Cooperativismo

Cooperativas de reciclagem injetaram mais de R$ 17 bilhões na economia brasileira

Além dessas organizações gerarem rendas, valorizam os trabalhos dos catadores e prestam serviços de preservação do meio ambiente para os estados e os municípios

Por MundoCoop 16/04/2024 10h10
Cooperativas de reciclagem injetaram mais de R$ 17 bilhões na economia brasileira
Cooperativas de reciclagem injetaram mais de R$ 17 bilhões na economia brasileira - Foto: Reprodução

Reciclagem de resíduos e as preocupações com o meio ambiente já se tornaram temas que caminham juntos com as ações das cooperativas. Para se ter uma ideia dessa relação, segundo os dados atuais do Sistema OCB, o Brasil tem a capacidade para faturar R$1 trilhão com reciclagem de resíduos e chegar a 30 milhões de cooperados em 2027.

Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB, explica que esse número representa o dobro do valor faturado em 2021, de R$525 bilhões. O anuário da OCB de 2022, indicou que o país tem 4.880 cooperativas de reciclagem, das quais 2.535 estão no mercado há mais de 20 anos, e possui 18,9 milhões de cooperados, empregando mais de 493 mil pessoas. Ele mostrou que o cooperativismo é representado, majoritariamente, pela participação de pessoas físicas, 87%, e 13% de empresas. Esses cooperados garantem os avanços da economia, dos cofres públicos e de toda a sociedade.

A pesquisa também apontou, que em 2021, as cooperativas de reciclagem injetaram mais de R$17 bilhões em tributos aos cofres públicos e foram responsáveis por outros R$18 bilhões da economia, envolvendo os pagamentos de salários e outros benefícios aos colaboradores. Edson Grandisoli, coordenador pedagógico do Movimento Circular, diz que uma das principais conquistas deste movimento foi o aumento sensível do engajamento de pessoas, empresas, cooperativas e governos com a reciclagem. O número de cooperativas tem crescido e, cada vez mais, as ações em prol do meio ambiente, da saúde pública, economia e da inclusão social. “Um dos grandes objetivos do Movimento Circular é trazer ao conhecimento do público experiências de sucesso. O importante trabalho de cooperativas e empresas parceiras é fundamental, a fim de estimular ainda mais a construção de uma nova forma de pensar e agir”, comenta.

Cooperativas ajudam na valorização dos catadores e catadoras


Um desses casos é o da Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro (Coopercaps). Telines Basilio do Nascimento Júnior, O Carioca, diretor da Coopercaps conta que o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para tornar a reciclagem inclusiva e socialmente bem-sucedida. “Vivemos em um cenário de exclusão social enorme, falta valorização da ponta da cadeia. Esperamos que nos próximos anos tenhamos mais o que comemorar, possamos ter dignidade e cada vez mais orgulho do nosso trabalho”, lembra.

Carioca diz que um sistema eficiente de reciclagem passa pela inclusão socioeconômica dos catadores e catadoras, visibilidade, valorização profissional, direito a trabalho digno, moradia, saúde e educação. Ele comenta que as mulheres representam quase 70% da mão de obra do setor e precisam ter direito a creche. De acordo com Nascimento, há perspectivas de melhoria na área devido aos decretos publicados pelo governo. Um deles é o 11.413, que institui o certificado de crédito logística reversa, o certificado de estruturação e o certificado de crédito de massa futura.

Outro Decreto é o 11.414, que recria o Programa Pró-Catador, denominado Programa Diogo de Santana, que cria o comitê interministerial para inclusão socioeconômica de catadores e catadoras. Nascimento Júnior defende os créditos mais acessíveis para melhorar a infraestrutura dos galpões das cooperativas e a urgência em oferecer aos catadores e catadoras condições que permitam acabar com o trabalho de tração humana, quando o transporte dos resíduos é feito pelo próprio trabalhador. O Brasil ainda conta com cerca de 2,3 mil lixões a céu aberto, que precisam ser fechados, com a inclusão e a reintegração dos catadores e catadoras que trabalham nesses locais.

Em médio e longo prazo, ele cita a obrigatoriedade de oferecer educação ambiental nas escolas, desenvolvimento de políticas públicas de Economia Circular, incentivo às indústrias recicladoras, fim da bitributação das embalagens pós-consumo. Além da valorização da mão de obra dos catadores e catadoras, redução do INSS para as Cooperativas, reforma tributária inclusiva valorizando a cadeia de materiais recicláveis.

Ideia é reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia em 2040


O tema reciclagem está inserido nos sete Rs da economia circular, que incluem repensar, recusar, reduzir, reaproveitar, reutilizar, reciclar e recuperar. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apontou que o Brasil produziu 27,7 milhões de toneladas de resíduos recicláveis em 2021.

Dentro desse material se destacam os plásticos, papel, papelão, vidros, metais e embalagens multicamadas. Porém, pouco mais de um quarto das cidades brasileiras, 27% ou cerca de 1,5 mil municípios, sequer contam com coleta seletiva, impactando a destinação final dos resíduos e a extração de recursos naturais.

No ano passado foi instituído o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), que apresentou metas para os próximos 20 anos. Uma das propostas é reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia em 2040.

Segundo a Abrelpe, o índice de reciclagem nacional é de apenas 4%, abaixo de países com grau de desenvolvimento econômico similar, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia. Eles apresentam uma média de 16% de reciclagem, conforme a International Solid Waste Association (ISWA). Já na Alemanha, o índice de reciclagem chega a 67%.