Cooperativismo
Cooperativas se destacam na valorização do diálogo entre as gerações
Entre as estratégias para lidar com os desafios geracionais estão os programas, encontros, conscientização e práticas para combater o preconceito
As cooperativas têm desenvolvido projetos, programas, encontros e práticas com o objetivo de melhorar os relacionamentos entre as várias gerações e ampliar a diversidade em seus quadros de colaboradores e cooperados.
Suas ações refletem o compromisso em construir um futuro mais inclusivo e sustentável, mostrando que a diversidade etária e o diálogo geracional não são apenas valores, mas vantagens competitivas.
Algumas delas, como a Coplacana, criou o Núcleo Jovem Coplacana para que as novas gerações tivessem interesse no universo das cooperativas e nas áreas agrícolas por meio do diálogo e de encontros com os cooperados mais antigos.
Outro programa que aproxima os associados em suas várias gerações é o projeto Juventude Cooperativista da Cresol, que divulga o movimento nas escolas. Ele serve de ponte entre as instituições, o público mais maduro e os jovens.
Além, dele, os projetos educacionais “Juventude Cooperativista”, “Empreendedorismo”, “Sucessão Familiar” e “Juventude Protagonista” da Cresol realizam trabalhos mensais com os estudantes do ensino médio, abordando temas como liderança, educação financeira, cooperativista e troca de experiências intergeracionais.
Para estimular ainda mais essa relação, o Sistema OCB constituiu o Comitê Nacional de Jovens em 2021, com o objetivo de atrair mais jovens para o cooperativismo e ampliar a relação dos jovens com os 50+.
Carina Melo, gerente de pessoas do Sistema OCB, conta que o cooperativismo tem muito a ensinar sobre a diversidade e a inclusão. Para ela, eliminar o preconceito etário é essencial na construção de um ambiente mais justo, diverso e inclusivo. Além disso, os mais experientes têm muito a contribuir com sua vivência, resiliência e visão estratégica.
“O movimento valoriza o capital humano em todas as suas formas, incluindo a experiência e a sabedoria. O assunto é enfrentado pelas organizações com a promoção de uma cultura de respeito e valorização das diferentes gerações, reconhecendo que a troca intergeracional enriquece e fortalece os resultados”, completa.
EDUCAÇÃO E CONTEÚDO PARA AS REDES SOCIAIS
Quando o assunto é trazido para a esfera corporativa, as cooperativas têm oferecido soluções interessantes, como é o caso da Quanta Previdência.
A organização tem integrado as gerações com base em dois pilares estratégicos, a produção e a disseminação de conteúdo sobre etarismo e longevidade.
“Assumimos o compromisso de educar e conscientizar o mercado sobre o impacto do etarismo, promovendo a valorização da diversidade etária, por meio de palestras, postagens em redes sociais e lançamentos de livros”, exemplifica Denise Maidanchen, CEO da Quanta Previdência, Diretora do ICSS/Abrapp e autora do livro “Economia Prateada o poder da longevidade no mundo dos negócios”.
O quadro de colaboradores da cooperativa é formado por profissionais de cinco gerações, promovendo uma troca constante de conhecimentos e experiências.
“Mantemos vagas abertas para o público 50+ buscando ativamente talentos dessa faixa etária. Também oferecemos qualificação contínua, com treinamentos e programas que capacitam os colaboradores a se adaptarem às demandas do mercado em constante evolução”, conta Denise.
Ela acredita que as cooperativas podem assumir um papel de liderança ao implementar práticas de contratação inclusivas, criando ambientes em que diferentes gerações colaboram em projetos conjuntos.
“Com treinamentos regulares em novas tecnologias e práticas de mercado, elas podem garantir que todos os colaboradores, independentemente da idade, mantenham-se atualizados. Suas presenças podem servir de mentoria para os mais jovens, promovendo a troca de conhecimentos e fortalecendo os laços intergeracionais”, lembra Maidanchen.
DIVERSIDADE GERACIONAL E EFICIÊNCIA NOS NEGÓCIOS
As empresas e as cooperativas já perceberam que ter em suas equipes funcionários mais maduros oferece significativas vantagens para a marca.
A experiência e o conhecimento acumulado por esses profissionais podem resultar em maior eficiência, inovação e qualidade nos serviços prestados. Pois, eles costumam ter uma visão mais madura, o que pode ajudar na tomada de decisões estratégicas e na resolução de problemas complexos.
