Cooperativismo

Reguladores monitoram impacto de tragédia climática em cooperativas de crédito no RS

Das 79 cooperativas sediadas no Estado, 38 são do sistema Sicredi, com ativos em torno de R$ 121 bilhões, montante equivalente a 86% do total

Por Valor Econômico 22/05/2024 09h09
Reguladores monitoram impacto de tragédia climática em cooperativas de crédito no RS
Reguladores monitoram impacto de tragédia climática em cooperativas de crédito no RS - Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O impacto nas operações das 79 sedes de cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul ainda não foi totalmente contabilizado, mas o Banco Central (BC) e o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) acompanham de perto os desdobramentos da tragédia climática. A soma total de ativos das instituições é em torno de R$ 141 bilhões.

Segundo o diretor-executivo do FGCoop, Adriano Ricci, há nove cooperativas independentes em Porto Alegre e região metropolitana, como Canoas, Charqueadas e Sapiranga, que inspiram certa preocupação — justamente por não integrarem um sistema no qual receberiam apoio financeiro — e a autarquia deveria intervir para assegurar solvência, caso necessário. As instituições, porém, são de pequeno porte, e têm cerca de R$ 76 milhões de depósitos totais e R$ 111 milhões em suas carteiras de crédito.

“Como elas são muito pequenas em volume de negócios, e por estarem muito fortes no consignado, o impacto vai ser menor caso aconteça algum problema”, explica Ricci, que diz não acreditar na liquidação de nenhuma cooperativa neste momento. Além disso, as instituições poderiam ser incorporadas caso não apresentem resultados satisfatórios, movimento que já ocorre no cooperativismo há alguns anos.

Na semana passada, o BC diminuiu a exigência de capital e de recolhimento de depósitos compulsórios de bancos e cooperativas em operações no Estado. Também será possível deixar de registrar como ativos problemáticos, em seus balanços, as operações de crédito de clientes gaúchos afetados pelas chuvas que forem renegociadas.

As medidas, aprovadas em reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN), visam incentivar a oferta de crédito e minimizar o impacto econômico na região. Ao Valor, o BC informou que monitora constantemente o mercado bancário e “potenciais medidas adicionais, no âmbito das competências da BCB e do CMN, podem ser adotadas, a fim de manter o normal funcionamento dos mercados bancários”. Assim, medidas adicionais não foram descartadas.

Das 79 cooperativas sediadas no Estado, 38 são do sistema Sicredi, com ativos em torno de R$ 121 bilhões, montante equivalente a 86% do total. Ainda que seja um volume considerável, Ricci destaca que elas “têm resiliência, reservas e sistema para dar suporte, com mecanismos para fazer essa assistência”.

O Sicredi informou que “possui elevados níveis de liquidez e capitalização, tornando-o altamente resiliente. O sistema é composto por 104 cooperativas de crédito, cinco centrais regionais, Banco Cooperativo Sicredi, Confederação Sicredi e suas empresas controladas”.

A empresa também diz que, do total de associados nos municípios atingidos pelas enchentes, cerca de 1,5 milhão são pessoas físicas, 230 mil são pessoas jurídicas e 270 mil são produtores rurais. Das 672 agências no Rio Grande do Sul, apenas cinco estão fora de operação física.

Entre as principais medidas adotadas pelo Sicredi estão a postergação do vencimento das parcelas dos empréstimos e dos financiamentos feitos pelos associados, e o bloqueio dos protestos e negativações automáticas de títulos. Segundo a empresa, até o momento foram realizadas mais de 50 mil prorrogações de parcelas.

Já o sistema Sicoob, um dos maiores do país ao lado do Sicredi, tem apenas duas sedes de cooperativas no Rio Grande do Sul. A empresa afirma que a carteira total no Estado é de R$ 5,58 bilhões, dividida por 63,4 mil cooperados. Nos municípios atingidos são 50, 4 mil cooperados tomadores de crédito, entre eles 65% pessoas físicas e 35% pessoas jurídicas, que respondem por uma carteira de R$ 4,3 bilhões, 77% do total.

A companhia diz que continua em “frequente interlocução com o governo federal e Banco Central do Brasil, atento a todas as medidas emergenciais de apoio” e anunciou 13 medidas de suporte aos cooperados, entre elas linhas de crédito especiais a pessoa física, crédito rural, imobiliário e renegociação de dívidas.

Mas para realmente avaliar o tamanho da crise é preciso esperar os moradores retornarem às suas casas e as empresas voltarem a funcionar, ressalta o diretor-executivo do FGCoop. “As pessoas estão tentando sobreviver. Não tem comércio, não tem nada”, diz.

Por isso, uma das preocupações do FGCoop é a potencial corrida para saque de depósitos, o que está ligado à capacidade de liquidez das cooperativas. Até agora não houve registros desse comportamento, segundo Ricci, porque muitos moradores e pequenos empresários afetados pela tragédia ainda nem puderam calcular o que precisam para recomeçar.

Nesse sentido, a autarquia reitera a necessidade de inclusão das cooperativas na oferta de R$ 2 bilhões em crédito subsidiado às vítimas das enchentes via Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). As negociações seguem com o governo federal, já que apenas os bancos Caixa e Banco do Brasil podem realizar as operações.