratado. Paraíso das águas...
A maior consequência deste vírus será, de fato, o aumento das desigualdades. Seja de renda com mais gente desempregada. Do sistema de saúde, demonstrada a fragilidade no atendimento em escala. Das crianças que terão calendário escolar afetado na rede pública, aumentando o déficit de aprendizagem e abandono escolar. Apesar de no ensino privado escolas inovarem em métodos digitais para manter atividade pedagógica. Serão desigualdades diversas.
Entretanto são os momentos de crise que nos dão oportunidade para identificar os erros e planejar os acertos. E a solução disto é a gestão pública urbana baseada em dados com planejamento assertivo. Um novo mundo está vindo. Preparemo-nos!
*Ricardo Santa Ritta
É bacharel em administração e em direito, foi analista do Sebrae, assessor especial do Ministério da Agricultura e Secretário Nacional de Irrigação e participa ativamente de vários movimentos políticos, entre eles o RenovaBR