Reduzir carga de trabalho pode fragilizar empresas e elevar desemprego
Se vivo fosse, Bertrand Russel com certeza estaria engajado ao movimento em defesa de ‘menos trabalho e mais lazer’ para os trabalhadores brasileiros e do mundo. O filósofo britânico era um apologista da ociosidade – sem desmerecer a importância do trabalho – e virou referência da luta por mais lazer para todos. Pregava mais tempo ocioso em função do bem-estar.
A memória do pensador inglês emergiu em meio ao debate sobre o fim da escala 6x1 (seis dias de trabalho e um de descanso semanal), em discussão no Congresso Nacional. A rigor, a escala 6x1 não abrange o conjunto dos trabalhadores, mas determinados segmentos. Os defensores da escala 5x2 (cinco dias de trabalho e dois de descanso) também questionam o que consideram ‘falta de direitos’ dispensados à classe trabalhadora brasileira.
Verdade que nossos assalariados não têm ‘direitos de sobra’, mas também não seria incorreto afirmar que conquistaram vários e relevantes direitos e benefícios ao longo da história. Desde a aprovação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), espécie de ‘constituição trabalhista’ concebida por Getúlio Vargas, aos dias atuais, os trabalhadores passaram a contar com carteira assinada, garantia de salário mínimo, férias, FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), 13º salário (também chamado de gratificação natalina), Seguridade Social, aviso prévio, horas extras, semana inglesa, por aí.
A campanha pró escala 5x2 naturalmente ganha adeptos, mas especialistas também consideram ‘faca de dois gumes’: de um lado, amplia o tempo de descanso, mas, por outro, pode provocar desemprego e até inviabilizar muitas empresas. A corda é fina e, esticada demais, parte. E é sempre válido lembrar que abrir e manter empresa exige empenho, trabalho, dedicação e risco de perdas com o capital investido. Sem contar que, para muitos, aplicar no mercado financeiro pode ser mais cômodo e lucrativo.
Talvez a análise de tudo isso explique por que os sindicatos não demonstram interesse e menos ainda empolgação pela proposta de aumentar o tempo de lazer dos trabalhadores, em tramitação no Parlamento. Os mais experientes enxergam o projeto como mais uma investida populista, quem sabe inconsequente, que pode acabar como um ‘tiro no próprio pé’. Diante disso talvez o risco de uma onda de desemprego devesse ser levado em conta agora, antes de se partir para uma mudança que, lá adiante, poderá pesar mais contra do que a favor dos nossos trabalhadores.
Acrescente-se a isso o fato de que o Brasil é um país campeão em feriados, muitos deles caindo em segundas e sextas-feiras e proporcionando os ‘feriadões’. Só para se ter uma ideia, em novembro tivemos Finados, Proclamação da República e Consciência Negra...
PLANO DO GOLPE VAI ALÉM DO PENSAMENTO
A investigação sobre o plano golpista para impedir a posse de Lula envolve irremediavelmente o ex-presidente Bolsonaro. O que a Polícia Federal investigou e descobriu é muito grave. Não se trata de delações premiadas, são conversas gravadas, diálogos vivos, farto documentário identificando todos os envolvidos na trama golpista que incluía até a execução do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre Moraes.
O SUPREMO, OS SÍMBOLOS RELIGIOSOS E SAKAMOTO
Colunista do UOL, um dos sites noticiosos mais acessado do Brasil, o jornalista Leonardo Sakamoto discorreu longamente sobre julgamento ainda em curso no Supremo Tribunal Federal, para chamar de 'retrocesso' a decisão, já tomada pela maioria dos ministros, de permitir uso de crucifixos, imagens de santos e outros símbolos religiosos em prédios públicos, e aqui vale lembrar que o próprio STF mantém a imagem de Cristo Crucificado na parede central de seu plenário.
ESTADO É LAICO, MAS MAIORIA DO POVO TEM FÉ
Em seu comentário, Sakamoto - colunista de visão crítica e texto afiado - argumenta a condição laica do estado brasileiro sem levar em conta a formação cultural e religiosa da sociedade mais católica do planeta. Além disso, lembra que, além dos cristãos (católicos, evangélicos), o país abriga segmentos com outras convicções religiosas e também sem convicção nenhuma - os ateus, entre os quais o nobre jornalista se inclui.
E OS NOMES DE CIDADES, ESTADOS E VIAS PÚBLICAS?
É só questão de ponto de vida, de opinião pessoal. Afinal, de repente pode aparecer alguém mais radical do que Sakamoto sustentando que, para avançar como estado laico, o Brasil deve mudar o nome da cidade de São Paulo, do Estado de São Paulo, da capital São Luís (MA), da Av. Nossa Senhora de Copacabana (RJ), do Largo de São Francisco (SP), de Aparecida do Norte e de tantas outras denominações como essas postas em centros urbanos e vias públicas. E aí?