Cooperativismo

Conexão com a comunidade fortalece marcas cooperativas no mercado

Organizações já nascem com a função de gerar transformações onde atuam

Por MundoCoop 21/05/2024 10h10
Conexão com a comunidade fortalece marcas cooperativas no mercado
Conexão com a comunidade fortalece marcas cooperativas no mercado - Foto: Reprodução/Mundo Coop

O cooperativismo tem uma conexão direta com as transformações e mudanças nas comunidades onde estão inseridas. Essas organizações já nascem com a vocação de intervir e contribuir em todos os sentidos nas vidas das pessoas. O movimento cooperativista é uma alternativa ao modelo econômico tradicional, com uma mentalidade de economia solidária, em que não existem proprietários, mas cooperados dividindo os lucros do negócio.

Cristina Helena Pinto de Mello, professora de Economia da PUC-SP, explica que a cooperativa em si é uma comunidade, que reúne pessoas com os mesmos interesses econômicos e sociais. Essas organizações colaboram entre si para atingir objetivos normalmente econômicos, como as vendas com os melhores preços, distribuição com maior alcance e compras coletivas com boas negociações. “Por princípio, a habilidade de cooperação entre si em um ambiente normalmente competitivo forja contornos, que abraçam as comunidades nas quais estão geograficamente instaladas. É comum ver cooperativas que assumem papéis sociais de formação de indivíduos e na conservação de espaços públicos”, lembra ela.

Além disso, as cooperativas também estimulam a responsabilidade social, seja praticando atividade ou estimulando empresas e empreendimentos, que se preocupem com isso. Cristina explica que todos ganham quando a cooperativa se une à comunidade, se fortalecendo, em especial porque são criados espaços de participação cidadã. “Desta forma, a ausência de um trabalho conjunto reproduz modelos já conhecidos por nós, que criam um distanciamento entre empresas, marcas, propósitos e valores sociais”, diz Mello.

Cristina Helena Pinto de Mello, professora de Economia da PUC-SP/ Foto: Reprodução MundoCoop

Por isso, não é à toa que o movimento cooperativista esteja ligado às buscas pelas diminuições das desigualdades observadas no mundo, com mais inclusão, proteção e preservação do meio ambiente, entre outros temas relevantes à atualidade. Faz parte de suas pautas, programas, cursos e experiências de combate às injustiças sociais, acolhimento dos excluídos, apoio aos necessitados, promoção do bem-estar e saúde em todos os sentidos e esferas.

Todos esses tópicos estão inseridos, na essência e nos princípios do cooperativismo, que se tornou um meio alternativo ao capitalismo. Com o passar dos anos, a inclusão socioeconômica se tornou uma marca registrada do cooperativismo.

Um interesse em comum


Um dos pilares do movimento são os seus sete princípios, que envolvem o interesse pela comunidade. Eles se tornaram um dos mais importantes para a sobrevivência do cooperativismo. Dentro dele estão vários tópicos, como intervir e gerar benefícios para a comunidade com a finalidade de fazer alterações sociais e econômicas no local. A cooperativa precisa gerar rendas, mas ao mesmo tempo reverter esses recursos à região em que está instalada.

Helena, lembra que as cooperativas, quando trabalham com as comunidades, apresentam muitas vantagens, entre elas os espaços importantes para as trocas e apoio mútuo entre seus cooperados. “Elas trazem a força do tamanho que isoladamente os membros não possuem e, desta forma, potencializa ganhos de negociação e associação. Ao tornar unidades individuais mais robustas economicamente, os ganhos tendem a ser coletivizados. Pois crescem as oportunidades de geração de renda, de emprego e de distribuição de mercadorias”, lembra a professor da PUC.

As organizações que investem em ações sociais, como abrigos, creches, escolas, acabam transformando as vidas de dezenas de famílias, além de destacarem as suas marcas. O investimento em educação, social, saúde, e bem-estar se multiplicam e geram também o espírito e a mentalidade cooperativista. “A aproximação pode trazer benefícios como a cooperação com a formação, educação de indivíduos, a interação com o poder público e o direcionamento de verbas orçamentárias, identificação de projetos e oportunidades em ESG, ampliação da capacidade de negociação para outros níveis de gestão como estadual ou federal”, diz Helena.

