Cooperativismo
Crescimento das cooperativas financeiras reduz concentração bancária
O resultado foi um aumento de 163% na carteira de crédito de 2019 a 2023, para perto de R$ 392 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC)
Dados recentes do Banco Central comprovaram que a atuação das cooperativas de crédito e fintechs tem impulsionado o processo de redução da concentração bancária. Segundo o relatório, a tendência de aumento da participação destas instituições se manteve em 2023, com destaque para as cooperativas de crédito, que já ultrapassam a marca de 20 milhões de cooperados. De modo geral, as fintechs aumentaram de 1,5% para 2% sua participação no crédito, entre 2021 e 2023. E as cooperativas, de 6% para 6,8%.
Na contramão dos bancos, as cooperativas de crédito ampliaram sua presença física em 47% nos últimos cinco anos e seguem investindo na proximidade com os clientes para crescer no mercado brasileiro.
O resultado foi um aumento de 163% na carteira de crédito de 2019 a 2023, para perto de R$ 392 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). A alta foi muito superior à dos bancos comerciais, que têm enxugado a rede de agências e cuja carteira cresceu 60% no mesmo período, para R$ 3,2 trilhões.
Entre as medidas que ajudaram as cooperativas a ganharem projeção, está o anúncio de novas regras por parte do Conselho Monetário Nacional (CMN); diretrizes que vão de encontro com o desejo do Banco Central de aumentar a participação das cooperativas no total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Atualmente, o cooperativismo de crédito já apresenta resultados de crescimento acima dos 30%, gerando reações por parte de grandes instituições.
Segundo o BC, “esse movimento pode ser pela atuação das instituições não bancárias no mercado de cartão de crédito e de crédito sem consignação”. Já as cooperativas de crédito destacaram-se por sua atuação nos mercados de cheque especial e de capital de giro.
Figital
Entre os motores do crescimento, segundo as cooperativas, estão o impulso ao pequeno negócio, o “sentimento de dono” dos associados e as taxas de serviços atrativas – que em parte se viabilizam pelas isenções tributárias.
Apesar de 80% das operações financeiras serem através de canais digitais, as cooperativas se destacam por adotaram um modelo figital, onde o digital e o físico possuem igual importância e se complementam. a estratégia tem dado resultados, segundo o diretor presidente do Sicredi, César Bochi. O foco não é buscar eficiência, mas ter um local de “relacionamento, suporte e apoio financeiro”, diz. As instalações são mais simples se comparadas às agências bancárias, já que não armazenam alto volume monetário. “Hoje, a inclusão financeira é muito mais uma questão de letramento financeiro, entendimento e apoio do que de fato acesso à conta. E para isso nós temos que estar próximos”, afirma.
Pesquisas da cooperativa mostram que o acesso à agência física impulsiona o uso de produtos e outros serviços pelos cooperados, em média, em 25%, diz Bochi, ainda que 70% dos associados tenham realizado apenas transações digitais em 2023.
Ênio Meinen, diretor-executivo de coordenação sistêmica e relações institucionais do Sicoob, diz que o regionalismo e a visão comunitária levam as cooperativas a municípios pequenos, no interior do país. “Nossa estratégia de atuação em grandes cidades não é ficar no centro, ao lado dos ‘bancões’. É como se fosse uma comunidade do interior em que você vai avançando dos bairros em direção ao centro, não ao contrário”, diz.
A carteira de crédito do cooperativismo representa 6,9% do SFN, ante 4,4% em 2019. Já a carteira bancária caiu de 94% em 2019 para 90% em 2023. Hoje, os sistemas Sicredi e Sicoob são os maiores, com estoques de R$ 200 bilhões e R$ 140,6 bilhões, respectivamente. Em postos de atendimento, o número chega a 2,7 mil e 4,6 mil.
Concentração
Analisando as diferentes modalidades de crédito, a redução da concentração foi maior no mercado de operações com recebíveis (PJ). Também houve aumento do número de instituições financeiras ofertantes de capital de giro (PJ), de crédito pessoal sem consignação em folha (PF) e de cheque especial (PF + PJ). Essas linhas agora tem níveis de concentração consideradas moderadas.
As concentrações no crédito concedido por meio do capital de giro (PJ) e do crédito pessoal sem consignação em folha (PF) permaneceram baixas. O nível de concentração permanece elevado nos financiamentos rurais e agro (PF + PJ), nos financiamentos habitacionais (PF + PJ) e nos financiamentos de infraestrutura e desenvolvimento (PJ), cujos recursos são predominantemente direcionados.