Cooperativismo

Como o cooperativismo cuida da comunidade - por Marcelo Vieira Martins, CEO da Unicred União

Por Marcelo Vieira Martins 05/06/2024 19h07
Como o cooperativismo cuida da comunidade - por Marcelo Vieira Martins, CEO da Unicred União
Marcelo Vieira Martins - Foto: Divulgação

As cooperativas jamais serão um organismo fechado em si mesmo, focado unicamente em autosobrevivência. Todas as cooperativas do mundo são guiadas por sete princípios definidos, e o compromisso com a comunidade é um deles.


Isso significa que a atuação do cooperativismo não se limitará aos ganhos dos cooperados. Ela se estende ao cenário social e ambiental ao redor, beneficiando até mesmo quem não se relaciona com a cooperativa diretamente.

Este compromisso é universal e não fica só no papel. Apesar de ser um valor inerente a todas, cada cooperativa tem sua forma de interação com a comunidade, dependendo do escopo e da estratégia. Destaco aqui três casos que particularmente me chamam a atenção e comprovam esse relacionamento:

No setor do agronegócio em escala industrial, cooperativas estão tomando a frente no compromisso de reduzir a emissão de gases estufa, causadores do aquecimento global. O cooperativismo do agro no Paraná fez movimentos claros nesta direção, e tem inspirado indústrias tradicionais. Um exemplo é a criação do grupo Unium, projeto conjunto das cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal. A Unium gerencia uma planta industrial de biodigestão: transforma os dejetos suínos em energia elétrica. Além de alimentar a rede com energia renovável, o processo retira da atmosfera milhões de metros cúbicos de gás metano por ano. Esse é um compromisso que ganha uma escala global, já que os efeitos da contaminação do ar não ficam restritos a uma localidade. Uma demonstração de respeito ao meio ambiente e às gerações que ainda virão – a comunidade do futuro.

No sertão de Pernambuco, a Coodapis é uma referência para encontrar soluções de plantio para a agricultura familiar em tempos de seca. E todas são partilhadas abertamente. Em uma espécie de laboratório de testes, a cooperativa desenvolveu um sistema pouco convencional de irrigação usando água da chuva e um pequeno poço. Aproveitou para criar tanques de piscicultura com a água coletada e desenhou uma máquina própria para produzir ração para os peixes. Essas tecnologias são compartilhadas com a comunidade que enfrenta a mesma seca – não apenas os cooperados. Todo sertanejo que quiser aprender a irrigar uma lavoura a partir de um olho d’água pode visitar a Coodapis. A máquina de ração, que poderia ter sido patenteada, também está disponível para ser copiada. O objetivo da cooperativa é gerar abundância para todo o sertão.

Na Unicred União, cooperativa onde atuo e que tem agências em Santa Catarina e no Paraná, criamos um braço para tratar especialmente do contato com a comunidade: o MotorCoop. O nosso compromisso está sustentado em responsabilidade social e ambiental. É do MotorCoop que partem iniciativas como atividades culturais e educação financeira gratuitas a mais de 5 mil estudantes de escolas públicas todo ano. Foi também o MotorCoop que viabilizou o investimento em usinas solares, que hoje abastece todas as agências da Unicred União com energia limpa.

Essas histórias dão contornos concretos ao princípio do Interesse pela Comunidade e explicam por que onde há cooperativas, há mais chances de uma coletividade receber suporte social. Uma característica chave para colocá-las em um papel estratégico no projeto de uma nova economia, que permita o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. E esta certeza não é apenas minha – já foi decretada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O cooperativismo protege a comunidade.

Se você tem interesse em se aprofundar nesse assunto, no meu novo livro Coopbook Soluções trago exemplos reais de como as cooperativas melhoram na prática a vida dos lugares onde atuam.

*Marcelo Vieira Martins é CEO da Unicred União