Cooperativismo
Equipes autogerenciadas abrem novas possibilidades para as cooperativas
Nesse processo, a liderança tem papel fundamental, uma vez que deixa de ser protagonista e passa a ser mediador de pessoas e capacidades
As cooperativas contam com muitos pontos a seu favor por apresentarem uma cultura cooperativa e colaborativa. Um deles é trabalhar com as equipes autogerenciadas, que se tornou um modelo inovador, por colocar a hierarquia de lado e priorizar o trabalho coletivo. As constantes mudanças no mercado têm gerado nas gestões das empresas e das cooperativas a necessidade de inovar, seja na maneira de formar equipes ou liderá-las. Pensando nisso, algumas cooperativas, como a Únilos, adotou o autogerenciamento, por perceber nele vantagens como o controle da gestão do tempo, direcionando dos esforços a temas prioritários e conectados ao planejamento.
André de Oliveira Goulart, Coordenador de Comunicação, Marketing e Relacionamento com o Cooperado, MBA em Gestão de Pessoas e Negócios Cooperativista, explica que o modelo permite ao colaborador organizar a sua agenda, priorizar atividades, potencializar reuniões breves e ganhar tempo em atividades, que podem ser realizas sem complexidade.
“Este movimento, deixa o colaborador livre para criar estratégias de negócios, avaliar melhorias em seu dia a dia e, acima de tudo, disponibilizar mais tempo para o relacionamento com o cooperado. Profissionais e times com este perfil, começam ganhando espaços e quando se dão conta, já estão sob os holofotes dos demais profissionais. Na minha bagagem de líder, levo sempre como elemento-chave as conversas corajosas, conectando os objetivos corporativos com os profissionais dos colaboradores”, exemplifica”, explica André.
No entanto, este processo exige acompanhamento, desenvolvimento, análise macro, validação de risco, conexão com o negócio e principalmente com o Planejamento Estratégico da Cooperativa. Por outro lado, esse tipo de equipe pode ajudar muito nos negócios das cooperativas, sobretudo nos últimos tempos, quando se evidencia o crescimento das organizações com o foco no Customer Success (Sucesso do Cliente).
Goulart lembra que faz parte do modelo de negócio pensar sempre no sucesso do cooperado, promovendo o seu desenvolvimento por meio dos produtos e serviços financeiros disponíveis a ele. “Quando desenvolvemos as equipes com uma visão macro de autogerenciamento, a velocidade de resolução de um pedido do cooperado aumenta, gerando satisfação e crescimento ao cooperado, cooperativa e a comunidade, a tríade da economia local”, exemplifica.
Por que elas funcionam bem
Além de funcionarem melhor e de maneira simples, esse tipo de equipe é eficiente, gera mais engajamento e responsabilidade compartilhada. Como o próprio nome diz, as equipes autogerenciadas são aquelas que colocam em destaque a divisão das responsabilidades, a comunicação clara, aberta, objetiva, a constante autoavaliação, a tomada de decisão compartilhada e o constante e eficiente desenvolvimento de novas habilidades. Elas se caracterizam por serem grupos de profissionais, que possuem responsabilidade e autonomia para gerenciarem as suas próprias atividades e rotinas. A diferença está na ausência de controle direto.
Lupércio Aparecido Rizzo, coordenador dos cursos de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos e Tecnologia em Gestão de Processos Gerenciais no Centro Universitário Senac São Paulo, explica que as decisões e estratégias são escolhidas tendo em vista o alcance de metas e, para isso, não prescindem de uma gestão direta e sempre presente. “A proposta descentraliza o controle e permite que os integrantes das equipes tenham maior liberdade, sem, no entanto, deixarem de responder por suas ações e resultados. Se a marca da contemporaneidade é a diversidade e a fluidez, ou seja, a incerteza e a velocidade das mudanças, equipes com mais autonomia podem ser mais criativas. Por conta disso, trazem soluções ou apontar caminhos com mais inovação e capacidade de superação e de adaptação”, lembra o especialista.
O modelo não oferece desvantagens, mas traz desafios como por exemplo lidar com os riscos ou pontos de atenção que devem ser levados em conta, a resistência a mudanças, a comunicação com ruídos, a dificuldade de estabelecer foco e a possibilidade da existência de conflitos entre as pessoas.
Alta performance e eleva a produtividade
As vantagens da cultura do autogerenciamento são muitos, entre eles a formação de um time de alta performance, elevação dos níveis de produtividade e a motivação dos colaboradores e cooperados. Isso ocorre, porque esse sistema de trabalho oferece uma dinâmica diferente do tradicional, possibilitando a liberdade de iniciativa para todos os membros da equipe.
Existem alguns desafios para que as cooperativas absorvam esse formato de trabalho. Alguns deles são formar o grupo, desenvolver a confiança no potencial um do outro, manter uma boa comunicação interna, dar abertura para que todos contribuam, despertar a transparência e a autonomia.
“O que realmente importa é que as pessoas tenham sentimento de pertencimento e vejam sentido em suas ações e tarefas. Isso pode acontecer em empresas privadas, órgãos públicos, cooperativas ou, no limite, até mesmo em uma família. Basta que as pessoas sejam de fato ouvidas, e suas ideias levadas em conta, o que não significa concordância irrestrita, mas consideração pelas opiniões diversas”, diz Rizzo.
Nesse processo, a liderança tem papel fundamental, uma vez que deixa de ser protagonista e passa a ser mediador de pessoas e capacidades. “As cooperativas de sucesso conseguem articular momentos de autogestão com os de gestão mais tradicional, isso porque existem tarefas e momentos que simplesmente não engajam pessoas. Por mais que gostemos do que fazemos, sempre existe algum ponto em nossa função, que não nos agrada plenamente. No limite, a questão é de respeito pelos talentos e transparência nas ações que demandem gestão mais assertiva”, finaliza Aparecido.