Cooperativismo

15º CBC marca avanços e novas estratégias para o coop brasileiro

Congresso reuniu 3 mil lideranças cooperativistas de todo o país

Por Sistema OCB, com adaptação da MundoCoop 20/05/2024 11h11
15º CBC marca avanços e novas estratégias para o coop brasileiro
15º CBC marca avanços e novas estratégias para o coop brasileiro - Foto: Reprodução/Mundo Coop

Na última quinta-feira (16), o 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC) chegou ao final após um dia repleto de emoções, decisões estratégicas e visões para o futuro. O evento, que reuniu cerca de três mil líderes cooperativistas de todo o país, fechou suas portas com uma série de momentos marcantes.

A MundoCoop, grande parceira e apoiadora do ecossistema cooperativista brasileiro, esteve presente ao longo dos três dias do evento, acompanhando as principais novidades, insights e discussões, que devem estar em pauta no setor nos próximos meses. A seguir, confira um panorama dos principais destaques desta 15ª edição do CBC.

Começo inspirador


O início do Congresso, na terça-feira, foi marcado por um momento de solidariedade ao Rio Grande do Sul, que enfrenta enchentes e dificuldades devido às mudanças climáticas. Márcio convocou os congressistas para colaborarem com a ação Coopera RS – juntos, vamos reconstruir o Rio Grande do Sul, organizada pelo Sistema OCB e o Sistema Ocergs, que angaria fundos e ajuda para a reconstrução do estado gaúcho.

Um manifesto emocionante foi exibido e, em seguida, o presidente deixou sua mensagem de compromisso com o movimento e com a promoção de valores como solidariedade, democracia e sustentabilidade. “Precisamos unificar nosso olhar para o futuro e mirar um mesmo horizonte. Temos que trabalhar juntos para construir um caminho estratégico e planejado para os próximos anos. O cooperativismo é um modelo de negócios de sucesso, que gera resultados e está, cada vez mais, se profissionalizando, avançando e cumprindo suas tarefas socioeconômicas. Temos espaço para nos desenvolvermos ainda mais, com muita aceitação das novas gerações e com as respostas que a sociedade busca, atualmente”, disse.

Ele acrescentou que é preciso ser ousado para imaginar o futuro do movimento no Brasil. “A coragem vai nos fazer inovar e ajudar na consolidação do protagonismo que merecemos. É preciso ousar para mostrar ao povo brasileiro que tudo o que fazemos e tudo que ainda queremos fazer leva desenvolvimento aos quatro cantos do país”. Márcio também citou a meta do desafio BRC 1 Tri, que busca atingir R$ 1 trilhão em prosperidade para o povo brasileiro e 30 milhões de cooperados até 2027.

Em seguida, a presidente da Aliança Cooperativa Internacional das Américas (ACI Américas), Graciela Fernández, falou sobre o atual momento do cooperativismo na América Latina. Para ela, é preciso ter consciência de que o princípio central do coop está sendo cumprido no 15º CBC, a democracia. “A transformação é feita a partir de representantes, suas comunidades e, consequentemente, o planeta muda. Por isso, as deliberações são tão importantes. É tempo de construir um futuro mais cooperativo”.

Para Ariel Guarco, presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), no decorrer dos últimos anos, o cooperativismo conseguiu transformar muitas coisas no planeta. Ele acredita que é possível construir um caminho em que esse modelo de negócios seja o futuro do planeta. “Nossas comunidades possuem as respostas que o mundo precisa. O coop é uma língua falada em vários idiomas e atravessa culturas, mas ainda não é um idioma comum. Somos a maior inovação da era moderna e não podemos perder nossas identidades, valores e princípios. Eles são a resposta para as desigualdades sociais enfrentadas no mundo moderno”, concluiu.