A melhoria dos negócios dos cooperados vem, normalmente, de ganhos de escala e sinergia. Mas, a proximidade com as comunidades locais pode fortalecer culturas, ambientes colaborativos, símbolos de pertencimento e de marca local. Mello lembra que as cooperativas normalmente estão associadas fortemente a marcas regionais e locais. Por isso, podem potencializar a criação de regiões demarcadas, ampliar a rastreabilidade produtiva e melhorar a percepção de valor de preços dos produtos.

Melchíades Donizeti Terciotti, presidente da Enersugar, usina de processamento de cana-de-açúcar, que tem em seu DNA o cooperativismo, considera a união entre cooperativas e a comunidade essencial para acelerar o desenvolvimento regional e apoiar a atividade agropecuária, pois ela gera uma soma de competências na atuação das cooperativas. “Há um impacto muito positivo, e por completo, nas comunidades locais que demandam uma gama de serviços em toda a cadeia produtiva do agronegócio. Tanto no campo quanto nas cidades, as 1,2 mil cooperativas existentes no agro brasileiro, segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), são fundamentais para a promoção do desenvolvimento socioeconômico e ambiental”, relata.

No caso da Enersugar, algumas das vantagens é dispor de matéria-prima, em quantidade e qualidade, para fabricar etanol, açúcar e bioeletricidade, comercializando estes produtos a preços competitivos. Fora isso, a ausência de harmonia entre uma organização e seus cooperados prejudica não somente o desenvolvimento econômico do agronegócio, como o protagonismo do Brasil na construção da segurança alimentar e energética. Donizeti relata que isto implicaria na falta de matéria-prima suficiente para a unidade industrial operar de forma eficiente.

Melchíades Donizeti Terciotti, presidente da Enersugar/ Foto: Reprodução Mundo Coop

Confiança

Várias cooperativas se unem cada vez mais às suas regiões e tem feito a diferença na vida de suas comunidades. Entre elas estão as cooperativas de crédito, que oferecem os serviços bancários em comunidades, que não têm acesso aos bancos privados, promovendo a possibilidade de a comunidade empreender, abrir contas, retirar dinheiro e fazer pagamentos.

Esse é um dos casos do Sicoob, que foi reconhecido como a terceira melhor instituição financeira do Brasil, segundo o ranking “Melhores Bancos do Mundo 2024”, realizado pela Forbes e o mercado Statista. De acordo com Marco Aurélio Almada, diretor-presidente do Sicoob, o propósito da instituição é conectar pessoas para promover justiça financeira e prosperidade. “Seguindo os princípios do cooperativismo financeiro, uma parte desse montante é distribuída diretamente aos cooperados, enquanto o outro é investido na estruturação da cooperativa”, conta Almada.

Outras ações exemplificam as conexões das cooperativas em prol das comunidades onde atuam, como a do Sicredi em atenção ao Pacto Global das Nações Unidas (ONU) e as ações em defesa do meio ambiente. A organização criou projetos com o objetivo de neutralizar as emissões calculadas no seu Inventário de Gases de Efeito Estufa desde 2022. Já foram neutralizadas 34.565 toneladas de carbono provenientes da operação de todas as sedes administrativas e agências.

O Sicredi Norte Sul lançou recentemente o Projeto Ponto a Ponto, que viabiliza a coleta, o reaproveitamento e o descarte adequado de peças de uniformes antigos dos colaboradores. As camisas e camisetas não usadas são transformadas por costureiras da comunidade em novas peças de roupas infantis, bonecas e bonecos de pano e naninhas para os bebês.

Segundo Veridiana de Moraes C. Patrial Burani, Gerente de Gestão de Pessoas da Norte Sul, o projeto é baseado em três pilares, o da sustentabilidade, o desenvolvimento da comunidade local e o ciclo virtuoso: “Através dele teremos uma maneira correta de realizar o descarte de uniformes. Fizemos questão de que todas as peças fossem feitas por costureiras da comunidade e tudo que for produzido será doado para crianças dos municípios de nossa área de atuação”, explica Moraes.

