Cooperativismo
Cooperativismo no G20: um marco para o Brasil e o mundo
Desde 2008, simultaneamente com a Cúpula anual, acontece o G20 Social, que integra a sociedade civil nos debates do G20
Em novembro de 2024, a 19ª Cúpula do G20 aconteceu no Brasil, reunindo as maiores economias do mundo para firmar compromissos em diversas frentes, como combate à fome, justiça tributária e transição energética. Nesse contexto, foi lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que busca erradicar a fome até 2030, atingindo 500 milhões de pessoas com programas de transferência de renda e refeições escolares. O documento final também reforçou metas ambientais urgentes, como a redução de emissões e o aumento da capacidade de energia renovável, além de abordar questões sociais, como igualdade de gênero e proteção aos trabalhadores.
A taxação de grandes fortunas também foi proposta, com objetivo de para financiar transformações globais e a defesa de reformas em instituições como o Conselho de Segurança da ONU, visando maior representatividade. A inclusão de temas como saneamento básico e governança da inteligência artificial também trouxe inovação ao encontro.
G20 SOCIAL: COOPERATIVISMO E O COMBATE À DESIGUALDADE
Desde 2008, simultaneamente com a Cúpula anual, acontece o G20 Social, que integra a sociedade civil nos debates do G20. Nessa edição, a mesa “Micro e Pequenas Empresas, Cooperativismo e Bioeconomia: o caminho para a valorização da sociobiodiversidade” ganhou destaque.
Abdul Nasser, CEO do Sistema OCB-SESCOOP/RJ, participante da mesa, conta que o convite partiu do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP) e que o setor foi apresentado como uma favorável alternativa aos desafios globais. “Defendemos que o cooperativismo é um caminho, uma plataforma capaz de promover o desenvolvimento social equilibrado e focado também no ambiental”, comenta
Essa abordagem demonstra que cooperativas podem e devem assumir o papel de protagonistas na construção de um futuro mais equitativo, alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Mais do que nunca, o setor se apresenta como um meio viável e necessário para responder às crises sociais, econômicas e ambientais que o mundo enfrenta.
Nasser aponta que esse é um modelo econômico que distribui riqueza, diferentemente de outros que a concentra na mão de poucos. “O cooperativismo consegue escalar a ponto de disputar espaço com mega empresas, mas distribuindo renda, fixando ela em quem a gera e localmente”, explica.
SUSTENTABILIDADE NO TOPO
Com o foco em pessoas, as cooperativas não se distanciam da sustentabilidade, e estão sempre buscando integrar práticas ambientais, sociais e econômicas em suas operações. Exemplo disso é o “Gerações”, protocolo da Cooxupé, uma das maiores cooperativas de café do mundo, que incentiva os produtores associados a seguirem compromissos sustentáveis. A iniciativa foi reconhecida recentemente pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) como um Programa de Promoção de Boas Práticas Agrícolas.
Além disso, o cooperativismo traz importante financiamentos a projetos verdes. Instituições como o Sicredi e a Cresol têm viabilizado a transição para uma economia de baixo carbono, promovendo investimentos em energia renovável, restauração de ecossistemas e agricultura sustentável. O compromisso com a sustentabilidade do setor chegou às Nações Unidas, e o cooperativismo participou ativamente em Baku, no Azerbaijão, na COP29 desse ano, em painéis sobre combate às mudanças climáticas no setor agrícola e finanças sustentáveis.
DESAFIOS
Mesmo se mostrando capaz de liderar o movimento para atingir as metas da aliança global através de um desenvolvimento sustentável, o cooperativismo enfrenta barreiras significativas no Brasil.
Segundo Nasser, a tributação ainda desfavorece as cooperativas em relação a outras formas de organização econômica, como o MEI e o Simples Nacional. “O estado brasileiro criou uma estrutura que torna o empreendedorismo individual mais vantajoso do que o cooperativo. Isso é um grande desafio para que as cooperativas possam cumprir os objetivos do G20”, destacou.
Outro desafio apontado pelo CEO do Sistema OCB-SESCOOP/RJ é a necessidade de promover educação empreendedora, capacitando indivíduos não apenas com conhecimentos técnicos, mas também com habilidades para liderar iniciativas cooperativas.
O LEGADO DO G20 E OPORTUNIDADES
Ao mesmo tempo em que se apresentam desafios, o G20 Social consolidou o cooperativismo como um aliado estratégico nas discussões globais sobre justiça social e sustentabilidade, sendo a escolha do Brasil para sediar o evento e uma abertura de portas para o setor seguir, cada vez mais, a sua essência de priorizar conexões e o meio ambiente.
O encontro também ressaltou o papel do país como líder nas soluções para os desafios globais, reforçando a relevância de um modelo econômico que une prosperidade econômica, equidade social e proteção ambiental. Para o segmento, isso significa não apenas fortalecer sua atuação interna, mas também exportar suas práticas bem-sucedidas para outros países, mostrando como a união de forças e a gestão participativa podem transformar realidades e criar novas oportunidades de desenvolvimento.
Com a COP30 programada para ocorrer em 2025 também no Brasil, o país tem uma nova oportunidade de mostrar ao mundo como o cooperativismo pode liderar soluções em questões ambientais e sociais. Essa conexão entre eventos globais fortalece ainda mais a posição do Brasil e do movimento cooperativista no cenário internacional. “Queremos as cooperativas como uma plataforma de erradicação da miséria extrema, da fome como instrumento de distribuição de riquezas”, conclui Nasser.