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Maceió pede socorro: as súplicas de uma cidade inteira abafadas pelos escombros

Por Wanessa Wanderley 30/11/2023 16h04 - Atualizado em 30/11/2023 17h05
Maceió pede socorro: as súplicas de uma cidade inteira abafadas pelos escombros
Protesto de artistas alagoanos - Foto: Reprodução

Nós brasileiros fomos abençoados por uma localização geográfica que nos livra de grandes desastres naturais, a possibilidade de passarmos por grandes terremotos é praticamente nula, isto se deve à localização do território brasileiro em relação às placas tectônicas, em poucas e singelas palavras, estamos longe das bordas, onde ocorrem os deslizamentos e atritos entre essas placas, ou seja, estamos localizados no meio da placa Sul-Americana. Esta breve introdução serve para adentrarmos em uma questão grave que envolve tremores em uma das capitais mais lindas e visitadas do país.

Maceió está sofrendo com graves desastres naturais, tremores, crateras, no entanto nada disso vem sendo causado pela fúria da natureza, mas sim pela sede do lucro que explora desenfreadamente o subsolo da capital alagoana e atinge vidas e histórias. Após cinco anos do desastre impetrado pela Braskem, que por décadas transformou o subsolo da cidade em uma gigantesca mina, o que desencadeou o afundamento de bairros tradicionais como Pinheiro, Bebedouro e Bom Parto, evacuando a população e transfigurando parte da cidade em um cenário digno de faroeste, experimentamos novamente o terror em um cenário de eminente colapso.
Mais uma vez os moradores da região, desta vez no bairro do Mutange, experimentam a sensação de desespero ao serem evacuados de suas próprias casas, sem sequer um amparo das autoridades ou destino certo. Cinco anos de negociações infrutíferas na justiça e uma tentativa de fechar e estabilizar as 35 minas na região desde 2019 - às custas de muita pressão social - não sanaram sequer os prejuízos que caíram no colo das milhares de famílias afetadas em 2018. Agora a fila de dominós está ruindo descomedida e só agora, ao atingir o limite, as autoridades se movem para tentar conter os avanços.

Uma tentativa desesperada que poderia ser amenizada se as devidas providências tivessem sido tomadas assim que os alertas foram dados, mesmo em meio ao caos, lá em 2019, o primeiro limite foi atingido, mas os contratos, as politizações e a ganância calaram, cegaram e ensurdeceram aqueles que tinha o poder nas mãos para salvar a população de uma tragédia ainda maior, e ela veio à galpões, ou até pior, à jato, agora ação (impudente) humana soma-se à fúria da natureza que, degradada e negligenciada, avança sobre quem estiver na sua frente e, neste caso, acima dela.

A capital alagoana está condenada, ao menos metade dela, e tudo que vem sendo feito é literalmente um “tapa buraco” parco que não irá sanar a curto prazo todas as avarias estruturais, financeiras, emocionais e históricas que adoecem uma cidade com tanto potencial. Enquanto isso a população, principalmente a que foi atingida, berra no escuro, é soterrada em meio aos destroços deixados nas construções rachadas e solos “acraterados”, os gritos de socorro e as súplicas por soluções ecoam entre as rachaduras, em meio ao pó, e por fim se perdem nas ruas vazias da “cidade fantasma” construída pela Braskem.

A omissão das autoridades teve um preço, e ele está sendo cobrado cada vez mais caro. Podem desembarcar por aqui a defesa civil nacional, o exército, a força nacional, o FBI ou o Papa, tudo o que deveria ser feito, acertado em conjunto com a população e devidamente planejado para evitar desastres futuros está desmoronando sem dó na cabeça de todo mundo, e ainda há quem lucre com isto, afinal, agora a cidade conta com uma explosão nos preços do metro quadrado e um custo de vida cada vez mais absurdo.

Mesmo com todas os alertas da própria população local que tentou por diversas vezes serem indenizados e saírem do local sob a justificativa de que o bairro estava condenado, o poder público tratou de usar malabarismo para convencer os moradores de que ali ainda havia condições de moradia, tudo para abafar o que estava por vir e empurrar com a barriga a responsabilidade de fazer definitivamente algo concreto que desse, pelo menos, início à resolução do problema. Agora é usar da truculência da justiça e do estado para arrancar aquelas pessoas dali, do dia para a noite.

Para uma conversa mais técnica, de acordo com a própria Braskem, que vem monitorando o local, foram registrados microssismos e movimentações atípicas no solo em local específico nas proximidades do Mutange, a situação vem se intensificando e caso haja uma ruptura na região a cidade inteira poderá sentir, serviços como abastecimento de água, fornecimento de energia e gás poderão ser afetados em parte da cidade e toda Maceió irá sentir os tremores em caso de ruptura em cadeia dessas cavernas.

Não vale a pena entrar no mérito de gestores da cidade que vêm ou não fazendo acordos financeiros com a Braskem, a questão concreta é: quem está sendo beneficiado com esta tragédia e por quê tanta omissão diante de uma situação tão grave? Decerto este questionamento ecoa principalmente entre as famílias atingidas, cinco anos de luta e sofrimento não são cinco dias, é meia década de perguntas sem respostas, de batalhas sem vitória e de uma tragédia tantas vezes anunciada. Maceió pede socorro!

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