Cooperativismo
Cooperativas fortalecem negócios através de propósito bem definido
Seja por meio da geração de emprego ou pelo estímulo ao comércio local, ao exercer suas atividades, as cooperativas acabam investindo recursos nas comunidades
A solidariedade está na essência do cooperativismo e orienta o nosso jeito de fazer negócios, gerar trabalho e renda. No coop, os resultados só fazem sentido com responsabilidade social, compromisso que diferencia as cooperativas das empresas convencionais e que fazem do nosso modelo a melhor opção para a economia do presente e do futuro, com atuação ética e sustentável.
Para as cooperativas brasileiras, a sustentabilidade não é apenas uma tendência, uma palavra bonita. É um compromisso essencial, um objetivo tanto econômico quanto social. Estudos comprovam que onde tem cooperativa, a economia local se desenvolve mais, com benefícios diretos para a comunidade.
Seja por meio da geração de emprego ou pelo estímulo ao comércio local, ao exercer suas atividades, as cooperativas acabam investindo recursos nas comunidades. E algumas coops vão além, impactando ainda mais a fundo a vida de cada indivíduo e construindo laços entre pessoas.
Quando o Rio Grande do Sul passou por inundações causadas pelas fortes chuvas que atingiram o estado em maio deste ano, o movimento cooperativista prontamente se uniu para trabalhar pela reconstrução do que foi perdido. As ações seguem em andamento e mobilizam os sete ramos, seja por meio de doações, parcerias com entidades e prefeituras, oferta de recursos emergenciais e presença física em centros de distribuição.
Respeito à tradição
O cooperativismo é a melhor alternativa para quem deseja fazer negócios de forma honesta, digna e com respeito à diversidade.
Foi assim que surgiu, em fevereiro de 2019, a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte, a Coopaflora. A coop abraça a pluralidade dos povos indígenas, quilombolas e assentados dos municípios de Alenquer e Oriximiná, no Pará; e de Nhamundá, no Amazonas.
A região de atuação da Coopaflora é considerada uma das mais conservadas da Amazônia brasileira. E a cooperativa tem participação direta nisso, por promover a extração sustentável de frutos como pimenta, cumaru, andiroba e copaíba. Os processos são realizados seguindo a tradição indígena, em uma jornada que requer preparo e experiência, como na extração da castanha-do-pará, quando os extrativistas passam dias na mata buscando os frutos da castanheira.
Em pouco mais de cinco anos, a cooperativa passou de 36 para 100 cooperados. Segundo a presidente da Coopaflora, Daiana Silva, aproximadamente 400 famílias se beneficiam das atividades nos territórios onde a coop está. “Manter a floresta em pé gera uma economia sustentável”, afirma.
“O cooperativismo dá oportunidade para várias famílias venderem o que produzem de forma digna e ética, valorizando a todos”, complementa Daiana. Exemplo disso é a rastreabilidade dos frutos: quem compra castanha da Coopaflora consegue identificar a história por trás daquele produto, de qual território ele saiu, se quilombola ou indígena, e como chegou ao mercado.
Esse tipo de informação é cada vez mais valorizado pelo consumidor consciente. Segundo a especialista em estratégia empresarial e sustentabilidade Claudia Leite, o propósito de um negócio gera sensação de confiança entre os envolvidos. “É a razão fundamental para que aquela organização exista, a diferença que ela faz no mundo. É aquilo que ela executa todos os dias para gerar valor para todos aqueles que impactam ou são impactados no negócio”, destaca Claudia. “E gerar valor para o negócio aumenta valor de mercado, reputação, retorno financeiro e crescimento”, acrescenta.
Construindo propósito
Mas qual o caminho para chegar a negócios com propósito? De acordo com a especialista, o primeiro passo é definir qual a cultura e as políticas organizacionais que vão nesse sentido, e nisso o cooperativismo sai na frente, porque é um sistema econômico baseado em princípios. “Eu vejo o cooperativismo como uma gestão virtuosa que, na essência, já nasce a partir de seus princípios, de seus valores, muito alinhado com aquilo que se espera do propósito de uma organização”, afirma.
Segundo Claudia Leite, a cultura de um negócio tem a ver com normas e valores que vão determinar como os colaboradores e demais participantes irão agir. Ela orienta tanto o comportamento interno quanto a relação com os consumidores e a comunidade. E tudo isso precisa ser refletido em ações, para que a sustentabilidade seja, de fato, uma realidade, não apenas uma aspiração ou uma maquiagem de responsabilidade social e ambiental.
No mercado, há um termo para quem cria ações sustentáveis de pouca ou nenhuma aplicação prática: greenwashing. São geralmente marcas que fazem marketing sobre suas ações de sustentabilidade, mas não conseguem comprová-las com certificações de sustentabilidade reconhecidas nem oferecem meios de provas práticas de preservação do meio ambiente e respeito às pessoas.
O cooperativismo, por essência, sabe disso e preza por iniciativas sólidas e verdadeiramente conscientes. “É um modelo de negócios que é essencialmente sustentável e também correto em toda a maneira que ele faz essa gestão e esse compartilhamento das responsabilidades. No cooperativismo de crédito, por exemplo, há o compartilhamento inclusive dos resultados”, pondera a especialista.
Oportunidade para todos
A Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) também é exemplo de coop que surgiu com propósito. Formada por mulheres custodiadas do sistema penitenciário em Ananindeua (PA), a Coostafe nasceu do sonho da diretora do Centro de Recuperação Feminino, Carmen Botelho, em 2014.
Sensibilizada com as condições de vida das mulheres e o interesse delas em estudar e trabalhar, Carmen se mobilizou e, com apoio do Sistema OCB/PA, criou a cooperativa na intenção de gerar trabalho e renda para que elas pudessem sustentar suas famílias.
Tudo começou com um curso de qualificação profissional de artesanato. Após a formação, as cooperadas começaram a produzir suas peças com máquinas de costura doadas por uma cooperativa da Polícia Militar local. Todo o material criado foi vendido em uma feira e o valor arrecadado foi inteiramente distribuído entre as novas empreendedoras.
Atualmente, a Coostafe é formada por cerca de 30 mulheres em privação de liberdade que trabalham na criação de peças de artesanato, costura, pintura e bordado. A produção é vendida em feiras e mostras de artesanato em todo o estado. Mais de 200 mulheres já participaram da cooperativa desde a sua fundação.