Cooperativismo
Um caso inédito no país: fundo de agricultores familiares de AL salva “banco” de falência
A parceria da Unicafes-AL com a Cooperagre deu tão certo que Antonino Cardozo foi convidado para ajudar no seu processo de reestruturação
Na prática cooperativa de crédito é um banco. A diferença é que cada cooperado ou “correntista” também é dono ou “banqueiro”. E como tal está sujeita a regras do Banco Central.
Grosso modo, o que vale para Banco do Brasil, Bradesco ou Itaú também vale para uma pequena cooperativa de agricultores familiares do agreste ou sertão de Alagoas. Por regra, qualquer instituição do sistema financeiro precisa ter uma carteira de crédito no “azul” – literalmente.
Se um banco ou cooperativa de crédito não consegue comprovar que tem capacidade de pagamento no curto e médio prazos, corre o risco de entrar em liquidação – ou seja, fecha as portas – e seus diretores ou proprietários serão penalizados.
Isso já ocorreu com bancos bem conhecidos dos alagoanos, a exemplo do Produban ou nacionais, caso do Bamerindus, que tiveram sua liquidação decretada pelo Banco Central.O Produban, que era o Banco do Estado de Alagoas, teve sua primeira liquidação extrajudicial decretada em 1988, mas o processo só foi encerrado – literalmente – 33 anos depois. Nesse período, ex-diretores e acionistas enfrentaram várias restrições.
Uma pequena cooperativa de crédito do agreste alagoano, a Coopcral, que era sediada em Arapiraca, fechou suas portas a partir de 2020 porque passou a registrar prejuízos e não conseguia mais comprovar sua viabilidade financeira.
Alagoas tem, hoje, apenas 5 cooperativas de crédito. A maior delas, o Sicredi Expansão, tem mais de 40 mil cooperados e uma carteira de mais de R$ 1 bilhão. Além dela, tem Sicoob e Cresol que funcionam de formas semelhantes – vinculadas a uma grande rede nacional de cooperativas e, por isso, tem estrutura de serviços mais completa.
Outras duas cooperativas de crédito existentes no Estado funcionam isoladamente, é o caso da Coplan, Cooperativa de Crédito dos Plantadores de Cana, instituição sólida, sediada em Maceió, que tem mais de 80 anos de “estrada”.
A outra “isolada” é a Cooperativa de Crédito Rural do Agreste de Alagoas (Cooperagre), sediada em igaci. Fundada há 16 anos, a instituição que reúne hoje 1.183 cooperados esteve á beira da “falência” – ou liquidação pelo Banco Central em 2022.
A Cooperagre, em situação semelhante à Coopcral, vinha registrando balanços com patrimônio líquido negativo. Com prejuízos registrados mês a mês e uma carteira que não dava sequer para pagar as despesas mensais, a cooperativa recebeu um “ultimato” do Banco Central em agosto do ano passado. Se não conseguisse comprovar sua viabilidade, seria fechada. Seria…
Um caso inédito – que não deixa de ser também uma feliz coincidência – ajudou a tirar a Cooperagre da “UTI” do Banco Central.
O então presidente da cooperativa, Alexandre Lima, procurou a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária em Alagoas em busca de ajuda. Ele encontrou o presidente da Unicafes-AL, num momento único.
“Alexandre chegou para conversar com a gente no momento em que a Unicafes-AL estava preparando o lançamento do Funcafes, que é um fundo financeiro formado por cooperativas de produção para financiamento da agricultura familiar. Nós entendemos o problema e avaliamos que poderíamos ajudar a salvar uma cooperativa que tem uma história e um importante papel na agricultura familiar do agreste alagoano”, aponta.
O Funcafes foi autorizado a fazer um aporte de capital na Cooperagre da ordem de R$ 680 mil. O valor ajudou a transformar o que seria uma liquidação em uma recuperação.Antonino lembra que o lançamento do Funcafes foi feito pelo governador Paulo Dantas e pela Unicafes-AL, durante a Expobacia Leiteira, em setembro de 2022.
“Dissemos na época ao governador que esse fundo é um importante instrumento para financiar a agricultura familiar e para fomentar projetos de economia solidária. E de fato é. Agora mesmo recebemos a informação de o plano de recuperação da Cooperagre junto ao Banco Central, que antes era de 48 meses foi reduzido para 18 meses”, aponta Cardozo.
A parceria da Unicafes-AL com a Cooperagre deu tão certo que Antonino Cardozo foi convidado para ajudar no seu processo de reestruturação. Ele aceitou a missão e nesse domingo (05/03) foi eleito presidente da cooperativa e terá Alexandre como seu vice.
“Vamos trabalhar para, em breve, transformá-la numa cooperativa de abrangência estadual num primeiro momento. Para começar, a Unicafes e todas as usas cooperativas vão abrir contas na Cooperagre. Nós também vamos cooperar a base de todas as nossas cooperativas. No caso da Coopaíba (da qual também Antonino é presidente) devemos ter entre 600 e 1,2 mil novos cooperados nas próximas semanas. Nossa meta é chegar ao final deste ano com pelo menos 3 mil cooperados na Cooperagre”, adianta.
Além disso, explica Antonino, o objetivo é ampliar a ofertas de produtos e serviços da Cooperagre, com o uso de aplicativos e novas linhas de crédito. “Pensamos, por exemplo, em lançar uma linha de crédito para de atender as mulheres que são cooperadas e que fazem parte do Bolsa Família”, afirma.
Para a expansão da rede de atendimento, o plano é abrir escritórios ou agências em outras cidades. “Queremos transformar a Cooperagre num instrumento de financiamento da agricultura familiar não só de Igaci, mas de toda Alagoas. Para isso, vamos recuperar e reorganizar a cooperativa, transformando-a numa referência para o país e mostrando que é possível sim parcerias importantes como a realizada aqui em Alagoas entre Unicafes-Al e Cooperagre”, aponta.