Cooperativismo

Iniciativa inédita reúne 52 cooperativas da agricultura familiar em rede de intercooperação

Por MundoCoop 08/11/2023 15h03
Iniciativa inédita reúne 52 cooperativas da agricultura familiar em rede de intercooperação
Cooperativismo avança cada vez mais no Brasil - Foto: Reprodução

Imagine poder contar com uma rede de apoio, onde diferentes mecanismos agem diariamente para trazer as melhores condições de trabalho, obtenção de recursos e capacidade de negociação. Foi a partir da necessidade de fortalecer os processos de intercooperação entre as cooperativas da agricultura familiar, que a Redecoop surgiu em 2017 e hoje, agrega 52 cooperativas da agricultura familiar em 31 municípios do estado do Rio Grande do Sul, impactando 13 mil famílias.

Com foco em aspectos operacionais de organização da gestão e logística, a Redecoop tem se consolidado como uma das maiores estratégias de intercooperação já vistas no Brasil. Durante a pandemia, a rede criada foi responsável por mobilizar agricultores familiares, entidades e consumidores para enfrentar os impactos sociais e econômicos decorrentes da pandemia de coronavírus. Na logística, hoje são mais de 1.000 pontos de entregas semanais através dos processos de intercooperação.

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Alcione Piasentin Claro, Presidente da Redecoop

Construindo uma sólida ponte entre todos os cooperados presentes nas cooperativas da rede, Alcione Piasentin Claro e Bruno Engel Justin, Presidente e Coordenador da Redecoop, respectivamente, destacam que o principal foco da iniciativa sempre foi, desde a sua fundação, a criação de um vínculo maior no setor. “O objetivo é que exista um diálogo entre as cooperativas e o processo de intercooperação aconteça através da organização conjunta de mercados e compartilhamento de carga, ou seja, entregar os alimentos de diferentes regiões e cooperativas no mesmo veículo, garantindo maior viabilidade”, comentam.

Com a intercooperação sendo o principal pilar da iniciativa, o projeto não traz benefícios apenas para as cooperativas, mas principalmente para os cooperados e comunidades onde elas estão presentes. Segundo Alcione e Bruno, a singularidade criada entre as associadas tem trazido resultados imensamente positivos, e tal diálogo forte e contínuo, transparece nos resultados cada vez maiores, em melhores práticas das cooperativas e ainda, na profissionalização dos negócios admnistrados pela Rede.

Com cooperativas pequenas compondo o quadro de associadas à rede, tal integração de processos e união de forças do setor, tem impacto direto na ponta da linha, criando condições para que tais cooperativas possam explorar o seu potencial máximo. “O impacto é maior principalmente nas cooperativas que possuem uma estrutura logística mais limitada e cooperativas que estão em regiões mais distantes da capital do Estado. Também nesse sentido, são construídos processos de logística reversa, promovendo intercooperação de produtos entre as regiões e gerando complementaridade na oferta dos alimentos. Dessa forma, a Redecoop potencializa os mercados das cooperativas associadas e contribui na redução de custos na operacionalização dos mesmos”, explicam.

Ainda no escopo das atividades está o desenvolvimento de um importante papel de representante comercial dos associados, utilizando parceiros como a Emater para auxiliar as cooperativas e a própria Rede nos processos de gestão. Com tamanha organização, rapidamente os cooperados passaram a contar com processos mais refinados em seus negócios, mantendo a essência, mas ganhando a pujança necessária para conquistar novos mercados. “Através dessa organização é possível ter um portfólio potente de produtos, com diversidade e capacidade de produção, que geram confiança e garantem o atendimento dos mercados”, frisam Alcione e Bruno. Para eles, criar estratégias que fortaleçam essa conexão deve ser um dos pilares do cooperativismo como um todo, visando fomentar e consolidar o setor. “O diálogo e a troca de informações entre as cooperativas é fundamental para o fortalecimento do cooperativismo”, reafirmam.

Impacto estadual


Responsável por agregar um vasto número de cooperativas da agricultura familiar, a Redecoop representa uma fatia expressiva do cooperativismo gaúcho. Sendo um dos estados que mais se desenvolvem quando realizado o recorte do setor, o Rio Grande do Sul tem buscado reforçar suas iniciativas de apoio às cooperativas, traçando metas e planos que dão as condições necessárias para que o setor se fortaleça. Entre os planos em andamento, está o RSCOOP150, que prevê metas para que o cooperativismo gaúcho alcance os R$150 bilhões em faturamento até 2027 e que foi explicado com mais afinco pelo presidente do Sistema Ocergs, Darci Hartmann, em entrevista à MundoCoop no início deste ano.

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Bruno Engel Justin, Coordenador da Redecoop

Iniciativas como essa, apontam Alcione e Bruno, são fundamentais para viabilizar que as cooperativas continuem o seu trabalho e levem mais impacto para as comunidades. Neste contexto, não cabe apenas às cooperativas buscar os mecanismos para que haja um trabalho consistente, mas também a participação das próprias organizações representativas, que possuem um compromisso com os cooperados e com as cooperativas. “É fundamental que o Estado fortaleça o cooperativismo da agricultura familiar e seu modelo de organização. A grande maioria das cooperativas que fazem parte da Redecoop são cooperativas de porte local/regional, formada por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, existindo dessa forma um processo mais permanente de participação dos associados nas decisões e estratégias da cooperativa”, defendem Alcione e Bruno.

Somado a tal fator, é necessário que o atual reconhecimento da agricultura familiar como uma força nacional continue de forma sólida, ratificando iniciativas como a Redecoop como fundamentais para o fortalecimento do cooperativismo, mas principalmente como necessárias para garantir a segurança alimentar. “Essas cooperativas atuam diretamente na produção de alimentos e é fundamental pensar e estruturar as políticas que garantam a segurança alimentar e nutricional da população em geral. Para tal, é necessário garantir e investir em estrutura, seja administrativa, logística ou de produção, para que as cooperativas potencializem seus processos de organização e ampliem mercados,” completam.

Analisando os resultados até aqui, em quase sete anos de existência, Alcione e Bruno traçam um panorama positivo da experiência, e reforçam a importância de iniciativas para fomentar a agricultura familiar e o cooperativismo regional. “A avaliação é que o modelo tem funcionado muito bem, principalmente na promoção do diálogo e na construção de processos de cooperação que tragam impacto para as cooperativas e seus associados. O objetivo da Rede é que cada vez mais as cooperativas busquem dialogar em um espaço conjunto”, destacam.

Para eles, os resultados alcançados e a consequente representatividade na economia gaúcha, são sinais materializados de que, quando as cooperativas se unem em prol de um mesmo objetivo, é possível se igualar a grandes empresas e organizações, firmando o setor como um verdadeiro movimento de transformação social e econômica. “A Redecoop representa o resultado da potencialização do processo de organização do cooperativismo, que inicia com os agricultores, passa pelas cooperativas singulares, cooperativas centrais e por fim está articulada em Rede. Essa estrutura, através do mapeamento das potencialidades, expertises regionais, gargalos comuns e aproximação entre as cooperativas, pode impactar de forma extremamente positiva, gerando maior capacidade e viabilidade nos processos”, finalizam.