Diretrizes estratégicas


A programação foi marcada, principalmente, pela priorização das diretrizes estratégicas que vão guiar o movimento no período de 2025 a 2030. Das 100 diretrizes votadas pelos congressistas, 25 foram escolhidas para nortear o planejamento. As propostas foram avaliadas com base em critérios de impacto e urgência, e as duas com maior pontuação, para cada tema, foram consideradas prioritárias, além das cinco mais votadas após a escolha das vinte primeiras, independente do tema. Os eixos abordados foram Comunicação, Cultura cooperativista, ESG, Inovação, Intercooperação e Negócios.

A escolha das diretrizes prioritárias foi baseada em dois critérios-chave: impacto e urgência. O primeiro focou na capacidade que uma diretriz possui de promover o aumento da competitividade das cooperativas e do cooperativismo como um todo e, o segundo, no indicativo do quanto é imediata e prioritária sua implementação.

Esse processo, inclusivo e participativo, refletiu o compromisso do movimento em envolver seus membros na definição de metas e diretrizes para o futuro. As pontuações foram determinadas de acordo com cada critério e com destaque para as duas com mais pontos em cada tema trabalhado durante o congresso. Em todas as áreas, as diretrizes foram definidas com base nas palestras e debates realizados também durante o segundo dia do congresso.

Agenda Institucional


Um dos momentos aguardados pelos presentes, foi o lançamento da Agenda Institucional do Cooperativismo Brasileiro, documento que apresenta as políticas públicas, projetos de leis e decisões judiciais mais relevantes para impulsionar o desenvolvimento do movimento no país.

Em seu discurso, o presidente Márcio Lopes de Freitas destacou a importância da representação institucional coordenada pelo Sistema OCB. “É com muito orgulho que vejo que o cooperativismo construiu um relacionamento sólido e de confiança com os Três Poderes da República, que transcende a política partidária e sobrevive a qualquer mudança eleitoral. Esse é um reflexo da força, da relevância e do poder de articulação das nossas cooperativas. Nossa primeira prioridade, além de muitas outras, é concluir a regulamentação do adequado tratamento tributário ao ato cooperativo, que ainda enfrenta desafios com a legislação brasileira”.

Ele também salientou a importância da agenda institucional para que o movimento alcance suas metas, em especial, o Desafio BRC 1 Tri, que prevê o aumento da movimentação financeira para R$ 1 trilhão e do número de cooperados para 30 milhões, mencionado na abertura do evento.

O principal tema da agenda de 2024, conforme anunciou o presidente, é o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo na regulamentação da Reforma Tributária (PLP 68/2024 e PLP 58/2024) em tramitação no Congresso Nacional. A inclusão de dispositivo aprovada no texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, representou uma conquista histórica para o movimento, com a previsão de um regime específico para as cooperativas. A definição das hipóteses de não incidência de tributação ao ato cooperativo, para assegurar a justiça tributária ao modelo de negócio, no entanto, ainda será definida em Lei Complementar, assim como o regime de aproveitamento de crédito das etapas anteriores da cadeia produtiva em que a cooperativa fizer parte.

“Por isso, é fundamental que cada uma das autoridades aqui presentes entenda e reconheça a singularidade do cooperativismo e considere as especificidades das cooperativas no contexto de regulamentação em curso. As cooperativas não são apenas mais um modelo de negócio. Elas são organizações baseadas em solidariedade e interesse coletivo, com impactos profundos nas comunidades onde atuam. A adequação fiscal às particularidades do modelo econômico cooperativo é necessária para manter a sustentabilidade e a competitividade de seus produtos e serviços. Uma regra tributária que não diferencie o ato cooperativo de uma operação comercial típica não apenas falha em reconhecer nossa essência, mas também ameaça a nossa continuidade”, concluiu o presidente.

Palestras

Ao longo de toda a programação, os presentes puderam conferir palestras com temas específicos apresentadas nas dez salas temáticas do evento, que abordaram questões essenciais para o cooperativismo envolvendo temas como Comunicação, Cultura Cooperativista, ESG, Inovação, Intercooperação, Negócios e Representação.

