Cooperativismo

O papel da liderança cooperativista para despertar e estimular o pensamento criativo

A criatividade está dentro das características chamadas Soft Skills, tão estimuladas dentro do mercado

Por MundoCoop 26/12/2023 10h10 - Atualizado em 26/12/2023 10h10
O papel da liderança cooperativista para despertar e estimular o pensamento criativo
O papel da liderança cooperativista para despertar e estimular o pensamento criativo - Foto: Reprodução

O relatório StateofCreate indicou que 70% das pessoas acreditam na criatividade como uma das responsáveis pela melhora e no desempenho dos profissionais. Ela eleva em 78% da produtividade das equipes.

O estudo apontou também, que quem se define como criativo tem uma renda 13% maior do que os não criativos.

Uma pesquisa desenvolvida por Rofcanin, um professor de recursos humanos constatou que a criatividade está presente em colaboradores apoiados pelos colegas de trabalho.

Em uma entrevista para o portal Quatz At Work, o professor explicou, que os trabalhadores mais criativos são os que contam com o apoio dos colegas e são amados pelos familiares.

O estudo foi divulgado no Journal of Applied Psychology pelos acadêmicos da Espanha e da Holanda.

A pesquisa contou com a participação de 69 casais norte americanos que relataram em diários os seus cotidianos. Os que demonstraram amor, afetividade em seus relacionamentos e tiveram bons índices de suporte por parte dos seus colegas de trabalho, criaram as melhores condições e performances no trabalho.

Rocanin explica que os gestores devem apoiar mais os seus colaboradores e estabelecer ambientes em que as redes de apoio informais sejam encorajadas.

Outra pesquisa “The Science of Mind Wandering” constatou que, permitir a mente livre aumenta a nossa capacidade de ser criativo.

Habilidades como essa fazem parte das transformações ocorridas na sociedade, como a ascensão da inteligência artificial, inovações tecnológicas, os desempenhos nos vários setores e a maneira de lidar com as dificuldades.

A criatividade está dentro das características chamadas Soft Skills, tão estimuladas dentro do mercado.

A Gupy, HR Tech líder em soluções para RH na América Latina reuniu dados a partir das vagas abertas pelas mais de 3500 empresas e constatou em todas sete das competências mais requisitadas pelas organizações. Estão entre elas, a organização, autoconfiança, trabalho em equipe, relacionamento interpessoal, liderança, conhecimento técnico e pensamento criativo.

Essa última habilidade é a capacidade do colaborador, associado e cooperado encontrar soluções para os processos da empresa e da cooperativa. É importante que os candidatos sejam criativos e capazes de impulsionar inovações e aumentar a eficiência das tarefas.

Colaboradores mais criativos produzem melhor

As estatísticas são unânimes ao afirmarem, que os profissionais criativos podem fazer uma grande diferença no universo das cooperativas.

Porém, quando falamos no tema, a visão que fica é a da criatividade como sendo um dom natural.

Essa versão tem sido contestada pelos especialistas. Eles explicam que os colaboradores podem se tornar criativos, se estiverem em empresas e cooperativas que estimulem essa característica.

O especialista Fernando Wanderley, consultor de Business Agility na Stefanini IT Group, Professor da Pós-graduação em Gestão Ágil de Projetos, e Professor do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia de Software da CESAR School, lembra que desenvolver um pensamento criativo entre os colaboradores e cooperados em um ambiente de negócios, incerto e volátil, é fundamental para promover a inovação e a adaptação às mudanças.

“O desenvolvimento de um pensamento criativo parte do pressuposto de se construir, primeiramente, um ambiente de co-criação, colaboração e integralmente seguro. É importante sempre reforçar a máxima: “Qual a cultura de Feedback de sua organização?”, explica Fernando.

Para que a criatividade entre na vida dos cooperados é essencial que se construam uma rede segura, capaz de criar oportunidades diante de erros, que estão cada vez mais presentes e, frequentes em nosso ambiente de trabalho.

Entra nesse momento em jogo a importância dos líderes nas cooperativas, cabe a eles desenvolverem um ambiente seguro, propício à experimentação, criar uma cultura de trabalho baseada no foco do valor construído e no impacto esperado pelo cliente final da cooperativa.

“O líder da cooperativa precisa construir uma consciência de curiosidade, de inovação e de empatia pelo seu próprio exemplo, pela sua condução de liderança no dia a dia”, lembra Wanderley.

As lideranças e o RH

O papel da liderança das cooperativas é fundamental para despertar e estimular o pensamento criativo nas organizações, que irá contribuir com boas soluções e melhora na produtividade, explica Thais Boulanger, autora do livro “Para Você, Criativo” (Hanoi Editora).

“Uma liderança que evita a centralização será capaz de mover processos criativos, com a promoção de encontros, a autonomia e a valorização dos indivíduos”, exemplifica Thais.

Além da liderança, o RH também pode ajudar nesse quesito, por ser uma área que reconhece a diversidade de pensamentos e os processos internos das cooperativas.

O setor é o responsável por reconhecer nas divergências, demandas e até mesmo nos conflitos a oportunidade de encontros capazes de promover tanto o desenvolvimento pessoal quanto o sucesso coletivo.

Além disso, o RH pode sugerir programas de reconhecimento que valorizem as contribuições criativas dos funcionários. É interessante incluir prêmios, reconhecimento público e oportunidades de desenvolvimento, bem como incentivar a experimentação e a aceitação do fracasso como parte do processo de aprendizado.

Fernando lembra, que aceitar riscos é essencial para o desenvolvimento do pensamento criativo, a filosofia das cooperativas devem ser a do aprendizado contínuo.

