Cooperativismo
Cresce número de brasileiros que utilizam cooperativas como principal instituição financeira
As cooperativas de crédito são instituições reguladas pelo Banco Central que prestam serviços exclusivamente aos seus associados
Cada vez mais companhias e consumidores estão usando as cooperativas de crédito como a sua instituição financeira principal, mostrou um estudo da consultoria Bain & Company. As cooperativas de crédito eram a instituição principal de 6% das empresas em 2020 e passaram a ser de 9% em 2024. Já entre as pessoas físicas, o avanço foi de 2% para 3% nesse intervalo. O estudo foi feito com 80 mil negócios e 70 mil pessoas.
As cooperativas de crédito são instituições reguladas pelo Banco Central que prestam serviços exclusivamente aos seus associados. Os cooperados são os donos e ao mesmo tempo os usuários dos serviços, que são parecidos com os disponíveis nos bancos, como cartões, contas, empréstimos, financiamentos e investimentos. O atendimento em geral é mais personalizado e as condições dos produtos e serviços, melhores e mais baratas.
Os associados fazem parte da gestão das cooperativas, que não visam lucro. Os resultados são repartidos entre os cooperados, mas eles estão sujeitos a participar da divisão das eventuais perdas. As cooperativas estão ampliando os cooperados e a representatividade no sistema financeiro: o Brasil conta com 19 milhões de cooperados, o equivalente a 9% da população.
A análise da Bain & Company mostrou também que o NPS, a métrica que mede quanto os clientes estão satisfeitos, é em média maior nas cooperativas do que nos bancos tradicionais e similar à métrica dos bancos digitais. O NPS médio foi de 65 nas cooperativas de crédito, 53 nas instituições tradicionais e 66 nos bancos digitais nos últimos 12 meses encerrados em junho de 2024.
O atendimento humano tem sustentado esse resultado, porque os associados das cooperativas interagem mais e melhor com os gerentes das agências do que os clientes das instituições tradicionais: 37% dos associados das cooperativas usam as agências, ante 25% dos clientes das instituições tradicionais; e 60% dos cooperados usam os gerentes, contra 52% das consumidores das instituições tradicionais.
A métrica de satisfação dos clientes com as agências é de 61 nas cooperativas e de 39 nas instituições tradicionais. Já a métrica de satisfação com os gerentes é de 69 nas cooperativas e de 59 nos bancos.
Esse relacionamento mais próximo é fruto da alta capilaridade das cooperativas em regiões de menor densidade e do senso de pertencimento dos cooperados, na análise de João Correa, sócio da Bain & Company e especialista em serviços financeiros. Ainda, o avanço das cooperativas como instituição principal está ocorrendo porque o discurso comercial delas explora as taxas atrativas e a distribuição dos resultados aos cooperados.
Além disso, ele avalia que a oferta de produtos e serviços evoluiu nas cooperativas de maneira significativa e já se aproxima do que os bancos oferecem, apesar de diferenças pontuais, principalmente em investimentos.
“Apesar desse crescimento, a penetração de cooperativas de crédito na economia é inferior à que vemos em países com modelo de cooperativismo mais desenvolvido“, afirma. “As cooperativas têm avançado de forma significativa, mas alguns fatores podem limitar esse crescimento. Um deles é a capacidade de engajar a nova geração de consumidores, que valoriza menos diferenciais das cooperativas como o atendimento humano“, diz. Correa acrescenta que ainda é um desafio replicar o sucesso do modelo do interior nos grandes centros urbanos.
Conforme o executivo, as cooperativas de crédito evoluem mais entre os negócios do que entre as pessoas físicas porque as empresas têm necessidades de serviços financeiros mais complexos e de um atendimento mais humano e próximo. Ainda, a competição no mercado de pessoa física é mais agressiva e os bancos digitais evoluem mais entre esse público, até no interior do país.
Cinco pontos para entender o crescimento do setor
Relacionamento próximo: Alta capilaridade e presença em regiões do interior e de menor densidade; proximidade do cliente e senso de pertencimento e comunidade; flexibilidade de atuação na ponta
Vantagens do cooperativismo: discurso comercial explorando benefícios do cooperativismo como distribuição das “sobras” e taxas atrativas
Diminuição do gap digital e alavancagem do canal humano: melhora da experiência digital aliada a uma excelente experiência pessoal e na agência
Fechamento do gap de produtos: oferta de cooperativas evoluíram de maneira significativa nos últimos anos e já se aproxima da oferta de bancos para clientes PF e PJ
Consolidação: movimentos de incorporação das cooperativas singulares geram mais competitividade e escala.