Cooperativismo
Pesquisa inédita aponta o perfil de liderança que as cooperativas buscam
Os comportamentos das lideranças nas cooperativas precisam ter coesão com os valores e preceitos do cooperativismo
Uma boa liderança é essencial para alavancar os negócios, melhorar a produtividade e a experiência dos colaboradores nas cooperativas. Durante a evolução histórica do cooperativismo, o conceito de líder sofreu várias mudanças, e hoje segue uma linha em comum.
Os comportamentos das lideranças nas cooperativas precisam ter coesão com os valores e preceitos do cooperativismo, como ser carismático, visionário, ter uma gestão democrática, autonomia, independência, intercooperação, interesse pela comunidade, entre outras características.
Há alguns anos, o Sescoop do Rio Grande do Sul desenvolveu uma pesquisa com mais de 200 cooperados, em que explorava o tema liderança, seus estilos e o que os levou a se tornarem líderes.
A pesquisa foi realizada nas cooperativas de saúde por Ana Paula Gomes, do curso de administração da Faculdades Integradas de Taquara, no Rio Grande do Sul e Fernando Dewes, professor da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo, Escoop.
O objetivo era identificar os estilos de lideranças em cooperativas do setor da saúde. Um dos aspectos demonstrados foram a de que as lideranças das cooperativas se diferenciam das demais organizações. No geral, os líderes se percebem mais orientados para o relacionamento do que o percebido pelos seus liderados.
Dewes relatou que: “Gerenciar e administrar um empreendimento cooperativo é diferente de administrar uma empresa mercantil, pela própria natureza, a doutrina do cooperativismo, os princípios e valores, que impõem um líder com um perfil diferente”.
Com base na pesquisa, uma das características do líder no cooperativismo é o de que precisa ser um bom negociador, e ter habilidades motivacionais e interpessoais, que vão além de seus conhecimentos.
Fabiana Rosa, Coordenadora de Relações Públicas na Sherlock Communications explica que o líder das cooperativas precisa lidar com decisões complexas e desenvolver uma gestão eficiente de conflitos. Isso requer habilidades de avaliação e resolução sensíveis.
“A necessidade de se adaptar constantemente a mudanças no ambiente de trabalho, manter a motivação duradoura da equipe e delegar responsabilidades de forma eficaz também se configura como desafios intrínsecos. Adicionalmente, é crucial para o líder buscar oportunidades contínuas de aprendizado e desenvolvimento, tanto para si quanto para a equipe, para permanecer atualizado e efetivo no papel de liderança”, explica Fabiana.
Bons líderes trazem melhores resultados
O tema tem sido explorado em várias pesquisas, que apontam na figura do líder o ponto chave para que uma empresa ou cooperativa prospere e evolua, sobretudo em tempos pós atuais. Uma pesquisa realizada pela consultoria de Robert Half apontou que, para 94% dos entrevistados, a satisfação no trabalho é influenciada pela atuação da liderança.
Outro estudo feito pelo instituto de pesquisa e educação Workforce Institute, de Weston na Flórida ouviu mais de 3 mil pessoas em dez países. Ele comprovou que as lideranças impactam diretamente a saúde mental dos colaboradores. No estudo 1 em cada 3 colaboradores disse que o líder tem peso em sua saúde mental e no bem-estar da equipe.
Os dados coletados Center for Positive Organizational Scholarship, da Universidade da Califórnia apontaram que depende da liderança a melhora na produtividade de seus colaboradores. Segundo a pesquisa os funcionários felizes são em 31% mais produtivos e tem um desempenho 27% maior do que o de seus colegas infelizes. Em termos de saúde mental, eles têm 125% menos esgotamento e 32% mais comprometimento.
Portanto, o sucesso de uma cooperativa, empresa e negócio está diretamente ligada à gestão de líderes, que entre outras coisas, tiveram boas experiências na vida, e que por isso se tornaram boas lideranças. Ser líder não é uma tarefa fácil, exige sobretudo experiências, criatividade, empatia, comunicação e escutas assertivas, entre outras habilidades.
Mas essas habilidades são natas ou precisam ser desenvolvidas?
Uma das perguntas que os especialistas fazem é a de que as pessoas nascem para liderar ou precisam desenvolver habilidades específicas para isso, sobretudo quando pertencem as cooperativas.
Mariana Malvezzi, psicóloga e professora de Gestão de Equipes Colaborativas da ESPM explica que em parte sim, mas por outro lado, é preciso estimular novas competências para se destacar nas lideranças.
“Ela vem marcada por traços de personalidade que, dependendo da vertente teórica pode ser entendida como em parte nata. Entretanto, não há dúvidas de que as experiências que temos na vida, nossa criação, nos marcam e, dependendo de como reagimos a elas, podem contribuir para o que chamamos desenvolvimento de traços de comportamento e atitudes de liderança”, exemplifica.
A psicóloga lembra que a boa liderança está automaticamente ligada aos resultados organizacionais. Ou seja, se uma cooperativa ou empresa apresenta bons resultados, é porque há nela o trabalho de um líder.
“Seja na criação de uma visão de futuro, no estabelecimento de políticas e metas de RH, ações de desenvolvimento e sem dúvida também do bem-estar e motivação para o trabalho. Se a organização apresenta estas, entre outras características, é porque há uma liderança e uma equipe unida por trás”, diz Malvezzi.
Como nos tornamos bons líderes?
Segundo os especialistas todos os cooperados e colaboradores são aptos a se tornarem bons líderes. Podemos ao longo de nossas vidas desenvolver habilidades, competências e experiências que nos tornem lideranças de sucesso. Algumas características levantadas por Mariana são essenciais para quem almeja essa posição, entre elas estão a de unir esforços, saber ouvir, fortalecer a equipe e viabilizar visão de futuro.
Não existem receitas ou fórmulas para despertar essas possibilidades, mas alguns recursos podem ajudar, como fazer terapia, aconselhamento, coaching, sessões de feedback e assessment. “Cabe ressaltar a importância de se estar atento às mudanças que vem ocorrendo nos últimos anos e as tendências futuras, principalmente em relação às transformações pós pandemia e a IA (Inteligência artificial) vem impondo. Refletir sobre o próprio papel nesse mundo em transformação dará pistas de como agir e onde buscar ajuda no sentido de se desenvolver não somente como líder, mas como o profissional e cidadão do futuro”, complementa a psicóloga.
As experiências do líder
Um líder não é feito apenas de habilidade técnicas, mas de experiências, e são elas que o levarão ao sucesso. Paulo Vieira, Presidente da Febracis, especialista em comportamento humano do país, e autor de vários livros indica sete experiências fundamentais para o líder de sucesso ter e oferecer aos seus colaboradores. Ele relata que essas experiências irão gerar crenças e memórias fortalecedoras, que são essenciais para todo líder. Paulo explica que: “Toda líder precisa ter essas experiências para produzir memórias, crenças fortalecedoras e se tornar uma pessoa mais saudável”.
No caso dos líderes das cooperativas a exigência é maior, devido as especificidades dessa organização. Mariana explica que isso ocorre, porque estas organizações já partem de uma visão menos tradicional de negócio e de gestão. “Seus líderes são exigidos desde o princípio em termos de uma postura mais transformadora e compartilhada do seu papel enquanto líder. Mais do que poder desenvolver novos líderes, uma liderança positiva deve buscar o desenvolvimento de toda a sua equipe “quase” tornando a si mesma desnecessária. Cabe lembrar que uma liderança não se faz sozinha, ainda mais em ambientes complexos, instáveis e disruptivos como os que temos vivenciado nos dias de hoje”, exemplifica Malvezzi.