Cooperativismo

Cooperativas são responsáveis por gerar mais de 500 mil empregos no país

O setor possui características ímpares, e vai na contramão do chamado “mercado tradicional”

Por MundoCoop 02/05/2024 09h09
Cooperativas são responsáveis por gerar mais de 500 mil empregos no país
Cooperativas são responsáveis por gerar mais de 500 mil empregos no país - Foto: Reprodução

Nos últimos anos, o mercado de trabalho passou por diversas mudanças. Não apenas em decorrência da pandemia, mas também por novas ferramentas que trouxeram novas possibilidades, mas também dúvidas. Porém, apesar de tantas questões no ar, é inegável que as cooperativas seguem como um modelo de negócio onde pessoas de todos os perfis, podem iniciar uma carreira. Colaboradores e cooperados, o setor movimenta bilhões na economia, e nos últimos anos impulsionou a queda do desemprego.

Segundo dados do AnuárioCoop – Dados do Cooperativismo Brasileiro, em 2022 o cooperativismo gerou mais de 524 mil empregos diretos, um aumento de 6% frente ao ano anterior, evidenciando mais uma vez a capacidade que o movimento possui de gerar trabalho e renda para o país. Entre os destaques, as cooperativas apresentaram avanços significativos na força de trabalho feminina. Em 2022, houve um aumento de 15% em relação a 2021, representando 51% do total. Os ramos com predominância de empregadas mulheres são Consumo (57%), Crédito (61%), Saúde (73%) e Trabalho, Produção de Bens e Serviços (56%).

O setor possui características ímpares, e vai na contramão do chamado “mercado tradicional”. A Pesquisa do Emprego Bancário (PEB) referente ao primeiro bimestre de 2024, elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), aponta uma eliminação de 4.171 postos de trabalho bancário no acumulado dos últimos 12 meses.

Enquanto os bancos fecham agências e eliminam postos de trabalho, as cooperativas de crédito tem apostado fielmente na expansão física de suas atividades, abrindo novas agências e consequentemente, gerando novas oportunidades de emprego.

No que se refere ao emprego no Ramo Financeiro, um levantamento recente aponta que no primeiro bimestre de 2024 – excluindo a categoria bancária – verifica-se saldo positivo no bimestre com a abertura de 4.764 postos de trabalho, número quase 6 vezes superior ao mesmo período do ano anterior. Nos últimos 12 meses, foram criados 20,5 mil postos de trabalho, uma média de criação de 1,7 mil postos/mês. Apenas o setor de crédito cooperativo, gerou 1949 novas vagas nos dois primeiros meses do ano. Considerando o acumulado de 12 meses, as cooperativas de crédito criaram mais de 11 mil postos de trabalho.

Presença de cooperativas influenciam na geração de renda


O cooperativismo é um dos principais mecanismos para a geração de emprego, renda, inclusão social e desenvolvimento socioeconômico. Para se ter uma ideia, hoje as cooperativas são uma das maiores empregadoras. Segundo dados do Banco Central Estban (set/2022) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Rondônia, Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná compõem o ranking dos estados brasileiros que possuem as menores taxas de desemprego. Mas o que há em comum entre eles? Todos contam com a forte presença do cooperativismo, o que é possível comprovar ao compará-los aos estados em que os índices são maiores e a participação cooperativista é tímida ou inexistente.

Rondônia desponta no topo do ranking com uma taxa mínima de desemprego 3,1% e 32,7% da participação de cooperativas de crédito, seguido por Santa Catarina com 3,2% de desemprego e 30,4% da presença de cooperativas. Em terceiro lugar fica o Mato Grosso com 25,8% da presença de cooperativas e 3,5% do índice de desemprego. Os estados com maiores taxas de desemprego são Bahia (13,5%); Amapá (13,1%); Sergipe (11,9%); Pernambuco (11,8%) e Rio de Janeiro (7,9%), a participação de instituições financeiras cooperativistas variam de 0% a 1,8%.