Além disso, a diversidade etária melhora a dinâmica do grupo, promovendo um ambiente mais colaborativo e harmonioso.
Fran Winandy, psicóloga com MBA em RH e autora do livro “Etarismo: Um novo nome para um velho preconceito” da editora Matrix, relata que quanto a cooperativa adota a inclusão de colaboradores mais velhos e estimula o diálogo entre as gerações, isso fortalece a sua reputação, como um lugar que respeita e valoriza todos os seus membros, independentemente da idade.
“A organização se diferencia no mercado, tornando-se mais atraente para talentos de diversas faixas etárias e contribuindo para a construção de uma cultura organizacional positiva”, completa a especialista.
O tema do preconceito etário nas cooperativas pode ser tratado de maneiras variadas, dependendo da cultura organizacional e das políticas de cada instituição.
“Algumas já implementam iniciativas para promover a inclusão de colaboradores mais velhos, como programas de capacitação, campanhas de conscientização e práticas de recrutamento que valorizam a diversidade etária. No entanto, muitas ainda enfrentam desafios, como estereótipos negativos e resistência à mudança, que podem dificultar a plena inclusão desses profissionais”, lembra a autora.
O COMBATE AO ETARISMO
Para que o diálogo geracional ocorra é necessário combater o etarismo, adotando uma abordagem proativa e abrangente conduzida por profissional que conheça profundamente o tema.
Desenvolver a interação entre as diversas gerações dentro dos quadros de colaboradores das cooperativas pode ajudar, além de incentivá-los a adaptação aos novos tempos e a atualização de conhecimentos.
Várias estratégias podem ser absorvidas nesse processo, desde a oferta de programas de capacitação, treinamentos regulares, que abordem as novas tecnologias, tendências de mercado e habilidades necessárias para o desenvolvimento profissional.
“As cooperativas podem promover uma cultura de aprendizado, onde a troca de conhecimentos entre os membros é incentivada. Isso pode ser feito por meio de grupos de estudo, sessões de brainstorming e discussões em equipe”, ensina Fran.
É fundamental que as organizações também implementem políticas e práticas na promoção da diversidade etária, assegurando que todos os colaboradores, independentemente da idade, tenham oportunidades iguais de emprego, desenvolvimento e crescimento.
“O primeiro passo é trabalhar a conscientização interna e desmistificar os estereótipos negativos associados ao envelhecimento. Em seguida, criar políticas de recrutamento que valorizem a diversidade etária e implementar programas de capacitação e formação contínua”, completa Winandy.
Por fim, e não menos importante, é fundamental que as lideranças demonstrem um compromisso genuíno com a inclusão etária, promovendo uma cultura organizacional que valorize o diálogo e respeite todas as idades, contribuindo assim para um ambiente de trabalho mais justo e produtivo.
A FALTA DE MÉTRICAS
Apesar das conquistas, muitos esforços ainda precisam ser realizados para que todas as empresas e cooperativas incluam todas as gerações.
A segunda edição da pesquisa do Robert Half e da Labora sobre etarismo de 2024 apontou como um dos principais problemas a falta de métricas para medir os avanços das empresas em suas ações sobre esse público.
Os pesquisadores ouviram 387 profissionais com emprego, 387 profissionais em busca de recolocação de 387 empresas em junho deste ano. Eles constataram que apesar dos progressos, 70% das empresas não possuem indicadores claros sobre o etarismo nas empresas.
Sergio Serapião, fundador e CEO da Labora explica que a ausência de métricas de sete em cada dez organizações brasileiras é preocupante, pois sem os dados fica difícil planejar ações futuras.
Entre os desempregados, 66% veem o preconceito etário como o principal obstáculo para retornar ao mercado de trabalho e 63% dos empregados acham que a empresa não dá importância ao assunto.
O estudo mostrou que 77% das empresas não têm iniciativas para aumentar a diversidade geracional em seus processos seletivos e apenas 39% estão discutindo a implementação de medidas nesse sentido.
Entre os principais obstáculos apontados na pesquisa, 32% levantaram o tema do conflito entre as gerações e 29% as dificuldades de comunicação e integração entre as gerações.
Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half da América do Sul, lembra que apesar de ainda serem práticas pouco disseminadas, empresas inovadoras, que adotaram processos seletivos afirmativos relatam bons resultados, com 81% das organizações considerando-as eficazes.