“Colaboradores que estão constantemente expostos a novas ideias e conceitos são mais propensos a desenvolver um pensamento criativo. Permita que os funcionários tenham autonomia em suas atividades e encoraje a autenticidade”, aconselha o especialista

A criatividade na vida

Envolvida com o assunto e percebendo o quanto ele ganhou espaço na atualidade das empresas, cooperativas, no empreendedorismo e vida das pessoas, Thais resolveu escrever o livro “Para Você, Criativo”, da editora Hanoi.

Na obra, a autora convida os leitores a descobrirem os benefícios da criatividade e a assumirem os protagonismos de seus processos.

Do contrário que a maioria pensa, Boulanger relata que não existe ideia perdida, mas aprisionada, mofando, apodrecendo nas estantes do pensamento.

Também, não existe uma receita de como os colaboradores, cooperados e associados podem desenvolver um pensamento criativo em seus negócios. Porém podemos despertar essa habilidade compreendendo o seu processo como sendo inerente ao ser humano e da possibilidade de usá-la em tudo.

“É essencial retirar a criatividade daquele estigma do diferente, extraordinário, fora da curva. Ela está também nos incrementos, que são feitos a partir de rotinas. Pequenos movimentos são capazes de modificar muito a rota em uma trajetória. Nesse sentido, o próprio trabalho em equipe favorece o desenvolvimento da criatividade”, indica a autora.

Por ser empreendedora, Thais observou que a criatividade faz toda a diferença no mundo dos negócios. Ela lembra que o pensamento criativo pode auxiliar com a generosidade e o sentido de colaboração entre as partes envolvidas.

A especialista relata que para construirmos novas soluções, precisamos deixar de lado aquilo que já sabemos, trabalhar o desapego, e nos colocar em movimento, reconhecendo em outros campos soluções possíveis.

“Quando escolhemos novos caminhos para um mesmo destino, provavelmente encontraremos outras paisagens, oportunidades, o que certamente favorece nos negócios”, diz.

Além disso, os especialistas relatam que um ambiente conduzido por pensamentos criativos, é propicio para despertar a vontade de buscar formas, bons relacionamentos com os clientes, resultados sustentáveis, que nada mais são do que o lucro gerado com integridade e satisfação.

Ao integrar a empatia no processo de inovação, as organizações não apenas criam produtos e serviços mais alinhados com as necessidades dos usuários, mas também contribuem para um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, promovendo a sustentabilidade a longo prazo.

“O pensamento criativo pressupõe empatia no início do seu processo, o que proporcionará pontes sustentáveis de relacionamentos de entregas de valor ao cliente e ao colaborador da organização”, exemplifica Wanderley.

As ferramentas

Ferramentas simples são capazes de nos ajudar a trazer essa habilidade para o nosso dia a dia e trabalho, um deles é um bloco de notas.

Boulanger explica que o registro de ideias ajuda muito na consolidação e correção das rotas dos pensamentos, que, por serem abstratos e imateriais, podem ser perdidos ou observados com muita distância.

Os especialistas dizem que desenvolver o pensamento criativo é uma jornada contínua que envolve prática, abertura para novas ideias e a adoção de hábitos que estimulem a criatividade.

Porém, todo ser humano tem a capacidade criativa, o que irá diferenciar um de outro, é como ela será estimulada, provocada e exercitada.

Algumas dicas importantes são estar aberto para aprender coisas novas, explorar áreas fora do seu campo de especialização, ler livros, artigos, blogs e notícias de diferentes áreas, envolver-se em atividades artísticas, como pintura, música, escrita ou qualquer forma de expressão criativa, definir metas que exijam criatividade para serem alcançadas e encare o fracasso como uma oportunidade de aprendizado.

Por outro lado, nada é mais prejudicial ao desenvolvimento do pensamento criativo do que uma cultura de gestão punitiva.

Fernando explica que o medo de falhar pode inibir a experimentação e a tomada de riscos necessárias para o pensamento criativo.

“É importante reconhecer o fracasso como uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Avalie seu pensamento ao longo de exposição de ideias com pessoas diversas de sua personalidade, você sempre tem uma tendência a uniformizar seu pensamento como uma proteção inconsciente? Os grupos homogêneos tendem a ter pensamento uniforme, o que pode limitar a diversidade de perspectivas e ideias.

“A ansiedade é um elemento que faz a criatividade se esconder. Quando estamos ansiosos, o medo, a fantasia, o receio em relação ao futuro ocupam muito espaço, bloqueando o movimento das ideias, causando paralisia”, lembra Thais.

5 maneiras de as cooperativas desenvolverem a criatividade de seus colaboradores


- Estabeleça um ambiente de trabalho aberto e inclusivo, onde as ideias sejam valorizadas, independentemente da hierarquia. Incentive a diversidade de pensamento e a expressão livre de ideias;
- Incentive a curiosidade e a busca por conhecimento. Estimule os colaboradores a explorarem áreas fora de suas funções tradicionais e a buscar inspiração em diferentes fontes;
- Ofereça workshops e treinamentos específicos em criatividade. Essas sessões podem ensinar técnicas de pensamento criativo, como brainstorming, mind mapping e design thinking;
- Encoraje a experimentação e demonstre que o fracasso faz parte do processo de inovação. Aprender com os erros é uma parte crucial do desenvolvimento do pensamento criativo; e por fim
- Estabeleça um sistema de recompensas para ideias inovadoras. O reconhecimento público e incentivos podem motivar os colaboradores a contribuírem com soluções criativas.