Ao buscar apoio dos adversários, JHC admite não ter voto para ser governador
Nem sempre os políticos – mesmo os mais ativos e antenados – atentam para as entrelinhas de suas conversas ou para os múltiplos significados de sus iniciativas, a exemplo do que está acontecendo com o prefeito João Henrique Caldas, de Maceió.
Após absorver o golpe da derrota de seu PL (Partido Liberal) em todos os municípios onde concorreu no interior de Alagoas, JHC voltou-se para seu próprio desempenho em Maceió, onde o PL obteve grande, mas única vitória em Alagoas.
Daí a se atribuir protagonismo e alto poder de decisão, voltando-se, já agora, para o processo sucessório estadual de 2026, foi um passo, o que se configurou com o anúncio, já amplamente divulgado, de que vai procurar o presidente Lula para tentar fechar um acordo político voltado para as próximas eleições.
Segundo informação do colunista Lauro Jardim, de O Globo (matéria amplamente divulgada), o prefeito reeleito está pronto para discutir com o presidente da República a seguinte proposta: Lula e as forças políticas que o seguem, em Alagoas, apoiam JHC para governador e Artur Lira para o Senado, enquanto o bloco majoritário que, venceu as eleições municipais elegendo 65 dos 102 prefeitos alagoanos, terá como contrapartida apoio dos derrotados para a reeleição do senador Renan Calheiros.
Ao formular esse tipo de composição – e deve ser isso mesmo, uma vez que o prefeito não desmentiu, corrigiu ou desautorizou o jornalista Lauro Jardim – o vitorioso João Henrique Caldas cometeu um ‘erro de endereço’ e deixou escapar uma admissão que demole os pilares de sua fortaleza política, a saber:
- Endereço errado – Buscar Lula para pedir a indicação de uma tia para o Superior Tribunal de Justiça faz sentido, o que não faz é procurar o líder nacional do PT para decidir uma questão política que, por óbvio, cabe ao MDB de Alagoas. Afinal, foi o grupo emedebista que venceu a eleição e cujo principal líder e articulador é justamente o senador Renan Calheiros. Aqui, cumpre lembrar que, ano passado, quando pensou em se compor para as eleições de 2026, o deputado federal Artur Lira procurou Renan Calheiros, e não o presidente Lula.
- Admissão de fraqueza – Ao decidir sair em busca de apoio dos adversários para assegurar sua própria eleição ao governo de Alagoas (e olhe que isso está sendo trabalhando antes mesmo de sua posse para o segundo mandato), JHC faz uma incrível, primária e elementar confissão de impotência, pois não procuraria respaldo na casa do inimigo se confiasse no potencial de seu grupo e na sua própria força.
Nessa, que parece ser apenas uma jogada inicial no tabuleiro do xadrez político alagoano, o prefeito de Maceió parece não ter em conta a extensão da amizade de Lula com Renan Calheiros.
JHC também demonstra ter esquecido que, na batalha sucessória estadual de 2022, enquanto ele, o prefeito de Maceió, quebrava lanças para eleger o amigo Rodrigo Cunha governador (e assim, já então, abriria caminho para sua mãe, Eudócia Caldas, assumir a vaga no Senado, como suplente de Cunha), Lula saía de Brasília rumo a Maceió para, em cima de um caminhão percorrendo as ruas da capital, defender a eleição de Paulo Dantas ao governo.
Em busca de êxitos políticos e de sucesso pessoal, JHC já deixou evidente, em mais de uma oportunidade, que não faz a menor questão de se unir a adversários (é só atentar para os casos recentes de David Filho e Alfredo Gaspar), mas se ilude ao achar que Lula pode decidir os rumos da política alagoana ignorando a posição e as opiniões de aliados como Renan Calheiros, Paulo Dantas, Renan Filho, Marcelo Victor, Ronaldo Lessa.
Nos meios políticos já é fácil captar comentários que convergem para uma inescapável conclusão: ao se mover em busca de apoio dos próprios adversários, JHC indica claramente que topa disputar o governo, desde que possa fazê-lo sem correr nenhum risco...