A ideia da cooperativa é apoiar projetos que resultam em impactos positivos às comunidades, oferecendo benefícios sociais, ambientais, econômicos e refletindo em contribuições para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Como forma de proporcionar bem-estar e saúde aos moradores das regiões onde possui unidades de negócios, a Coop desenvolve desde 2012, o programa Blitz da Saúde, que faz parte do Coop Faz Bem Pra Você, plataforma de responsabilidade social Coop Faz Bem.

O Programa já atendeu cidades como São José dos Campos, Sorocaba e mais de 259 mil pessoas aferindo gratuitamente a pressão arterial, executando testes de glicemia e cálculos do Índice de Massa Corpórea (IMC). Outro programa que tem conectado a Coop à comunidade é o Benefício às Entidades, criado em 2002 e conta com o apoio de mais de 1 milhão de cooperados.

Ele faz parte do pilar Coop Faz Bem Pra Comunidade, da sua plataforma de responsabilidade, Coop Faz Bem, e desde a sua criação a iniciativa já beneficiou 6 mil pessoas e 319 entidades com recursos de mais de R$ 6,7 milhões, dinheiro avalizado pelos cooperados durante Assembleia Geral Ordinária (AGO) realizada anualmente. No ano passado, o programa de Benefício às Entidades aportou R$635 mil para a implementação de 23 projetos sociais de instituições beneficentes.

Através do Programa de Benefício às Entidades, a Coop contribuiu para que a instituição adquirisse camas hospitalares motorizadas, melhorando a qualidade de atendimento a esses idosos na troca de fraldas, banho no leito e facilitação na mudança de decúbito e, até mesmo, no tempo em que eles se encontram de repouso.

Com o apoio dos cooperados e clientes da Coop, a Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais do Estado de São Paulo recebeu o valor de R$ R$ 58.027,27, referente ao repasse da venda de exemplares da Revista Coop e da arrecadação do programa Troco do Bem no primeiro trimestre deste ano. Desde agosto de 2010, os dois programas sociais da Coop, com repasse trimestral, já entregaram à entidade cerca de R$6 milhões, beneficiando 35 mil assistidos de 15 APAEs apoiadas pela Coop. “Acredito muito na força que uma comunidade unida tem, para sempre fazer a mudança acontecer”, lembra Pedro Mattos, diretor-geral da Coop.

A cooperativa Cooabriel iniciou o Programa de Alta Performance Cooabriel em 2023 com a ideia de incentivarum grupo de cerca de 25 colaboradores a manter uma rotina de bons hábitos, com destaque para escolhas alimentares mais saudáveis, hidratação e exercícios físicos. Samuel Lopes Fontes, gerente corporativo, contábil, financeiro e cooperado ressalta que os pilares do programa estão em consonância com os valores da própria cooperativa. Segundo ele, a ideia tem o propósito de trazer impactos positivos para cada participante. “Planejamos um programa de desenvolvimento pessoal aliado a um ambiente propício para criação de hábitos que busquem um equilíbrio e, por consequência, a tão almejada alta performance”, disse. 

Mais iniciativas têm sido feitas conectando as cooperativas e as comunidades, uma delas é o Comitê Permanente do Dia C de São Gabriel da Palha, no Espírito Santo. Nela um comitê formado pelas cooperativas Cooabriel, Coopcam, Coopesg e Sicoob, e da mirim Coop-União estruturam e desenvolvem ações de responsabilidade social para as comunidades locais.

Já em Colatina, desde julho de 2023, por meio do seu 5° Edital de Projetos Sociais, o Sicoob oferece suporte ao Lions Clube Colatina Centro, que promove o Espaço da Alegria. No programa as crianças atendidas participam de atividades como teatro, jogos e brincadeiras, apoio pedagógico, leitura, musicalização e inclusão digital.

Também para o público infantil, o Sicoob Espírito Santo criou o Programa Financinhas nas Escolas, em que capacita os professores da rede pública de ensino na disciplina de educação financeira. Mais de 500 professores da rede pública de ensino do Espírito Santo terão a oportunidade de se capacitar para aplicar esse programa. Michelle Calmon, diretora operacional do Sicoob Conexão, afirma que: “Essa formação é muito importante para que o professor aprenda e conheça o nosso sistema de aprendizagem, que está completamente alinhado com a secretaria de educação do município”, finaliza.