Cooperativismo
Como o cooperativismo cuida da comunidade - por Marcelo Vieira Martins, CEO da Unicred União
As cooperativas jamais serão um organismo fechado em si mesmo, focado unicamente em autosobrevivência. Todas as cooperativas do mundo são guiadas por sete princípios definidos, e o compromisso com a comunidade é um deles.
Isso significa que a atuação do cooperativismo não se limitará aos ganhos dos cooperados. Ela se estende ao cenário social e ambiental ao redor, beneficiando até mesmo quem não se relaciona com a cooperativa diretamente.
Este compromisso é universal e não fica só no papel. Apesar de ser um valor inerente a todas, cada cooperativa tem sua forma de interação com a comunidade, dependendo do escopo e da estratégia. Destaco aqui três casos que particularmente me chamam a atenção e comprovam esse relacionamento:
No setor do agronegócio em escala industrial, cooperativas estão tomando a frente no compromisso de reduzir a emissão de gases estufa, causadores do aquecimento global. O cooperativismo do agro no Paraná fez movimentos claros nesta direção, e tem inspirado indústrias tradicionais. Um exemplo é a criação do grupo Unium, projeto conjunto das cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal. A Unium gerencia uma planta industrial de biodigestão: transforma os dejetos suínos em energia elétrica. Além de alimentar a rede com energia renovável, o processo retira da atmosfera milhões de metros cúbicos de gás metano por ano. Esse é um compromisso que ganha uma escala global, já que os efeitos da contaminação do ar não ficam restritos a uma localidade. Uma demonstração de respeito ao meio ambiente e às gerações que ainda virão – a comunidade do futuro.
No sertão de Pernambuco, a Coodapis é uma referência para encontrar soluções de plantio para a agricultura familiar em tempos de seca. E todas são partilhadas abertamente. Em uma espécie de laboratório de testes, a cooperativa desenvolveu um sistema pouco convencional de irrigação usando água da chuva e um pequeno poço. Aproveitou para criar tanques de piscicultura com a água coletada e desenhou uma máquina própria para produzir ração para os peixes. Essas tecnologias são compartilhadas com a comunidade que enfrenta a mesma seca – não apenas os cooperados. Todo sertanejo que quiser aprender a irrigar uma lavoura a partir de um olho d’água pode visitar a Coodapis. A máquina de ração, que poderia ter sido patenteada, também está disponível para ser copiada. O objetivo da cooperativa é gerar abundância para todo o sertão.
Na Unicred União, cooperativa onde atuo e que tem agências em Santa Catarina e no Paraná, criamos um braço para tratar especialmente do contato com a comunidade: o MotorCoop. O nosso compromisso está sustentado em responsabilidade social e ambiental. É do MotorCoop que partem iniciativas como atividades culturais e educação financeira gratuitas a mais de 5 mil estudantes de escolas públicas todo ano. Foi também o MotorCoop que viabilizou o investimento em usinas solares, que hoje abastece todas as agências da Unicred União com energia limpa.
Essas histórias dão contornos concretos ao princípio do Interesse pela Comunidade e explicam por que onde há cooperativas, há mais chances de uma coletividade receber suporte social. Uma característica chave para colocá-las em um papel estratégico no projeto de uma nova economia, que permita o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. E esta certeza não é apenas minha – já foi decretada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O cooperativismo protege a comunidade.
Se você tem interesse em se aprofundar nesse assunto, no meu novo livro Coopbook Soluções trago exemplos reais de como as cooperativas melhoram na prática a vida dos lugares onde atuam.
*Marcelo Vieira Martins é CEO da Unicred União