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'Prova' de gases alienígenas em planeta distante anunciada por Cambridge é questionada

Detecção de possível bioassinatura no planeta a 124 anos-luz da Terra levanta debate na comunidade científica internacional

Por Page Not Found 23/04/2025 18h06
'Prova' de gases alienígenas em planeta distante anunciada por Cambridge  é questionada
Ilustração do planeta K2-18b, um mundo distante que pode abrigar vida - Foto: Divulgação

Cientistas da Universidade de Cambridge anunciaram, na semana passada, a possível detecção de dimetil sulfeto (DMS) na atmosfera do exoplaneta K2-18b, localizado a 124 anos-luz da Terra, na constelação de Leão. O achado foi feito a partir de dados coletados pelo Telescópio Espacial James Webb e publicado no periódico Astrophysical Journal. Na Terra, o DMS é produzido quase exclusivamente por organismos vivos, especialmente por fitoplâncton marinho, o que levou os autores do estudo a classificá-lo como uma bioassinatura potencial de vida extraterrestre.

A equipe de Cambridge afirmou ter identificado o DMS com uma significância estatística de três sigma, o que corresponde a uma probabilidade de 99,7% de que a detecção não tenha ocorrido por acaso. Segundo os pesquisadores, este seria o sinal mais forte até hoje de possível atividade biológica fora do Sistema Solar.

O anúncio, no entanto, foi recebido com cautela e críticas por parte de especialistas da área. Astrobiólogos de diferentes instituições apontaram fragilidades na metodologia e no nível de evidência apresentado, sugerindo que a interpretação pode ter superestimado os dados.

Manasvi Lingam, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Flórida, afirmou que considerar confirmada a presença de DMS é "prematuro" e ressaltou a necessidade de análises independentes. Para ele, ainda não é possível estabelecer qualquer afirmação sobre a habitabilidade do planeta.

Eddie Schwieterman, da Universidade da Califórnia, em Riverside, destacou a ausência de etano nos espectros analisados. De acordo com ele, a radiação ultravioleta da estrela que orbita K2-18b deveria quebrar as moléculas de DMS, produzindo etano como subproduto. A ausência desse composto sugere, segundo o pesquisador, inconsistências nos modelos utilizados ou mesmo a possibilidade de que o DMS não esteja presente.

Além disso, críticos apontam que a detecção do composto foi feita no limite da capacidade do Telescópio James Webb, o que poderia comprometer a robustez dos dados. Outro ponto levantado é que o modelo espectroscópico utilizado na análise pode ter favorecido a identificação do DMS, inflando artificialmente sua presença.

Christopher Glein, cientista planetário do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, no Texas, afirmou que a descoberta deve ser vista com interesse, mas também com moderação. “A busca por vida fora da Terra exige múltiplas linhas de evidência consistentes. Este pode ser mais um de muitos falsos alarmes que encontraremos pelo caminho”, afirmou.