Cooperativismo
Tecnologia e diversificação impulsionam coop da agricultura familiar
Cooperativa tem diversificado produção e superado desafios para prosperar
Fundada em 2011, com sede em Santa Maria de Jetibá, a Cooperfruit agrega mais de 300 cooperados, que são da agricultura familiar. A cooperativa produz principalmente morangos, atendendo ao mercado privado e também órgãos públicos com produtos para a alimentação escolar nas redes municipais e estadual de ensino. Na reunião da Comissão de Cooperativismo da Assembleia Legislativa do Espírito Santo desta terça-feira (12), o presidente da Cooperfruit, Washington Henrique Machado, falou sobre peculiaridades da cultura, o uso de tecnologias e técnicas de cultivo.
De acordo com Machado, o maior desafio da produção de morango é a sazonalidade. “Enfrentamos períodos de supersafra, quando chega no verão ele produz bastante, o que gerava uma perda muito grande. (…) A cooperativa foi criada com a intenção de aproveitar esse morango na indústria, para fazer polpa de fruta e gerar mais renda na região, não ficando na mão de apenas um atravessador”, explicou.
Distribuição de mudas
A Cooperfruit entrega em torno de 900 mil a 1 milhão de mudas por ano aos seus cooperados. “Todo mundo tem que renovar o plantio e é uma tarefa de bastante responsabilidade. Essa muda vem (do sul de Minas Gerais), a uma temperatura de –2 graus célsius, em um caminhão específico, refrigerado, tem que ser entregue em até 24 horas, é um trabalho bem árduo”, relatou o presidente da coooperativa, que está instalada no bairro Garrafão.
“Por isso que o morango tem esse valor final, na ponta, mais caro. Tem um trabalho, uma dedicação muito extensa por trás, lá no campo. São pequenos agricultores, você não consegue dar muita escala para a produção do morango devido à mão de obra, porque é muita mão de obra especializada. Então, muito dificilmente você vai encontrar uma grande fazenda com produção de morango”, pontuou Machado.
O convidado explicou que a cooperativa não atua somente no plantio e na colheita e que pretende aumentar a produção. “Da muda até o supermercado, a cooperativa faz toda a cadeia. Em pequena escala ainda, mas o nosso sonho é aumentar essa escala. Precisou da muda de morango, de adubo, de assistência técnica, trator, caminhão, câmara fria, energia solar, apoio administrativo e financeiro, entrega para as lojas, tudo isso a gente tem”, disse.
Diversificação
A Cooperfruit vem expandindo a área de atuação. Além de morango, a cooperativa também atua na produção de feijão, goiaba, manga, mexerica, tomate, pimentão, abacaxi, cenoura, alface, beterraba, quiabo, entre outros.
“Nós vimos então a necessidade de industrializar esses produtos, eles estavam sendo comercializados de uma forma muito básica. A perda desse produto, até chegar lá na ponta, era de 30% a 40%. (…) Então a cooperativa foi percebendo que era importante investir em tecnologia, em embalagem, em processamento, e começamos a diversificar a base operacional da cooperativa”, explicou.
Cultivo protegido
Outra tecnologia desenvolvida é a técnica do cultivo protegido, diminuindo consideravelmente os riscos de prejuízo na colheita. “O cultivo protegido hoje é muito importante no estado do Espírito Santo, principalmente na Região Serrana, com o tomate, o pimentão. Porque o cultivo a céu aberto, com o aquecimento global, as intempéries climáticas, traz um risco muito alto para o produtor”, argumentou o presidente.
“Então quando a gente traz a estufa, o cultivo protegido faz um maior controle e também resulta em maior qualidade desse produto. Nós temos dois engenheiros agrônomos que são especialistas em cultivo protegido, semi-hidropônico e hidropônico. É tudo controlado, o ambiente da produção de morango, de tomate, nós trocamos a nossa linha de fertilizantes, agora usamos um fertilizante especial, próprio para esse tipo de cultura. Nós fizemos um investimento alto e estamos caminhando em busca de novos mercados”, revelou.
O presidente do colegiado, deputado Allan Ferreira (Podemos), falou com entusiasmo do exemplo da cooperativa. “Se esses produtores não tivessem essa aglutinação, não teríamos força para hoje estar gerando tanto emprego e renda, mantendo os jovens na terra, que sabemos que é hereditária, já que hoje os jovens querem vir para as cidades, para os grandes centros”, afirmou.
“Então, o cooperativismo além dessa inclusão, tem essa importância de manter os jovens no campo, de mostrar pra eles que lá no interior, lá nas terras que são de seus pais, de suas famílias, tem uma forma de gerar emprego e renda, através dessa inclusão, dessa união que o cooperativismo traz”, complementou o parlamentar.
Perfil empresarial
Membro efetivo da comissão, o deputado Callegari (PL) falou sobre o perfil cada vez mais empresarial do setor. “O cooperativismo é sem dúvida uma ferramenta muito importante para fortalecer a agricultura familiar, que é mesmo fundamental. Eu considero inclusive ultrapassada essa divisão entre agricultura familiar versus agricultura empresarial. Eu não gosto porque dá um viés um tanto quanto ideológico”, argumentou.
“Na verdade, nós sabemos que a agricultura familiar hoje tem que ser empresarial. Se o agricultor familiar não tiver o perfil empresarial, ele não sobrevive. (…) O pequeno agricultor tem que ser o empresário do seu sítio e as cooperativas são muitas vezes as ferramentas para isso, o elemento para levar tecnologia e conhecimento para esse agricultor e ao mesmo pra levar pro produto desse agricultor para os grandes mercados”, concluiu Callegari.
Economia
Representante da Organização das Cooperativas do Brasil no Espírito Santo (OCB/ES), Davi Duarte trouxe alguns números do Anuário do Cooperativismo Capixaba de 2022 que chamam a atenção. Dentre eles, a participação das cooperativas no Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo em 2021 que foi de 5,5% e que deve apresentar aumento na próxima edição que tem previsão de lançamento para o próximo mês.
“Fechamos 2021 com cerca de 638 mil associados, nas 119 cooperativas. Cerca de 9.900 colaboradores, empregados celetistas diretos dessas cooperativas. (…) O cooperativismo capixaba em 2021 contribui ao governo do Estado, aos municípios e ao governo Federal, com algo em torno de R$ 680 milhões em impostos e tributos, isso não é pouca coisa”, concluiu.