Entre os destaques, Fred Gelli, co-fundador e diretor de criação da Tátil Design de Ideias, apresentou a palestra Qual futuro queremos construir? e abordou os desafios contemporâneos enfrentados pela sociedade, como catástrofes ambientais, crises no capitalismo, desigualdade social e democracia em crise. Ele fez uma provocação criativa: reinventar a maneira como nos relacionamos com a realidade. Para Fred, antigamente, as decisões eram tomadas por nós, mas hoje, a tecnologia, muitas vezes, assume esse papel. “A capacidade humana de imaginar e cooperar é essencial para a evolução. O cooperativismo, com seu propósito, deve ser uma marca de inovação. É preciso expandir o conceito do coop e fazer o mundo entender que essa é uma ferramenta poderosa de transformação”, afirmou.

Com boas reflexões e baseado no tema Crescimento Exponencial através da prontidão em IA, Salim Ismail, empreendedor no campo da inovação exponencial, fez provocações aos congressistas para que pudessem refletir sobre o papel da tecnologia e sua influência dentro de instituições, corporações e entidades. Ele afirmou que, após sua palestra, a forma como cada um percebe a tecnologia nunca mais seria a mesma. “O crescimento exponencial, característico das novas tecnologias, muitas vezes escapa à percepção humana e nos surpreende”, disse. Para ele, a todo tempo, testemunhamos uma revolução tecnológica sem precedentes. “Nunca antes na história da humanidade tivemos acesso a tecnologias tão disruptivas e transformadoras. Desde avanços na neurociência até a nanotecnologia, passando pela computação, medicina e inteligência artificial, estamos presenciando um verdadeiro tsunami de inovação”, afirmou.

Para falar sobre a combinação entre cooperativismo e futuro, a escritora e uma das principais pensadoras digitais do Brasil, Martha Gabriel, apresentou a palestra O futuro é coop, na quarta-feira (15). De acordo com Martha, a sustentabilidade é a chave para enfrentar todos os obstáculos já previstos. Ela ressaltou que a cooperação é um caminho que possui uma força singular, que promove inclusão, diversidade e renda. “É necessário somar responsabilidade social, proteção ambiental e sucesso econômico. Dentro desse contexto, as cooperativas já emergem como protagonistas e oferecem um modelo equilibrado de impacto nas dimensões econômica, social e ambiental”, afirmou.

Encerramento

Já no início do último dia, a superintendente Tania Zanella fez uma homenagem emocionante às vítimas das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul e convidou a única representante do estado gaúcho, Larissa Zambiasi, membro do Comitê de Jovens Geração C, para subir ao palco e simbolizar a força e o potencial do cooperativismo na região Sul. “Nosso movimento tem, na sua essência, a cooperação e a união. Agora, mais do que nunca, queremos estar ao lado dos gaúchos na reconstrução das cidades e das vidas dessas pessoas. Sabemos que, juntos, podemos transformar essa dor em força e recomeço. Queremos reforçar que você não está sozinha, nenhum gaúcho está. O movimento cooperativista está aqui para apoiar, reconstruir e fortalecer cada comunidade atingida”, disse.

Após um vídeo que percorreu a história do Sistema OCB e, emocionado com a magnitude do evento, o presidente Márcio Lopes de Freitas, encerrou o CBC com um discurso inspirador. “É bonito ver o esforço e dedicação de todos os envolvidos. Durante esses três dias, conseguimos reforçar que o nosso movimento é fruto de uma construção coesa e próspera”, expressou. Ele relembrou a época em que se engajou no coop e desejou que a teia de cooperativas se tornasse um Sistema. “Agora, somos uma rede organizada, alinhada e democrática. Precisamos continuar nos superando, cada vez mais, com coragem e ousadia. O futuro já começou e só precisamos desenhar os detalhes. É só cooperar e seguir nesse processo. Todos juntos”, concluiu.

O encerramento do 15º CBC reservou ainda mais uma surpresa para os participantes: um espetáculo vibrante e cheio de energia proporcionado pelo grupo Batuque Salubre, da Escola de Artes Unimed BH. Com uma levada contagiante de tambores, o grupo misturou samba, reggae, maracatu, funk e outros ritmos para fechar o evento com alegria e uma atmosfera de pura festa e cooperação.