Esses números podem ser explicados pelo modelo de gestão cooperativista, pois enquanto um banco privado toma recurso da comunidade e os centraliza para sua matriz ou local de origem, as cooperativas utilizam todos os recursos aplicados na comunidade em que faz parte, o que contribui diretamente para economia e desenvolvimento social da população. Conforme explica Oberdan Pandolfi Ermita, economista e presidente do Conselho de Administração da Sicoob Credip, cooperativa financeira da região Norte, no sistema bancário privado a cada R$ 1,00 movimentado, apenas R$ 0,13 são convertidos para região. Já a cooperativa, cada R$ 1,00 recebido como saldo de depósito, ele é reaplicado na localidade.

“Podemos observar claramente que onde não há cooperativas, há uma extração de riqueza local. Se não tiver cooperativas quem vai apoiar e em emprestar crédito para o seu João que vende alface na feira ou o seu Manoel da padaria? As estatísticas mostram que as cooperativas apoiam diretamente o empreendedorismo local e a partir dele surgem os empregos”, explicou Ermita.

Prosperidade por todo o país


Inserção no mercado de trabalho, capacitação e empreendedorismo estão entre as vantagens percebidas pelos cooperados que tem a sua disposição, uma cooperativa. Em todo o Brasil, o cooperativismo tem sido sinônimo de prosperidade financeira e social há décadas, e os cases de sucesso são inúmeros.

Segundo o último levantamento da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC), realizado junto às suas 250 associadas, em 2022, haviam 11 cooperativas de trabalho, produção de bens e serviços no estado. Essas cooperativas faturaram R$ 26 milhões com seus 1.298 associados. “O cooperativismo se destaca nesses ramos com o envolvimento de pessoas com objetivo comum de prestarem serviços, trabalho e produtos com qualidade, melhorando as condições de vida pessoal, familiar e da sociedade envolvida. Com atuação nos valores humanos, não só os cooperados ganham, mas toda a sociedade que se encontra no entorno e, consequentemente, a economia do estado”, explica Vilmar Coelho, presidente da Cooperativa de Trabalho Educacional de Professores e Especialistas (COOEPE).

Em Luiz de Castro Côrtes, impulsionado pelo desejo de unir a classe produtora de leite e contribuir para o desenvolvimento da comunidade, foi fundada a Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce. Ao lado de outros 186 produtores, a iniciativa marcou o pioneirismo do movimento cooperativista na região. Desde 1959, a Cooperativa vem desempenhando um papel crucial no desenvolvimento local de Valadares.

Com mais de 1,5 milhão de habitantes segundo o Censo 2022, Rondônia é hoje um dos estados mais cooperativistas do país. Segundo o AnuárioCoop, o estado possui hoje um total de 17 cooperativas, reunindo mais de 300 mil cooperados. Ao mesmo tempo, o gigante Amazonas, com quase 4 milhões de habitantes, conta com apenas 2 cooperativas e pouco menos de 7 mil cooperados. “O cooperativismo tem demonstrado sua vocação de levar inclusão financeira e apoio a suas comunidades, por isso há uma expansão na região Norte”, indica Oberdan Pandolfi, Presidente do Sicoob Credip, ao apontar quais os motivos que corroboram para o crescimento do setor.

No Paraná, as cooperativas tem impulsionado o desenvolvimento econômico e social. “A contribuição do movimento cooperativo à sociedade é perceptível. Ainda é, contudo, difícil de ser medida. Ao estudar a relação dos indicadores das cooperativas com PIB e com o IPDM-Renda, buscou-se deixar a contribuição cooperativista mais evidente. Com os resultados, podemos sugerir a adoção de políticas públicas ou de parcerias públicos-privadas que mirem o estímulo ao desenvolvimento vinculado ao cooperativismo, com sua aplicação direcionada especialmente as localidades que apresentem baixos índices”, comenta Edson Luis Carvalho Souza, pesquisador do PPGCoop da PUCPR.