Teoria da Ferradura: deputados alagoanos de grupos rivais "viajam" juntos na onda da maconha
Deputados do MDB e do PL, de grupos políticos rivais, defenderam, no mesmo dia Projetos de Lei para desestimular o uso de drogas ilícitas em áreas públicas - o que é proibido por lei
Os deputados estaduais alagoanos Alexandre Ayres (MDB) e Cabo Bebeto (PL) enviaram à imprensa no mesmo dia, através de suas assessorias de comunicação, releases apresentando seus mais novos feitos. No caso do emedebista, um Projeto de Lei que quer proibir o uso de maconha em locais públicos de Alagoas, enquanto o liberal Bebeto quer multa para quem for flagrado usando drogas ilícitas.
Alexandre e Bebeto unem-se para limitar o que já é proibido por lei. Os dois parlamentares surfam na onda do momento e dão, de forma rasa, continuidade a um debate que poderia ser mais sério, acerca da questão das drogas e suas complexas causas e consequências que passam pelos temas da saúde e segurança pública, mas dizem muito também sobre os desafios raciais e carcerários brasileiros.
Ora, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) discutiu - e aprovou por maioria - a descriminalização da maconha em território nacional, o ex-secretário de saúde Ayres, que apoiou Lula nas últimas eleições, considerado um político de esquerda, e seu colega, o ex-policial Bebeto, fiel apoiador das políticas bolsonaristas, de extrema-direita, sentam-se juntos para surfar na onda da moral proibicionista, esquecendo o quanto se gasta, se mata e se morre por uma guerra às drogas que até hoje não chegou a lugar nenhum. Ou até chegou, se contar a cor e o poder financeiro daqueles que morreram, inclusive os policiais.
A falácia da teoria da ferradura encontrou "brecha", com todos as suas aspas e poréns, para tornar-se real na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE).
Os projetos dos dois deputados querem desestimular o uso em áreas e logradouros públicos. Bebeto quer multa, de forma preventiva e pedagógica - sanções administrativas - exercendo uma política mais branda em se tratando do punitivismo da lei. Ayres quer "proteger a maioria da população alagoana", definindo o possível uso apenas para estabelecimentos específicos e exclusivamente destinados ao consumo no próprio local.
Esquecem eles que o uso de cannabis continua proibido em locais públicos em todo o território nacional, incluindo Alagoas. Os excelentíssimos ignoram, por ventura, que a maconha não foi legalizada e fazem parecer que as pessoas vão sair consumindo o entorpecente a torto e a direito por aí. Promovem, ao final, promoção com um tema da moda, jogam para o público, sem aprofundar um debate que chegou ao STF, mas que precisa ser difundido junto à sociedade alagoana.