8 de Março: Ressignificar para Avançar, Nunca Retroceder

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, não é uma data festiva. Não deveria ser resumido a flores, descontos em lojas ou mensagens prontas exaltando a “delicadeza feminina”. A origem desse dia é marcada pela luta de mulheres trabalhadoras que enfrentaram condições insalubres, salários indignos e a total ausência de direitos básicos. É uma data de resistência, de memória e, principalmente, de compromisso com a continuidade da luta por igualdade.
No Brasil, ainda há muito o que ser feito. Os desafios impostos às mulheres são estruturais e não podem ser resolvidos apenas com discursos. São necessárias políticas públicas eficazes que garantam segurança, dignidade e oportunidades reais. E, diante de qualquer tentativa de retrocesso, precisamos ser intransigentes na defesa dos direitos conquistados com tanto esforço.
A Mulher Negra e a Base da Luta Social
É impossível falar sobre os desafios das mulheres sem destacar a realidade das mulheres negras. Elas enfrentam não apenas o machismo estrutural, mas também o racismo que impõe barreiras ainda mais difíceis de transpor. A frase da ativista Angela Davis resume essa interseccionalidade de forma brilhante:
“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”
Essa afirmação nos lembra que qualquer avanço na luta das mulheres precisa incluir o recorte racial. No Brasil, a mulher negra é a que recebe os menores salários, tem menos acesso a direitos e, paradoxalmente, é a que mais sustenta lares sozinha. Segundo dados do IBGE, a informalidade atinge um número alarmante de mulheres negras, enquanto a violência doméstica e o feminicídio continuam a fazer vítimas diárias.
Portanto, ressignificar o 8 de março é também lutar por políticas públicas que levem em consideração as desigualdades raciais. Não podemos aceitar que medidas afirmativas sejam desmanteladas sob o pretexto de “igualdade formal”. A igualdade real só será possível quando todas as mulheres, independentemente de sua raça e condição social, tiverem garantidos seus direitos de maneira plena.
Mais Ação, Menos Retórica
Em tempos de retrocessos e cortes de investimentos em políticas voltadas às mulheres, nosso papel é de resistência. Precisamos cobrar a implementação e ampliação de mecanismos como:
• O fortalecimento da rede de proteção contra a violência de gênero;
• A ampliação do acesso ao mercado de trabalho para mulheres negras e periféricas;
• A criação de políticas que garantam creches e suporte para mães solo;
• O fortalecimento das cotas raciais e de gênero nos espaços de poder.
O 8 de março precisa ser um chamado para a ação. É um dia de lembrar as conquistas, mas, principalmente, de reafirmar que não aceitaremos retrocessos. O respeito e a igualdade não são favores; são direitos. E se ainda há quem tente silenciar nossa luta, seguiremos movendo as estruturas até que todas as mulheres tenham voz, vez e dignidade.
Seguimos!

Sandra Gomes é mãe, mulherista e ativista social. Advogada Criminal, Pós Graduanda em Direito Penal e Processual Penal, Pós Graduanda em Direito Médico. É ex Presidente da Comissão da Igualdade Racial da Abracrim AL e Ex Vice Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL.